quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

DESTRUINDO NO BOM SENTIDO!


Primeiríssimo sucesso de Cássia Eller, em 1990. A cantora, femininíssima, destrói positivamente um dos maiores sucessos da Legião Urbana. Vale a pena relembrar, aqui, no nosso espacinho!


LEVE O MUNDO QUE EU VOU JÁ!

Cássia Eller representava com propriedade algo curioso no universo da música brasileira. Surgida em plena década de 90, ela quebrava os paradigmas da boa-mocice careta que a década de 80 tinha imposto aos cantores de "MPB". Tirando o rock nacional, a ousadia de cantores-solo tinha se esvaído, e a lacuna dessa necessidade havia de ser preenchida. 



Eu não considero Cássia uma cantora de rock. Possuía atitude estereotipada, peitão à mostra, palavrão e carão, porém muitos roqueiros torciam a cara pra ela, pois agradava em cheio os consumidores de MPB cult, em primeiro lugar. Como eu sou e continuarei contrário a rótulos, nós não perdemos uma roqueira ou uma cantora de MPB. Perdemos uma diva, uma dama da música tupiniquim, que encontrou com dificuldade o sucesso e quando o alcançou, morreu no auge. E ousava. Ousava como ninguém. Não tinha rabo preso com gravadoras, preferindo sempre interpretar aquilo que acreditava ao invés de rápidos sucessos comerciais. Não chocava gratuitamente - sua postura às vezes agressiva tinha como único condão mascarar artisticamente sua timidez, tão conhecida por gente que a tinha "de perto". Tê-la de perto...fico a imaginar quão sortudos foram aqueles que conseguiam ter Cássia de pertinho, pois nas entrevistas e extras de DVDS, sempre tive a impressão de que era uma pessoa sensível e culta, contrariando as opiniões discordantes que insistem em analisá-la superfluamente, baseadas nas caras e bocas com as quais se apresentava publicamente.


Cássia entrou na minha vida em 1994, quando ouvi sua potente versão de "Partners", na trilha sonora da novela Pátria Minha. Pouco tempo depois, fiquei pasmo ao ver alguém destruindo - no bom sentido - a música "Por Enquanto", do Legião Urbana (que fechava com chave de ouro o primeiro disco da banda, e era uma de minhas preferidas). A versão da Cássia absteve-se de qualquer regra musical ou rigor formal - começava com um sonoro "I've got a feelling, a feelling deep inside, oh yeah, oh yeah" - dos Beatles. Pensava: "como pode estar tão rica sendo tão irregular?". A resposta estava na voz. A voz de Cássia era única na música brasileira. Daquelas inconfundíveis, inimitáveis. Trovejava quando necessário e emocionava quando quase sussurrava. Rouquinha. Indefectível...às vezes delimitava mais o tom do que os acordeons, violões, violinos...era a maestra absoluta. 


Toca conhecer sua carreira nos pormenores. A fase Cazuza - a que menos prefiro - representa ainda assim a ousadia branca de uma cantora que queria porque queria homenagear seu ídolo. Suas maiores joias - "Com Você, Meu Mundo Ficaria Completo" (1999) e o póstumo "10 de Dezembro" (2002), mostram uma intérprete madura, fascinante e, porque não dizer, áspera. Já figurava fácil dentre minhas favoritas.


29 de Dezembro de 2001. O disco do ano era inevitavelmente o Acústico MTV Cássia Eller, o melhor da série de acústicos da emissora, na minha opinião. De Riachão a Nação Zumbi, Cássia conseguia mostrar uma faceta mais light da demonstrada nos discos anteriores, e ganhou público e crítica. E eu estava justamente ouvindo sua versão de "Luz do Sol" quando recebo a ligação de um amigo: "ela se foi". Parecia um parente próximo, parecia um conhecido. Era mais que isso. Uma confidente que, com suas interpretações, preenchia não apenas um vazio na música brasileira na época, mas em meu coração.


Vieram as homenagens póstumas oportunistas, os "fãs de início de carreira inveterados, os cults que torciam antes a cara que se renderam a seu fascínio, os inúmeros hits antes ignorados estourando nas rádios...e também os que falaram mal e maldiziam usuários de drogas, até achando que o acontecido tinha sido "bem feito" e por obra de Deus. Alheio a tudo isso, só me entristecia com a falta de minha tão antiga correspondente, lamentando que trilharia hoje, certamente, uma carreira rica e cada vez mais competente....Agora mesmo, sinto uma angústia profunda, inexplicável. 


Inesquecível. Always...


THIAGO HENRICK











Eu poderia ser um padre ou um dentista
Um arquiteto, um deputado ou jornalista
Eu poderia ser ator e me dar bem
Ser um poeta que escreve versos como ninguém
Eu poderia ser um general da banda
Uma modelo, um herói da propaganda
Eu poderia ser escravo do trabalho
Ser um banqueiro, um estilista do baralho

E não há nenhuma outra hipótese
Que eu não considere, mas
O que eu queria mesmo ser
É a Cássia Eller

Eu poderia ser um mágico ilusionista
Um domador, um gigolô, um psicanalista
Eu poderia ser um campeão de golfe
De luta-livre, de xadrez e do que quer que fosse
Eu poderia ser um escritor da moda
De quem se fala muito mal (e ele nem se incomoda)
Eu poderia ser um alto funcionário
Um balconista ou um bandido sangüinário

E não há nenhuma outra hipótese
Que eu não considere, mas
O que eu queria mesmo ser
É a Cássia Eller

Eu poderia ser um físico nuclear
Um astronauta, um explorador do mar
Eu poderia ser um rei do futebol
Um vagabundo ou um professor de "scol"
Eu poderia ser um grande cineasta
Um detetive e ter segredos numa pasta
Eu poderia ser um monge do Nepal
Um jardineiro, um marinheiro, etc e tal

E não há nenhuma outra hipótese
Que eu não considere, mas
O que eu queria mesmo ser
É a Cássia Eller

[PÉRICLES CAVALCANTI]



Abaixo, o super texto de meu querido Jardel Ther, dono do melhor blogue sobre a cantora, o Cássia Eller Relicário!




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