segunda-feira, 2 de agosto de 2010

UM TEMPO EM QUE A TV PRESTIGIAVA A BOA MÚSICA BRASILEIRA...(02/08)

Artistas cujas carreiras tiveram um UP com programas televisivos

Ao ver determinados artistas com suas carreiras hoje consolidadas, será que você seria capaz de imaginar que eles estão onde estão graças a uma considerável ajuda ofertada pela mídia televisiva? Não que só se tornaram cantores/compositores por conta de programas de televisão - eles venceram por mérito próprio, claro, mas certamente atingiram o grande público país afora com ajuda da tão boa divulgação de música na telinha. Surpresos? Tinhamos isso antes...
Antigamente existia espaço pra música brasileira na tevê aberta. Dezenas de festivais de música eram disponibilizados ao público em horários nobres e acessíveis, fazendo a família toda se reunir e torcer fervorosamente por todas as competições televisionadas e contemplar seus shows recheados de música de qualidade. Quem imagina, hoje em dia, um festival igual ao que tivemos na Record em 1967, onde competiam Chico Buarque, Roberto Carlos, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Edu Lobo?
O espaço pra boa música atualmente fica restrito a programas de emissoras especializadas em cultura, como a própria Tv Cultura. A Globo e a Record, atuais líderes de audiência, não oferecem mais abertura para a nossa MPB se manifestar e quando fazem, só em horários bem alternativos como o Som Brasil. Foi-se o tempo em que a música de qualidade era prestigiada tal qual final de capítulo de novela ou reality shows. Mas nem sempre foi assim...e o EnTHulho tenta resgatar alguns exemplos de como a tevê ajudou na revelação e na projeção de grandes ídolos musicais nossos.
1) ELIS REGINA

A TV Excelsior era uma emissora centrada em filmes, jornalismo e seriados estrangeiros, e entrou no ar em Julho de 1960. Foi escolhida para sediar o I Festival da Música Popular Brasileira, em 1965, onde Elis Regina conquistou o primeiro lugar com a música “Arrastão”, composição de Edu Lobo e Vinicius de Morais. Aliás, nessa mesma época, a cantora ficou conhecida como “Elis-Cóptero”, graças à maneira rodopiante com a qual se empolgava nas interpretações. Elis então iniciou uma carreira bem promissora, reconhecida e identificada por tantos!

2) CHICO BUARQUE DE HOLLANDA

Chico Buarque hoje se tornou referência para muita gente e sempre foi um dos compositores mais gravados na nossa MPB. São marcas suas os versos morfologicamente estilizados e grande politização. Mas pouca grande sabe que ele só foi apresentado oficialmente ao resto do país graças ao Festival Nacional da Música Popular Brasileira, na TV Excelsior,em 1966, com a música “PEDRO Pedreiro”. No mesmo ano, contudo, participou da segunda edição do Festival da Música Popular Brasileira, na Record, onde competia com a festiva “A Banda”, cantando ao lado de Nara Leão (uma de suas melhores e mais clássicas parcerias). No referido festival, o cantor venceu a competição, mas exigiu que os louros da vitória fossem divididos com “Disparada”, na voz de Jair Rodrigues, a qual julgava mais adequada para levar o prêmio maior. Seu pedido resultou num empate e na empatia do cantor com o público, cativo até hoje.

3) MILTON NASCIMENTO

Na segunda edição do Festival Internacional da canção (Rede Globo), o mineiro Milton teve um bom destaque e foi a grande revelação do evento com “Travessia’, histórica parceria sua com Fernando Brant e que foi a canção vice-campeã. A partir dela, o cantor e compositor mineiro conseguiu espaço pra mostrar ao mundo toda a beleza de sua música, MPB com pitadas de rock beatlemaníaco





4)GAL COSTA


Bem antes de dar voz às tantas músicas do cancioneiro brasileiro que a eternizou, Gal suou frio. A baiana cantou no IV Festival da Música Brasileira (Record, 1968) e de ínicio causou estranheza no público, que logo depois se rendeu à magistral interpretação de “Divino Maravilhoso” (Caetano/Gil). Gal já tinha timidamente começado carreira, sendo uma das vozes mais partidárias da Tropicália, mas esse festival foi determinante para que se tornasse mais conhecida.


5) DJAVAN
Claro que meu conterrâneo entraria na lista. Sobre ele, contudo, tenho uma história a relatar Ele foi namorado de uma tia minha (Neuza) na adolescência, e ninguém dava cartaz àquele menino negrinho e franzino, que vivia dizendo que seria cantor de sucesso. Deu no que deu, e aconteceu graças ao “Festival de abertura”, da Rede Globo em 1975, onde o cantor ficou em segundo colocado com a música “Fato Consumado”.





6) BETH CARVALHO

Na terceira edição do Festival Internacional da canção (Rede Globo), em 68, Beth Carvalho ganhou fama nacional com a melhor interpretação até hoje para a canção “Andança”, de Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, iniciando, assim, uma bem sucedida carreira no samba






7) CLARA NUNES


Clara passeava pelo samba, pela bossa, pelos bolerões...e já tinha uma relativa carreira bem sucedida, mas sem dúvidas sua aparição no “Festival Universitário da Música Popular Brasileira” (Tupi, 1969) lhe rendeu ótimos frutos. A cantora interpretou “De esquina em esquina”, de César Costa Filho e Aldir Blanc.




8) SANDRA DE SÁ



Na década de 80 a Rede Globo continuava a prestigiar artistas brasileiros com diferentes festivais criados a cada ano, como o MPB SHELL e o MPB 80. Este último trouxe, entre suas participações, Sandra Sá (como a cantora grafava seu nome) cantando a excelente “Demônio Colorido”, trazendo-lhe reconhecimento nacional.

9) LEILA PINHEIRO

Foi graças ao Festival dos festivais (Globo, 1985) que Leila, cantora que tinha um tímido sucesso em shows no Rio de Janeiro até então, explodiu seu primeiro hit radiofônico, “Verde”, que ficou em 3º lugar na competição e fez a nortista de Belém do Pará ser divulgada ao resto do país.

10) MARISA MONTE

Marisa já tinha chamado atenção das gravadoras, mas foi graças ao especial MM na Rede Manchete (que sem dúvidas, foi uma das emissoras mais musicais já existentes), em 1988 que a bela começou sua bem conduzida carreira. Muitos torcem o nariz pro fato da moça se recusar a aparecer em programas de TV nos dias de hoje, mas, sinceramente? Ela não está mais começando e não precisa mesmo disso...










Para esta matéria, utilizei referências do Almanaque da TV (Bia Braune e Rixa) e algumas informações colhidas nos sites oficiais dos cantores. Também fez parte da pesquisa o site http://kiminda.wordpress.com/2010/07/30/cine-uma-noite-em-67-o-festival-que-mudou-a-mpb/ .

Aguardem mais matérias sobre os festivais supracitados. Novo empreendimento do EnTHulho Musical: estudar a história da música brasileira!


TH - E eis que o site está me dando mais alegria e gás do que imaginava

14 comentários:

  1. Elis foi a maior intérprete brasileira. Pena que agora vivemos na cultura do créu.

    http://blogs.abril.com.br/rafaeliglesias

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  2. Pois é...E pensar que a maioria das pessoas da minha faixa etária (25 anos) nem ao menos sabem que haviam estes tipos de festivais! rs! Muito bom o post! Abraços e boa semana!

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  3. Realmente, já houveram épocas em que a TV prestigiou bem mais a boa música brasileira. Mas acho que ainda há tempo de fazer isso. Mesmo que não sejam na forma de festivais, como os memoráveis do passado, é possível fazê-lo, valorizando a qualidade de programas como o Som Brasil, o Por Toda a Minha Vida e minisséries ligadas à vida de grandes nomes da música.

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  4. Ótimo post, Th! Infelizmente as TV´s não estão mais preocupadas em buscar o bom gosto musical em suas programações. Boa época estas, as dos festivais, que infelizmente, pouco tive contato.
    Interessante saber que sua tia já namorou o Djavan... rsrs
    Abraxxxx
    WV

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  5. Fantástico o seu post!
    Sou fã da boa MPB e realmente não se dá mais espaço para o que qualidades possuí
    Muito bom ver Chico e Clara nestas lembranças!
    ;D

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  6. Maravilha de post, TH! Belo resgate!
    Vale lembrar também os inúmeros programas musicais da década de 80: Cassino do Chacrinha, Cometa Loucura, Globo de Ouro, Geração 80, Clip Clip, etc...

    OBS. Quando vi a foto do Milton, jurei que fosse a Margareth Menezes...rs

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  7. Sinal dos tempos: a mesma TV que revelou grandes nomes da nossa música, hoje nos bombardeia com lixos comerciais, sem valor artístico algum. É lamentável que o gosto popular tenha degenerado tanto com o passar do tempo.
    Olhar sua seleção me fez pensar o quanto perdemos e o quanto nossa "cultura" se banalizou.
    Oxalá o bom gosto voltasse à moda e artistas de valor - que certamente temos e ainda existem - ganhassem espaço na mídia.
    Excelente trabalho de resgate da nossa memória musical.

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  8. Post excelente, TH! Adorei!

    É de se lamentar que a televisão hoje em dia, dedique tão pouco espaço aos musicais. E que poucos programas que reservam tempo para a música, acabem sempre apelando para os mesmos artistas, sempre na mesma vibe popularesca que domina não só os “musicais” de hoje em dia, como todas as outras atrações da TV brasileira.

    Parabéns, querido! EnTHulho cada dia melhor!

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  9. pois então ... bons tempos realmente ... e que dizer eu q tive o privilégio de vivenciar um pouco da era do rádio ... saudades de tempos q não voltam mais ... mas enfim ...

    bjux

    ;-)

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Nossa escolhas mais que justas e certas, quem gosta de samba como eu não pode deixar de ouvir Clara Nunes, descobri ela por acaso, imagina, comprei alguns cds nas lojas americanas, isso há uns 5 anos atrás e não me arrependo em nada. Santa Clara clarea o Samba do Morro que enche de orgulho o povo que em seu rodopeio imaginário, enriquece com gosto e gozo.

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  12. Curiosamente, o último grande festival, o "Festival dos Festivais" apresentou músicas que foram hits enormes (alguém lembra de "O Dono do Mundo" e "Escrito Nas Estrelas"?), cujos intérpretes não duraram na mídia...
    Ainda houve um tentativa de volta com um Festival na Globo em 2000-e-... nem lembro... as músicas eram tão fraquinhas que nem dava pra torcer... e o público não prestou atenção...
    A pergunta é: por que que as emissoras pararam de investir nos festivais, após 1986?

    AH! Uma sugestão: que tal resgatar os nomes que surgiram em concursos de calouros? O material é farto e surpreendente (um nome? Emílio Santiago).

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  13. Saudosismos dos tempos q ñ vivemos=(

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  14. Difícil é compreender a Televisão diminuindo cada vez mais as participações musicais em seus programas, sob a justificativa de que a audiência cai... Ainda que assim fosse, como podem se basear apenas em números em detrimento da qualidade!

    Como bem disse o Rodrigo: "Saudade dos tempos que não vivemos"

    Excelente postagem, Thi, pra variar né? ;)

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