quarta-feira, 18 de agosto de 2010

VAMOS COMER CAETANO! (18/08)

...vamos comê-lo cru!

Adriana Calcanhotto já fez música se deliciando na degustação de cada parte sua; Djavan criou o verbo "caetanear" no meio de sua "Sina" e a própria Maria Bethânia, em meio a seus shows e profusões de divindades, cita-o como uma espécie de semideus junto a seus tão poderosos orixás. Caetano Veloso, um outrora tímido rapaz que, graças à oportunidade de se apresentar ao Brasil (feita pela irmã Bethânia), pôde mostrar que tinha muito mais a dizer e ser ouvido e hoje se consagra como um dos maiores compositores já existentes, com uma relevância indescritível para a música brasileira - e com reflexo nas de outras nações também.
Caetano tem um percurso muito único na música popular brasileira. Criou hinos de revolta política panfletária; fundou movimentos musicais (Tropicalismo); fez com Gilberto Gil uma das parcerias mais intelectuais e afinadas em termos de composição, e, unindo ainda sua irmã e Gal Costa (as cantoras que mais lhe interpretaram, até hoje), compôs o quarteto hippie dos anos 70 "Doces Bárbaros", conquistadores de público e crítica. A partir da década de 80 proliferou-se no exterior, tendo sua música alcançado diversos países. Isso, é claro, sem contar a infinidade de músicas que se popularizaram como hits em coletâneas, filmes, novelas...
Alguns torcem o nariz pra seu jeito de agora, mais "soberbo" ou sem tanta paciência. Outros, contudo, constatam: o cara tem uma opinião que vale ouro. Passou pelo crivo de Caetano, pode esperar que é coisa boa. Abençoa novatos, opina com propriedade sobre trabalhos de colegas. É ser chique, ser cult, é demonstração de nível elevado mostrar que gosta do compositor e que acata suas opiniões como fiéis seguidores da escola 'boa cultura de ser", tendo o baiano como referência intelectual. Uma espécie de religião Caetano que, como as doutrinas religiosas, provoca polêmicas e não consegue fidelizar todo mundo, mas que ainda assim tenta, de tempos em tempos, convocar mais seguidores...
Eu me situo no cantinho mais confortável e contemplador da parte de cima do muro. Gosto dele, acho que tem talento e capacidade de criar coisas que acabam se tornando lendárias, mas também vejo que existe gente com tanto talento quanto, o que dismistifica essa coisa de "Deus". Admiro bem mais sua trajetória e prefiro os hinos da época da ditadura e de todos aqueles anos difíceis do que escutá-lo, hoje, dando suas declarações bombásticas sobre assuntos diversos (política, no topo). É aquela coisa: gostava mais do moço quando "fazia". Língua ferina todos nós temos...
Fiquemos então, pois, com um dos pontos mais fortes do cantor. A música "Alegria Alegria" enfoca elementos culturais do exterior e pincela em pontos beligerantes tão críticos naquele tempo (década de 60). Provocou, quando foi apresentada (1967, num dos grandes festivais típicos da época) uma estranheza inicial e um discreto sentimento xenófobo, mas que logo foram substuídos pela "alegria' propriamente dita. É uma música totalmente cinematográfica - "letra-cãmera-na-mão" como bem definiu Décio Pignatari. Fora ainda dos marcos iniciais do tropicalismo e tema de abertura da novela Sem Lenço Sem Documento (1977) e da minissérie Anos Rebeldes (1992). Vamos então à letra e ao vídeo, para que tirem vocês mesmos as próprias conclusões sobre o que Caetano de fato representa.


Semideus?



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ALEGRIA ALEGRIA
Caetano Veloso

Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou...

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou...

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot...

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não...

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou...

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil...

Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou...

Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou...

Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...



TH - Sigamos, pois...

14 comentários:

  1. Nha... eu acho que o Caetano fala muita bosta... e as músicas atuais dele não são tão boas, assim, pra esse status de semi-deus, não... eu também fico apenas com o material artístico dos anos de chumbo...

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  2. assino em baixo ao q o Tom comentou ... perfeito ...

    bora pro encontrão cara ... aí vc vai ver se a ilustração retrata ou não a realidade ... rs ...

    atualmente o Scisor Sisters é meu sonho de consumo ... ai ai ... o vocalista JS é diliiiiiça ... rs

    bjux

    ;-)

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  3. Eu ouço muitíssimo pouco, mas achei o texto genial, soube dar uma cadência de idéias sobre o cara. Parabéns!

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  4. sabe aquele história de vinho quanto mais velho melhor? acho que não cabe a Caetano. tb gosto mais dos tempos da ditadura, da tropicalia. esse ano fui ao show do mesmo em bh e ficou uma decepção total. ao ponto de fãs de carteirinha sairem antes do final da apresentação. considero o cara um tremendo cantor, mas não um dos cinco melhores do país.

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  5. Opino ou não opino? Caetano, como você bem disse, virou uma espécie de grife na música popular brasileira. Realmente, afirmar,em público, ser admirador da música do irmão de Bethânia é conferir a si mesmo, no mínimo, algum respeito proveniente da intelectualidade alheia. Well, well, well, Gabriel... Eu que não sou nada afeito a "panelinhas", na música ou fora dela, nunca tive olhos especiais para Caetano. Gosto, ponto. Não o amo, nem o venero, muito menos o considero a última nota da partitura. Reconheço, evidentemente, seu papel na nossa história musical, mas prefiro pessoas outras, de presença mais amistosa, ares mais simples e tanto talento quanto.
    A título de predileção no repertório do cantor, fico com a minha terna e queridíssima "Leãozinho"! =)

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  6. Show de bola teu post, TH (como sempre)!
    Adoro Caetano e acho q ele pode até não ser considerado um bom cantor, mas só o fato de ter retratado a cidade de São Paulo com tamanha sensibilidade e verdade, como nenhum outro compositor conseguiu, já faz dele o melhor!!
    Bjos.
    (Ah...já consertei meu formulário de comentários! Template novo é um caos... brigadão pelo comentário na comu.)

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  7. Dan, vc ainda não esqueceu o Well, well, well, Gabriel...!? Muito bom! =)
    A título de curiosidade, uma professora de português comentou certo dia que o verso "Sem lenço sem documento" na verdade significa "Sem LSD"... =)

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  8. Grazi, que bela observação você fez!
    Parabéns, moça.

    Obrigado pelos comentários pessoal!

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  9. Gosto do Caetano cantando, mas não falando...rs

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  10. Caetano é um cantor maravilhoso, mas semideus, definitivamente não. Sua irmão, Bethânia, sim, é uma semideusa... rs Confesso que gosto mto de Caetano, embora ache que ele esteja ficando meio chato com a chegada da terceira idade. Mas sem dúvida é um dos nossos maiores artistas.

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  11. Caetano é um poeta da MPB, mas se ele fosse um semi-deus não cairia do palco... hehehehe

    abraços!

    obs.: adorei seu blog! quando der, visite o meu!

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  12. Amo o Caetano. Até o seu sorriso é canção.
    Guardo comigo um de seus versos, entre tantos e muitos , o contido na música "dom de iludir", qual seja: "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é "

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  13. Vim visitar o Blog e encontrei a mim mesma , rssssss Ótima Leitura em tantos posts. Revisitei vários . Muito bom!

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  14. "Cinema transcendental" é um dos melhores discos que eu já ouvi.

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