quinta-feira, 31 de março de 2011

RANKING - ATUALIZAÇÃO MENSAL (Março 2011)



Março sempre foi um mês especial pra mim.
Além de ser meu aniversário, eu gosto dele! Começa o outono, o ano engrena...além do carnaval de vez em quando (como foi nesse 2011) ser nele.
O EnTHulho recuperou o fôlego perdido em Fevereiro, a despeito da escolha de Alceu Valença como artista do mês ter desempolgado muitos...mas eu precisava, neste início de São Paulo, resgatar minhas raízes nordestinas e consegui usar o mestre pernambucano pra isso!
As listas que eu fiz (Bouquet de canção para as mulheres e a nova cara feminina da MPB) fizeram parte da série de homenagens que fiz ao sexo feminino - mais um motivo pra eu adorar Março, que é o mês delas!
Rita Lee se fez presente duas vezes (uma delas, indicada pelo querido amigo musical Vitor Santos). Roberta Sá, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana e Cássia Eller (indicada pelo amigo Thiago Lemos) complementaram o mês.
Também marcou a estreia do canal "EnTHulho Musical" no Youtube. A ideia ainda está embrionária, mas prometo oferecer combustível para que engrene e vingue! Por ora, entre clicando aqui.
Agradecendo também a chegada de novos visitantes. Alguns vieram graças à entrevista concedida ao blog do Serginho Tavares neste mês. Leia aqui.
Abril vem aí com muita emoção, pois desde já anuncio: Guilherme Arantes é o artista do próximo mês. Para isso, contarei com a ajuda especialíssima de Grazi Ella Feliz Ares, fã incondicional do cantor para poder me ajudar nas matérias. Grazi escreve muitíssimo bem e terá inúmeras histórias do ídolo para compartilhar conosco. Vai perder?


Vamos ao ranking do mês!


Matérias sobre Alceu Valença em Março (clique pra conferir)


Azul: subiram posição
Preto: mantiveram posição
Vermelho: desceram posição
Azul-claro: estreias


1º CHICO BUARQUE – 17 músicas (=)
2ª ZÉLIA DUNCAN - 17 músicas (=)
3ª CÁSSIA ELLER – 12 músicas (+2)
4ª RITA LEE – 12 músicas (+4)
5ª MOSKA - 12 músicas (-2)
6ª ADRIANA CALCANHOTTO – 11 músicas (-2)
7ª MARIA BETHÂNIA - 11 músicas (-1)
8ª MARISA MONTE - 10 músicas (-1)
9º ALCEU VALENÇA - 9 músicas (+24)
10º DJAVAN - 9 músicas (-1)
11ª ELIS REGINA - 9 músicas (-1)
12ª GAL COSTA - 9 músicas (-1)
13ª MARINA LIMA - 9 músicas (-1)
14º CAETANO VELOSO - 8 músicas (-1)
15º LENINE - 8 músicas (-1)
16º CAZUZA - 7 músicas (-1)
17º GUILHERME ARANTES - 7 músicas (-1)
18º LEGIÃO URBANA - 7 músicas (+2)
19º MILTON NASCIMENTO – 7 músicas (-2)
20ª VANESSA DA MATA - 7 músicas (-2)
21ª ANA CAROLINA - 6 músicas (-2)
22º NANDO REIS - 6 músicas (-1)
23ª NARA LEÃO – 6 músicas (-1)
24º NEY MATOGROSSO – 6 músicas (-1)
25º OS PARALAMAS DO SUCESSO - 6 músicas (+3)
26ª DANIELA MERCURY - 5 músicas (-2)
27ª ELIANA PRINTES - 5 músicas (-2)
28º GILBERTO GIL - 5 músicas (-2)
29ª NANA CAYMMI - 5 músicas (-2)
30ª SIMONE - 5 músicas (-1)
31º TOQUINHO - 5 músicas (-1)
32º VINICIUS DE MORAIS - 5 músicas (-1)
33º ZECA BALEIRO - 5 músicas (-1)
34º ZÉ RAMALHO - 5 músicas (+9)
35º ENGENHEIROS DO HAWAII - 4 músicas (-1)
36º FLÁVIO VENTURINI - 4 músicas (-1)
37º GONZAGUINHA – 4 músicas (-1)
38º OS MUTANTES - 4 músicas (-1)
39º RAUL SEIXAS - 4 músicas (-)
40ª ROBERTA SÁ - 4 músicas (+17)
41º ROBERTO CARLOS – 4 músicas (-2)
42º SKANK - 4 músicas (-2)
43ª MEMÓRIA INFANTIL: XUXA - 4 músicas (-2)
44º MEMÓRIA INFANTIL: BALÃO MÁGICO - 3 músicas (-1)
45ª BRUNA CARAM - 3 músicas (+19)
46º CHICO CÉSAR - 3 músicas (-2)
47ª CLARA NUNES - 3 músicas (-2)
48ª CÉU - 3 músicas (+22)
49º DORIVAL CAYMMI - 3 músicas (-3)
50ª ELBA RAMALHO - 3 músicas (-3)
51ª FERNANDA ABREU - 3 músicas (-3)
52º HERBERT VIANNA - 3 músicas (-3)
53º IVAN LINS - 3 músicas (-3)
54º JORGE VERCILO - 3 músicas (-3)
55º LULU SANTOS - 3 músicas (-3)
56ª MONICA SALMASO - 3 músicas (-3)
57º O RAPPA - 3 músicas (-3)
58º PATO FU - 3 músicas (-3)
59ª RITA RIBEIRO - 3 músicas (-3)
60º TOM JOBIM – 3 músicas (-2)
61º MEMÓRIA INFANTIL: TREM DA ALEGRIA - 3 músicas (-3)
62º ADONIRAN BARBOSA – 2 músicas (-2)
63ª ALZIRA ESPÍNDOLA - 2 músicas (-2)
64ª ANA CAÑAS – 2 músicas (+39)
65º ARNALDO ANTUNES - 2 músicas (-3)
66º BARÃO VERMELHO - 2 músicas (-3)
67ª BELLÔ VELOSO - 2 músicas (-2)
68º CAPITAL INICIAL - 2 músicas (-2)
69º CARLINHOS BROWN – 2 músicas (-2)
70º CARLOS MOURA – 2 músicas (-2)
71º CHICO SCIENCE & NAÇÃO ZUMBI - 2 músicas (-1)
72º ED MOTTA - 2 músicas (-1)
73ª ELIZETH CARDOSO – 2 músicas (-1)
74ª ELZA SOARES - 2 músicas (-1)
75ª FAFÁ DE BELÉM – 2 músicas (-1)
76ª FERNANDA PORTO - 1 música (-1)
77ª FERNANDA TAKAI - 2 músicas (-1)
78º ITAMAR ASSUMPÇÃO - 2 músicas (-1)
79º JAY VAQUER – 2 músicas (-1)
80º JORGE BEN - 2 músicas (-1)
81ª INTERNACIONAL CONVIDADA: JULIETA VENEGAS - 2 músicas (-1)
82ª KÁTIA B - 2 músicas (-1)
83º KID ABELHA - 2 músicas (-1)
84ª LEILA PINHEIRO - 2 músicas (-1)
85ª CANTRIZ: LETÍCIA SABATELLA - 2 músicas (-1)
86º LOS HERMANOS - 2 músicas (-1)
87ª CANTRIZ: LUCINHA LINS - 2 músicas (-1)
88ª MARIA RITA - 2 músicas (-1)
89ª MARIANA AYDAR – 2 músicas (+52)
90ª INTERNACIONAL CONVIDADA: MERCEDES SOSA – 2 músicas (-2)
91º MORAES MOREIRA – 2 músicas (-2)
92º OSWALDO MONTENEGRO - 2 músicas (-2)
93ª PATRICIA MARX - 1 música (-2)
94º PEDRO LUIS E A PAREDE - 2 músicas (-2)
95ª PITTY - 2 músicas (-2)
96º SECOS & MOLHADOS - 2 músicas (-2)
97ª SELMA REIS - 2 músicas (-2)
98º TOM ZÉ - 2 músicas (-2)
99º VEGA - 2 músicas (-2)
100ª VERÔNICA SABINO - 2 músicas (-2)
101º WADO – 2 músicas (-2)
102ª ZIZI POSSI – 2 músicas (-2)
103º 14 BIS – 1 música (-2)
104ª ALICE RUIZ - 1 música (-2)
105ª ANELIS ASSUMPÇÃO - 1 música (-1)
106ª ÂNGELA MARIA – 1 música (-1)
107ª ANGELA RO RO - 1 música (-1)
108º ANTONIO CARLOS NÓBREGA - 1 música (-1)
109ª AS CHICAS – 1 música (-1)
110º MEMÓRIA INFANTIL: AQUARIOUS - 1 música (-1)
111ª BANDA REFLEXU’S – 1 música (-1)
112º BANDA VEXAME – 1 música (-1)
113ª BARBARA EUGÊNIA – 1 música *ESTREIA
114ª BEATRIZ AZEVEDO – 1 música (-2)
115ª BETH CARVALHO - 1 música (-2)
116ª BEBEL GILBERTO - 1 música (-2)
117ª BIQUINI CAVADÃO - 1 música (-2)
118ª CARMEM MIRANDA - 1 música (-2)
119º MEMÓRIA INFANTIL: CICLONE - 1 música (-2)
120º CIDADE NEGRA - 1 música (-2)
121º CLAUDIO NUCCI - 1 música (-2)
122º COMADRE FLORZINHA – 1 música(-2)
123º CORDEL DO FOGO ENCANTADO - 1 música (-2)
124ª DANNI CARLOS - 1 música (-2)
125ª DALVA DE OLIVEIRA – 1 música(-2)
126ª DAÚDE – 1 música (-2)
127º DEMÔNIOS DA GAROA – 1 música (-2)
128º DOMINGUINHOS - 1 música (-2)
129ª INTERNACIONAL CONVIDADA: DULCE PONTES - 1 música(-2)
130º EDU LOBO - 1 música(-2)
131º EMÍLIO SANTIAGO – 1 música(-2)
132º ERASMO CARLOS - 1 música (-2)
133ª FERNANDA GUIMARÃES - 1 música(-2)
134º FRED MARTINS - 1 música (-2)
135º GABRIEL PENSADOR - 1 música(-2)
136º GERALDO AZEVEDO - 1 música (-2)
137º GERALDO VANDRÉ - 1 música (-2)
138ª HELENA ELIS - 1 música (-2)
139º HERÓIS DA RESISTÊNCIA – 1 música (-2)
140º IRA – 1 música (-2)
141ª ISABELLA TAVIANI - 1 música (-2)
142ª JANE DUBOC – 1 música (-2)
143º JESSÉ -1 música (-2)
144ª JOVELINA PÉROLA NEGRA – 1 música (-2)
145º JOÃO GILBERTO – 1 música (-2)
146º KARINA BUHR – 1 música *ESTREIA
147ª LEILA MARIA - 1 música (-3)
148º LOBÃO - 1 música (-3)
149ª LUCIANA MELLO - 1 música (-3)
150º LUDOV – 1 música (-3)
151ª LUISA MAITA – 1 música *ESTREIA
152º LUPICÍNIO RODRIGUES – 1 música (-4)
153º INTERNACIONAL CONVIDADO: MADREDEUS - 1 música (-4)
154ª MARIA GADU – 1 música (-4)
155ª MARTINÁLIA - 1 música (-3)
156ª MAYSA - 1 música (-3)
157º METRÔ – 1 música (-3)
158º MILTON CARLOS – 1 música (-3)
159º MIÚCHA – 1 música (-3)
160º MOINHO - 1 música (-3)
161º MOPHO – 1 música (-3)
162ª NA OZETTI - 1 música (-3)
163º NASI - 1 música (-3)
164º NILA BRANCO - 1 música (-3)
165º INTERNACIONAL CONVIDADO: NUNO MINDELLIS - 1 música (-3)
166º MEMÓRIA INFANTIL: OS TRAPALHÕES – 1 música(-3)
167º OTTO – 1 música (-3)
168ª PAULA FERNANDES - 1 música (-3)
169ª PAULA LIMA - 1 música (-3)
170º PAULINHO DA VIOLA - 1 música (-3)
171º RAIMUNDO FAGNER – 1 música (-3)
172ª RENATA ARRUDA - 1 música (-3)
173º RENATO RUSSO – 1 música (-3)
174º RENATO TEIXEIRA – 1 música (-3)
172º SEU JORGE – 1 música (-3)
173ª TAMY – 1 música (=)
174ª TIÊ – 1 música *ESTREIA
175º TIM MAIA - 1 música (-1)
176° TITÃS – 1 música (-1)
177º TRIO VIRGULINO - 1 música (-1)
178ª TULIPA RUIZ – 1 música *ESTREIA
179º MEMÓRIA INFANTIL: TURMA DA MÔNICA - 1 música (-2)
180º VANDER LEE - 1 música (-2)
181ª VANGE LEONEL – 1 música (-2)
182ª VANIA BASTOS - 1 música (-2)
183ª INTERNACIONAL CONVIDADA: VIOLETA PARRA – 1 música (-2)
184ª WANDERLÉA - 1 música (-2)
185º INTERNACIONAL CONVIDADO: ZUCO 103 - 1 música (-2)
186º ZÉ RENATO – 1 música (-2)


TH - São as águas de Março fechando o verão...

terça-feira, 29 de março de 2011

ÚLTIMA FAIXA: Do Sul pra cima é tudo "Bahia"? (Crônica)


[Baseada na ideia do amigo Felipe Ramirez*]
[Ao som de "Bicho Maluco Beleza"]


Quando resolvi dispor de Alceu Valença para ser o artista de Março no EnTHulho, notei que houve uma sutil reserva da parte da maior parte dos freqüentadores do blog. Ironicamente, salvo raras exceções (não se pode nunca trabalhar com generalizações), os que aplaudiram a ideia foram meus amigos nordestinos.
Tricotei a respeito com meu amigo pernambucano Felipe Ramirez e chegamos a uma conclusão: Alceu é tão mestre cultural e grandioso como Tom Jobim e Chico Buarque. Quem é de fora do Nordeste é que não vê.
Nesse primeiro mês morando em terras paulistanas, percebi que há muita camaradagem sim com pessoas de outras regiões do país, porém os cidadãos ditos culturais dessas bandas não possuem o alcance exato e delimitado do que a maioria dos artistas do Nordeste podem oferecer. Semana passada, quando fui cortar cabelo, ouvi, segurando ar, a seguinte frase: "Nordeste é tudo Bahia". Há três semanas, quando fui a Santos de ônibus, ouvi algo semelhante, associando todos os nordestinos a "paraíbas feios" e "cearenses de cabeça chata". Não que eu não soubesse que, em determinado momento, iria sim ouvir coisas pouco lisonjeiras em relação à minha região natal, entretanto mais injustificável ainda, ao meu ver, é a ignorância cultural.
Alceu Valença, grande letrista, com inúmeras referências literárias - alcançando inclusive cultura estrangeira (ler o texto do post anterior) não deixa nada a dever mesmo a quaisquer artistas mais óbvios da música brasileira. A simplicidade grita (comenta-se inclusive que tem um vaso sanitário no terraço de seu estúdio, ao ar livre, onde costuma "obrar" olhando a paisagem!), a simpatia evidencia (meu pai inclusive já tocou com ele, improvisadamente, em Mossoró, Rio Grande do Norte) e a energia contagia (seus shows no Nordeste costumam lotar facilmente...).
Eu sinto falta sim de vê-lo figurar dentre os compositores mais gravados, tendo apenas seus companheiros nordestinos como seus principais intérpretes.
Tá na hora dos novos músicos descobrirem a grandeza de suas histórias musicadas ("pelas Ruas que andou"), suas musas (La Belle du Jour, Bela Inês, a Morena Tropicana, Margarida, Maria, a Moça Bonita de Cabelos Longos, e muitas mais), e seus verdadeiros clássicos "agalopados", apresentando, assim, a mais merecida homenagem que nosso mestre nordestino merece...

Metade desabafo pessoal, metade homenagem, mas tá valendo!


THIAGO HENRICK


* Felipe mora atualmente na Paraíba-PB e é leitor assíduo do EnTHulho. Relembre sua participação como amigo musical convidado aqui!






LITERATURA DE ALCEU...


As letras que Alceu Valença compõe para suas músicas têm vida própria, quando simplesmente lidas? Ou somente adquirem significado se acompanhadas de sua música? Noutras palavras: quem faz letra de música faz literatura? Na realidade, quero tratar o tema através de uma outra abordagem. A presença da literatura em sua obra, presença essa farta e visível.
Ao longo dos seus discos, a marca constante: a presença de autores populares e eruditos, citados em suas canções ou homenageados nas dedicatórias. O interessante é destacar que Alceu venera e homenageia desde os poetas populares, aqueles que percorriam as ruas de sua infância com seu canto de improviso, aos intelectuais mais reconhecidos.

De Buñuel a Mocinha de Passira

Ora é um cineasta, como Luis Buñuel (in La Belle de Jour e in Maracajá), ou um naturalista, como Augusto Ruschi (in Espelho Cristalino), ora um companheiro de ofício, como Raul Seixas (in Bicho Maluco Beleza), João do Vale (in Cabelo no Pente), Luiz Vieira e seu menino passarinho (in Eu Te Amo), Jackson do Pandeiro e Ari Lobo (in Fé na Perua) e Luiz Melodia (in Maria Sente).
Essa reverência passa pelos cantadores populares, tais como Dimas, Vitorino, Pinto do Monteiro, Lourival - o Louro do Pajeú -, Oliveira, Castanha, Beija-Flor e Mocinha de Passira (in Martelo Agalopado), cada um deles o "cantador do inconsciente coletivo, canta a força do povo e o desengano", no dizer de Alceu, pois têm "os pés calejados dos ciganos e (são) poetas perfeitos e soberanos", levando sua arte do verso improvisado à praça.
Noutros instantes Alceu se volta para o elogio aos animadores da cultura popular como Bajardo, "O pintor de Olinda" (in Bicho Maluco Beleza), Cacho-de-Coco (in Sou Eu Teu Amor), Mãe Nina (in Ciranda da Mãe Nina) e Dona Santa do maracatu (in De Onde Vem?). Percorre as canções de autoria do povo nordestino, incluindo-as em sua música, e busca a inspiração em personagens que povoam a cultura popular, sejam reais como o Capitão Corisco, anônimos como o "velho safado" do Pastoril, ou fictícios, tais como Viramundo, Pedro Malazartes, João Grilo, Cancão de Fogo...
Às vezes, como um Zé Limeira redivivo, semeia citações de pessoas que marcaram o seu mundo - quem sabe, o mundo de todos nós: Neil Armstrong e sua caminhada na lua (in Seixo Miúdo), os apóstolos Pedro e Paulo (in Pontos Cardeais), Guevara, Camilo e Sandino, com seu "sonho libertário" (in Romance da Bela Inês) e Luiz Carlos Prestes, o velho cavaleiro montado em sua utopia (in Pra Clarear), Maurício de Nassau (in O Carnaval de Minha Janela), Calabar, John Lennon, Charles Chaplin, Tiradentes, Frei Caneca e Virgulino, o Lampião (in Maria Sente).

Parceria com poetas

Mas Alceu também passeia pelo erudito e são muitos os intelectuais, aqueles dos livros - além dos da rua e do imaginário - que perpassam sua obra. Seja quando Alceu faz poesia com os nomes das ruas do Recife e de Olinda, que são as ruas da infância do poeta Manuel Bandeira, seja quando se declara um Dom Quixote liberto de Cervantes (in Agalopado).
São muitos os autores e várias as citações: João Cabral de Mello Neto (in Cana Caiana), Carlos Drummond de Andrade (in Pra Clarear e in Maracajá), Camões (in Romance da Bela Inês e in Maracajá), Fernando Pessoa (in Maracajá), Mário Quintana (in Senhora Dona), Jorge Amado (in Chuva de Cajus), Ulisses (in Anjo de Fogo) e Mário de Andrade e seu delicioso Macunaíma (in Que Grilo Que Dá - Rock de Repente).
Mas dois poetas têm um espaço privilegiado na obra de Alceu Valença. Transformaram-se, embora ja mortos, em parceiros preferidos. Um é Ascenso Ferreira, que proporcionou a Alceu o seu primeiro sucesso nacional, ainda nos primórdios da carreira (1972) e que teve outro poema seu musicado (Vou Danado Pra Catende e Maracatu). Outro é Carlos Penna Filho, cujos poemas inspiraram também duas canções a Alceu: Solibar, que transportou para a canção versos que todos os boêmios pernambucanos sabem de cór e Sino de Ouro.
Assim, discutir literatura na obra de Alceu Valença é, acima de tudo, registrar o profundo amor que ele demonstra pela cultura popular e erudita e o quanto ele coloca a sua música a serviço de artistas e intelectuais, como uma homenagem que, ao mesmo tempo, valoriza e enriquece a sua própria obra.


[Texto de Romildo Gouveia Pinto, para o portal www.nordesteweb.com]


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Esse texto reproduz muito do que eu queria expressar esse mês ao eleger o Alceu como o artista de Março. Eu acredito sim que quem faz letra de música é partidário da literatura, sobretudo quando invoca elementos tão regionalistas como faz Alceu. Mas não é apenas isso - como diz no texto, nosso nordestino vale-se de sua versatilidade pra homenagear vertentes bastante diversas da cultura mundial. Há como não conferir mérito à sua obra?


Corroborarei esta minha linha de pensamento no próximo post, na seção "ÚLTIMA FAIXA".


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CORAÇÃO BOBO
Alceu Valença. [No vídeo, dueto com Zé Ramalho]

Meu coração tá batendo
Como quem diz: "Não tem jeito!"
Zabumba bumba esquisito
Batendo dentro do peito...
Teu coração tá batendo
Como quem diz: "Não tem jeito!"
O coração dos aflitos
Pipoca dentro do peito
O coração dos aflitos
Pipoca dentro do peito...

Coração-bobo
Coração-bola
Coração-balão
Coração-São-João
A gente Se ilude, dizendo: "Já não há mais coração!"...

Bobo, bola, balão São-João
A gente Se ilude, dizendo: "Já não há mais coração!"


TH - Lembra demais minha infância...

sexta-feira, 25 de março de 2011

LISTA: A NOVA CARA FEMININA DA MPB!

Roberta Sá: brejeirice e responsabilidade de carregar um dos principais nomes da nova safra da MPB!



A música popular brasileira, apesar de hoje ser taxada de elitizada e alternativa, lança tendências de "moda" como qualquer outro mecanismo. Especificadamente no caso das cantoras! Tivemos o auge das cantoras feinhas de voz miúda e deliciosa, das barangonas de voz poderosa, das masculinizadas e suas vozes de Thor...seja na interpretação, na composição, todas tiveram seu espaço nesse circo de novidades chamado Eme-Pê-Bê. Agora é a fase das bonitinhas talentosas e cult!
Bem disse Lobão, numa entrevista da antiga revista Bizz: "Pra que macho mesmo no mundo da música? Mulher é sensacional!!!". No mês das mulheres, o EnTHulho resolveu reunir uma lista das que estão mais chamando atenção na mídia (e fora dela) neste cenário.
Lista afetiva, passível de reivindicações nos comentários!
Vamos lá!




1) ROBERTA SÁ

Vinda do Rio Grande do Norte, a primeira da lista começou sua carreira, pasmem, no programa Fama, da Rede Globo. Segundo a cantora, o formato do programa estava americanizando demais os artistas, o que lhe desagradou e a tirou na quarta semana. Na ocasião, uma demo sua chegou às mãos de Gilberto Braga, que gostou tanto que a pediu pra regravar o hit "A Vizinha do Lado". Roberta estourou, conheceu o produtor Rodrigo Campello e gravou então seu primeiro disco, "Braseiro", em 2005. Desde então não parou mais!

Obra recomendada: Belo dia pra se ter alegria (2007)


2) TULIPA RUIZ


A mineira Tulipa (sim, esse é seu nome - o recebeu por causa do filme "A Tulipa Negra") está com uma visibilidade "Efêmera" no circuito da MPB. Atualmente é o nome mais elogiado e comentado nas rodas de discussões musicais. A cantora envereda para um "pop-florestal", um som metade paulista, metade mineiro. Ela é filha de Luiz Chagas, jornalista e músico que acompanhava a banda "Isca de Polícia, de Itamar Assumpção. Apesar de pouquíssimo tempo de carreira, a moça já fez parcerias incríveis com Zélia Duncan e Marcelo Jeneci. Com certeza vai longe!

Obra recomendada: Efêmero (2010)



3) CÉU

A paulistana Céu é cantora e compositora. Começou sua carreira em 2002 e já tem dois discos lançados. O que a difere das demais contemporâneas? Suas posições radicais contra os rótulos limitados e desgastados da MPB: "O rótulo da MPB ficou limitado. Ele é bem abrangente, afinal é música popular brasileira. E me considero isso. Quando vou fazer um som, me alimento do que gosto e, como muitos outros da minha geração, me alimento não só de coisas específicas". De fato, sua música reflete influências do Hip-Hop, Jazz, Afrobeat...tudo "abrasileirado" com primor. Sua voz calminha e suave causam arrepios de emoção.

Obra recomendada: Céu (2005)


4) ANA CAÑAS

A imprensa A-MA lançar comparativos toda vez que surge alguma novidade na música brasileira. Adriana Calcanhotto foi bastante equiparada a Elis Regina quando surgiu, por exemplo. No caso de Ana, as principais comparações foi com a também cantora e compositora Marisa Monte. Mas Ana se desamarrou logo do rótulo e conquistou a atenção e devoção de artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso e do então Ministro da Cultura Gilberto Gil, em 2007. Remando contra a maré, do tão elogiado primeiro disco "Amor e Caos", lançou o experimental e excelente "Hein?" em 2009. Essa é a nova safra da MPB: sem medo de arriscar e sem só apostar nas fórmulas consagradas e óbvias!

Obra recomendada: Hein? (2009)


5) MARIANA AYDAR

Mariana, das listadas, é a que talvez tenha o público mais jovem como seu alvo. Boa parte disso foi graças a ter duas músicas suas infiltradas dentro do seriado "Malhação", na Globo, e também por ser figurinha fácil na MTV, além de ser super antenada e acessível nas redes sociais mais famosas. Mariana é filha de Mario Manga, integrante do grupo Premê, e de Bia Aydar, produtora de diversos artistas brasileiros, entre os quais Lulu Santos e Luiz Gonzaga. Desde pequena aprendeu muita coisa nos camarins e observando outros artistas.

Obra recomendada: Peixes, Pássaros e Pessoas (2009)


6) TIÊ



São Paulo...não é à toa que a cidade é conhecida como o pólo cultural do Brasil! É dela que saiu a maioria desses novos talentos femininos de nossa MPB. Tiê, por exemplo, cresceu graças às ajudas da cena alternativa da cultura paulistana. A cantora é neta da atriz Vida Alves e sua música embala corações melancólicos com o violão e uma sonoridade "sombria", que, por incrível que pareça, chamou atenção dos acalorados corações cariocas, fazendo-a sair da cena alternativa absoluta. Tiê compõe e é munida de instrumentos bem selecionados para sua música, como banjo. Expoente-mor do pejorativo estilo "Fossa-nova".

Obra recomendada: Sweet Jardim (2009)



7) BÁRBARA EUGÊNIA


É tão frustrante constatar que o rock brasileiro é tão carente de cantoras que representem o gênero. Rita Lee para sempre será a diva-mor, e as demais são "ilusões" do rock - segmento composto de Cássia Eller (que só agrada a MPB) e Pitty (estereótipo mais chamativo do que atitude). Quem sabe se a carioca Bárbara Eugênia, que engana com seu rostinho clean, mas profere suas dores ao som de rock (Iê-iê-iê, Beatles, tropicália), conseguirá mudar este quadro? Ela consegue unir tudo ao romantismo e delicadeza que seu sexo pede e faz com tanta maestria (e anti-capitalismo) que não tem como não torcer pelo êxito de sua empreitada!

Obra recomendada: Journal de BAD (2010)

8) LUISA MAITA

Luisa, paulistana, é observadora e cronista do cotidiano. Diferente das demais da lista, ela começou como compositora - Mariana Aydar, companheira da lista, inclusive gravou uma canção sua, "Beleza", antes que a moça estourasse. Luisa pôde mostrar toda sua versatilidade no álbum Lero-Lero, repleto de inserções eletrônicas e que mostra como Luisa tem talento ao unir bom gosto nas interpretações e uma leve pitada de sensualidade, em meio a sua timidez, para se manifestar. Como ela própria diz, “atingir o máximo de expressão com o mínimo de afetação". Perfeita!

Obra recomendada: Lero-lero (2010)


9) KARINA BUHR

A sotero-pernambucana passou anos à frente do grupo nordestino "Comadre Florzinha", o que lhe rendeu destaque e a coragem de enfrentar um trabalho solo. Karina é diferente - ela não é mera florzinha delicada como as demais da lista. Ela é divertida no palco, versátil e bastante teatral - é a típica flor ardente nordestina, danada de arretada e boa. A diferença - requisito cada vez tão mais rígido na MPB está presente com louvor!

Obra recomendada; "Eu Menti Pra Você" (2010)

10) BRUNA CARAM


Bruna é a mais novinha de toda a lista. A paulistana tem inteligência musical, bom gosto e um carisma inacreditável e faz bem o jogo de interpretação em cena - parece uma bailarina que cresceu no talento e começou a cantar! Além de ser simpática - na foto, nos camarins da cantora, trocamos grandes figurinhas sobre músicas alagoanas quando revelei que era de Maceió. É...diferente de uma época antiga, as cantoras da MPB de hoje são bem mais acessíveis e interativas com seus públicos - não há aquela barreira desonrosa e sem graça...

Obra recomendada: Essa menina (2006)



MENÇÕES HONROSAS:

ADRIANA MACIEL
ANA PAULA LOPES
BEATRIZ AZEVEDO
CEUMAR
DANIELA PROCÓPIO
FERNANA PORTO
JULIANA SINIMBU
JUSSARA SILVEIRA
MALLU MAGALHÃES
MANU SANTOS
MARINA DE LA RIVA
ROBERTA CAMPOS



PROPOSITADAMENTE ESQUECIDA:

Quando conhecia Maria Gadu, em 2009 na minissérie Maysa, fiquei curiosíssimo e apaixonado por sua figura. Gostei bastante também da música "Shimbalaiê", que estourou naquele mesmo ano. O holofotes já estavam virados 100% para ela e estava mais do que na hora de dar um "break" na imagem, mas isso foi se repetindo até à exaustão - em toda trilha de novela ela participava. Isto desgasta demais a imagem do artista, aliado a algumas decepções como sua horrenda versão de "Ne Me Quite Pas" - retirando a melancolia que a música pede, e também me decepcionei forte com sua performance ao vivo. Sem querer soar preconceituoso, mas acredito que a cena atual não comporta mais cantoras masculinizadas (e olha que tenho Zélia Duncan e Cássia Eller como duas de minhas cantoras favoritas). Com todo respeito, João Gadu fora da relação!


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FOGO E GASOLINA
Pedro Luis e Carlos Rennó
Roberta Sá

Você é um avião e eu sou um edifício
Eu sou um abrigo e você é um missil
Eu sou a mata e você é a moto-serra
Eu sou um terremoto e você a Terra.
O nosso jogo é perigoso, menina
Nós somos fogo
Nós somos fogo
Nós somos fogo e gasolina
Você é o fósforo e eu sou o pavio
Você é um torpedo e eu sou um navio
Você é o trem e eu sou o trilho
Eu sou o dedo e você é o meu gatilho
O nosso jogo é perigoso, menina
Nós somos fogo
Nós somos fogo
Nós somos fogo e gasolina
Nós somos fogo
Nós somos fogo
Nós somos fogo e gás
Eu sou a veia e você é a agulha
Eu sou o gás e você é a fagulha
Eu sou o fogo e você é a gasolina
Eu sou a pólvora e você a mina
O nosso jogo perigoso combina
Nós somos fogo
Nós somos fogo
Nós somos fogo e gasolina!


TH - Vontade de casar com essa menina!


terça-feira, 22 de março de 2011

AMIGO MUSICAL CONVIDADO # 27 - Thiago Lemos!

Eres un hermano del alma, realmente un amigo!


O Thiago é o meu amigo virtual mais antigo.
Não vou novamente estender a tão cansativa discussão sobre real x virtual até porque o conheço pessoalmente há muito tempo. Mas é que descobrimos primeiro pelo computador nossas mais bacanas afinidades!
Música no topo! Ele, por muito tempo, adotou posturas mais alternativas pra se manifestar (tanto que seu nick era "Garoto Gotiko"). Nas vestimentas, na timidez e principalmente musicalmente, esse meu xará pode não saber, mas me ensinou pra caramba! Também fui um pré-adolescente retraído e introspectivo...e por muitas e muitas vezes recorri aos conselhos de gente como Billy Corgan, Brian Molko, Michel Stipe...exatamente como ele fazia.
Também convém dizer que por anos ele foi um dos meus únicos confidentes. Eram lendários nossos papos por MSN, ele fazia parte da legião de (poucos) que acordavam cedinho e, não tendo o que fazer em casa, partia pro binômio pc + música. Igualzinho a mim! =D
Então...esse querido deu uma grande guinada em sua vida e, de Maceió, foi morar no Uruguai, em busca de grandes oportunidades - profissionais e de vida. Um (re)começo. O afastamento, claro, se fez necessário, mas o carinho permanece. E também os ensinamentos: pois sua guinada de vida foi extremamente necessária pra que eu me espelhasse e fizesse a minha, nesse ano.
É constatando sua realização que me fio no êxito de minha empreitada...
Torço bastante por esse rapaz que tanto me ajudou na vida e espero jamais perder contato!

É...não temos apenas o mesmo nome em comum...
:)



10 anos sem suas malandragens!



Eis que, depois de muito tempo sem dar sinais de vida, reencontro o TH, sempre o papo agradável de sempre: as mesmas loucuras, como se não fizesse nem 5 minutos desde que falamos pela ultima vez. E não é que, depois desse tempo, ele me dá uma tarefa dificil, falar sobre uma musica que marcou minha vida. Pois bem, falarei entao:
Faz muito tempo, ainda estava no colégio e não tinha noção de muitos conceitos valiosos ainda, me apresentam um CD, mal sabia eu que aí começaria meu amor pela emepêbê. Eu estava nada mais nada menos diante de Cássia Eller, e o disco era: Com voce... meu mundo ficaria completo. Claro que eu já conhecia Cássia Eller, apenas uma música, óbvio: Malandragem. No entanto, com esse CD tive a oportunidade de conhecer uma Cassia diferente, o que foi super gostoso para mim. Me lembro muito bem: num dia nublado, eu estava no meu quarto olhando a janela, quando começaram a ecoar os primeiros acordes num violão de aço no meu cd player (ainda nao existia mp3 player nem muito menos mp7000). Seu nome: Maluca, foi paixão à primeira “ouvida”.
Maluca fala mais ou menos da simplicidade da vida de ficar feliz com aqueles pequenos detalhes que as vezes passam despercebidos, e que as vezes tem um peso imenso em nossas vidas. Tem algo de melancolia em seus acordes, apesar de que a letra tenha muita relação com uma felicidade intrínseca. Cássia, ao gravar essa música (original de Luis Capucho) me trouxe algumas sensações felizes, de bons tempos, daqueles que a gente não quer que termine.
Essa musica me acompanhou em meus anos difíceis de adolescente rebelde (oi?), passando pelas rodas de vinho e conversas intermináveis com amigos de faculdade e até hoje, de longe, quando as vezes busco um caminhão lotado de botões de rosas, em um dia de chuva!

THIAGO LEMOS



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MALUCA
Cássia Eller

Num dia triste de chuva
Foi minha irmã quem me chamou pra ver
Era um caminhão, era um caminhão
Carregado de botão de rosas
Eu fiquei maluca
Por flor tenho loucura, eu fiquei maluca
Saí
Quando voltei molhada
Com mais de dúzias de botão
Botei botão na sala, na mesa, na TV, no sofá
Na cama, no quarto, no chão, na penteadeira
Na cozinha, na geladeira, na varanda
E na janela era grande o barulho da chuva
Da chuva
Eu fiquei maluca
Eu fiquei maluca



TH - Também estamos todos...mas de saudade!



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