sábado, 11 de dezembro de 2010

SECOS & MOLHADOS: POESIA NUMA ÉPOCA DE CHUMBO!


Uma das mais intrigantes capas da música brasileira



"Ney Matogrosso sai dos Secos & Molhados da mesma forma como entrou, sem nada. Permaneceu no Rio de Janeiro onde tinham ido gravar o Fantástico, mas terminou não aguentando o cerco da imprensa em busca de maiores explicações. Desapareceu. Foi para Mato Grosso deixar a poeira baixar, curtindo uma curiosa liberdade: não possuía vínculos com ninguém. Nem com a firma Secos & Molhados, cujo contrato se recusara a assinar e gerara a separação, nem com a gravadora Continental, já que o responsável pelo grupo era João Ricardo. Livre novamente, sem um tostão (gastara todo o dinheiro com os amigos), mas com tempo para imaginar sua vida dali para a frente." (Um Cara Meio Estranho - Ney Matogrosso - Denise Pires Vaz).





O que muita gente talvez não saiba é que, apesar de Ney Matogrosso ter integrado o conceituado grupo "Secos & Molhados", não foi seu idealizador. A banda começou com João Ricardo, que criou o nome em 1970. Em 1971, começa suas atividades com outros integrantes e Ney só entraria no final do mesmo ano. Nesse período, vários músicos se interessavam em fazer parte da promissora banda de rock (?) mas João Ricardo parecia ter um rígido critério seletivo, de modo que a formação clássica ficou mesmo ele, Ney e Gerson Conrad. O primeiro disco é lançado em 1973, e com o auxílio da aparição no programa global "Fantástico", tornam-se o maior objeto de discussão do país.


As apresentações eram ousadas, o figurino irreverente e as maquiagens exageradas. Não faltaram vozes que os alardeassem como os "Kisses" brasileiros, contudo não haviam guitarras distorcidas ou agressividade gratuita - o rock pesado da equipe era acrescido de poesia, dança folclórica e críticas contra a ditadura. Ganharam uma hiper notoriedade nesse período, até o lançamento do segundo álbum, "Secos & Molhados II" em 1974, ano em que, apesar de ainda estarem no auge (o que engloba uma viagem para se apresentar no México) desentendimentos financeiros fizeram essa formação clássica se dissipar. João Ricardo continuou com a marca por muitos anos, e Ney Matogrosso partiu pra bem sucedida (até hoje) carreira solo.


COMENTÁRIO DE TH: Admiro o potencial de João Ricardo de persistir com seu projeto por tantos anos. Lançou discos até o ano 2000 (Memória Velha) mas, sem dúvidas, os melhores são mesmo os que Ney integrou. O cantor desde cedo já magnetizava no grupo, e inevitavelmente roubou todos os destaques para si, refletidos em sua carreira solo. Os dois discos (Secos & Molhados I e II) são perfeitos e figuram fácil na minha lista de melhores álbuns da música brasileira.
As marcas do grupo são gigantes: hits absolutos como "Sangue Latino" e "Rosa de Hiroshima" até hoje são regravadas sempre. A canção "O Vira" é passada para frente de geração à geração, e atualmente, quase quarenta anos depois do fim da formação original do grupo, é executada em rádios e programas de televisão.
Uma crítica: eu D-E-T-E-S-T-O o disco "Assim Assado: Tributo a Secos & Molhados", lançado oportunamente em 2003, 30 anos depois do primeiro lançamento do grupo. Não gostei das versões, tampouco de alguns dos escolhidos (Ritchie, Pitty, Toni Garrido, etc.). A homenagem merecia melhores intérpretes, na minha opinião...



*************************************
ROSA DE HIROSHIMA
Secos & Molhados
Composição: Vinicius de Morais & Gerson Conrad


Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada


TH - Quem não se emociona?



5 comentários:

  1. Dá uma vontade de chorar toda vez que ouço essa!

    ResponderExcluir
  2. "O Vira", "Sangue Latino" e "Rosa de Hiroshima são hits até hoje. Não tenho uma opinião formada, por leitura, do grupo de que o Ney participava antes de cantar a abertura da novela global "Pecado Rasgado", em 1978

    Eu tenho uma dúvida que nunca me esclareceram: a faixa do LP internacional de "Te Contei?" tem uma faixa muito legal dos Secos & Molhados, tema de Rita (Elizângela): "De mim pra você". Parece que o Ney Matogrosso não era o vocalista....

    ResponderExcluir
  3. Gostei do post. Sempre gostei do Ney, mas nunca comprei CDs e/ou acompanhei a carreira. Tenho tentado corrigir essa falha recentemente. rs É um artista de primeira grandeza. O post ajuda a compreender a história e o formato da sua carreira atual. Abço.

    ResponderExcluir
  4. Marcelo, nessa epoca o Ney já não era vocalista do S&M. Ele só durou dois anos lá (73 e 74).

    ResponderExcluir
  5. Simplesmente AMO Secos & Molhados!!!!

    Seu blog é bárbaro! Mas é preciso muito tempo para poder degustar tudo....


    BEIJOS!!!!


    Que dia vc vai falar do RAULZITO? Avise-me por favor quando isso acontecer...hahaha....

    ResponderExcluir

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...