segunda-feira, 1 de novembro de 2010

ARTISTA DO MÊS: ZÉLIA DUNCAN!


A mais versátil e mutante cantora brasileira!



Estou me acostumando comigo.
Revendo a casa os vizinhos
E os vazamentos e isso já não me assusta mais (...)
Se volto pra mim
Pouso na terra
E é macio saber
Que isso não me assusta
E "Me Gusta" voltar..."


Quem ouve o início do DVD "Sortimento Vivo", de 2002, testemunha uma das melhores sintonias entre artista e público existentes na música brasileira.
Aqui no EnTHulho, eu costumo falar dos artistas de maneira imparcial, fazendo leves críticas aqui, elogios um pouco mais acalorados acolá, porém nunca saí da medida exata. Estou prestes a fazê-lo, agora.
Impossível não mencionar a importância e o fascínio que essa mulher exerce em minha vida. E a postura da mesma em entrevistas, shows, camarins, twiters, e-mails respondidos, é igual: carisma, simpatia e inteligência esbanjada. Sorriso brejeiro, forte presença cênica, uma voz grave potente que se manifesta conforme manda o sentimento da canção e o principal: tem consciência da função que opera na música brasileira.
Não economizo elogios pois sei que Zélia merece muito mais do que o reconhecimento que já tem. Poucas artistas conseguem fazer álbuns tão milimetricamente trabalhados e diferentes um do outro, ou ainda escolher parcerias tão bem sintonizadas - aliás, na música brasileira, é raro quem ainda não gravou com Zélia. Ela tem esse dom de deixar o "partner" "em casa" ao seu lado, e alcança a mágica da condução equilibrada do dueto. Por isso tanta gente a aceita de pronto e chega junto :)
Ms. Duncan também ousa bastante. Às vezes, as vendagens pouco importam ante a vontade de fazer registros que tanto quer, como na fase do "Eu Me Transformo em Outras", ou ainda vai além, aventurando-se em tantos projetos paralelos como nos "Mutantes" e no disco que lançou junto a Simone. Não comentei antes mas, além de intérprete competente, é uma compositora ímpar! E foram justamente suas composições certeiras, confessionais e íntimas que pontuaram minha identificação e a falta de pudor de afirmar: minha cantora preferida de todos os tempos, tendo, cada álbum seu, uma importância espetacular em cada fase de minha vida.
Acompanho sua carreira há muuuuito tempo e ela continua com essa mania de me surpreender. Há duas semanas a vi no Som Brasil cantando junto ao Marcos Valle "Eu Preciso Aprender a Ser Só", e não contive a emoção...
Ao longo do mês, o blog ficará repleto de matérias especiais sobre sua carreira, com direto a listas afetivas e curiosidades de Zélia. E, abaixo, uma mini biografia improvisada, desta vez assinada por este que vos escreve!
Salve Zélia Duncan!




Zélia nasceu em 1964 em Niterói e, aos 6 anos de idade, foi para Brasília, onde ficou até os 22 anos. Apesar de amar sua terra, foi na capital federal que teve todas as oportunidadades musicais possíveis e começou a cantar profissionalmente, na extinta Sala Funarte que, na época, abria concorrência para que novos talentos se apresentassem. Tendo um tímido reconhecimento, aos poucos Zélia Cristina (como assinava seu nome artistico na época) foi convidada para estender seus shows além de Brasília e a abrir para artistas mais consagrados, tendo seu grande passo ao fazer a abertura do show de Luiz Melodia, a convite do próprio.
Em 1987, de volta ao Rio de Janeiro, contando com a experiência adquirida, Zélia decide montar seu primeiro show agora em terras cariocas e assim o fez, no Botanic. O repertório já mostrava o largo flerte que a moça tinha com Itamar Assumpção e ela primava por composições menos conhecidas.

Em 1989, pensou fazer algo mais ousado, diferente, audacioso e, ao conhecer a diretora teatral Ticiana Studart, vinda de Nova Iorque e que tinha planos parecidas. produziram juntas o show “Zélia Cristina no Caos”. O nome do show foi dado devido ao stress que sentiram ao perceberem que os recursos eram precários, assim como caótico era produzir no Brasil, em espaços também caóticos, e onde a violência é um caos e o tratamento dado à cultura era também um caos. Nada mais propício! Mas o caos todo lhe rendeu o convite da Eldorado para gravar um disco.
Foi em 1990, o LP 'Outra Luz", disco com instrumentais precários, mas que, desde então, já mostrava que o caos rendeu o melhor dos frutos, e vimos Zélia já apostando em composições próprias, misturadas com versões de Kenny G, Rita Lee, com participação afetiva de Luiz Melodia. Destaque nesse disco, pra mim, para 'Super Homem, a canção", uma das interpretações mais sensíveis da excelente letra de Gilberto Gil.
Devido à insatisfação com o resultado, Zélia resolveu passar um semestre nos Emirados Árabes, cantando diariamente num hotel, numa espécie de "estágio', o que foi primordial pra sua carreira. De volta ao Brasil, assinalando agora como "Zélia Duncan", ressurge num período marcado por grandes aparições da música brasileira dos anos 90 como Marisa Monte, Cássia Eller e Adriana Calcanhotto. Conhecer Guto Graça Melo - grande produtor, compositor responsável pela produção musical da Rede Globo e de vários filmes, foi um acontecimento interessante, o que levou a parceria de ambos para o lançamento de futuros registros de shows seus.

Em 1994, lança, pela WEA, o que é considerado pelos seus maiores fãs o seu primeiro disco, "Zélia Duncan", marcado pela versão de "Catedral", pro sucesso de Tanita Tikaram. Mas o disco teve muito mais! "Nos Lençois desse Reggae" entrou na trilha de "Confissões de adolescente", a própria "Catedral" estourou nas rádios - era intrigante quererem saber quem era aquela cantora de voz grave e suave cantando versos tão românticos e íntimos e estourando nos primeiros colocados de todos os rankings. Minha preferida do disco é a também famosa "Não Vá Ainda" - com certeza, com uma participação enorme na vida afetiva de TH :) Vale destacar também a releitura de "Lá Vou Eu", iniciando assim uma bela e acertada parceria entre Zélia e sua compositora, uma tal de Rita Lee... ;)
E veio o reconhecimento: prêmios de vendagens, shows país adentro. Lança a seguir dois álbuns que eu considero os melhores de sua carreira: "Intimidade" (1996) e "Acesso" (1998), fazendo Zélia agora excurisionar pela Europa, Japão e outros países.

Na década de 2000, muda seu estilo musical ao lançar o versátil "Sortimento", alcançando mais sucesso ainda e colocando os hits "Me Revelar" e "Alma" nas paradas. "Alma" virou tema de novela e a música de abertura do show "Sortimento Vivo", cujo registro virou um belo DVD no ano seguinte.
A partir de então Zélia passou a ousar mais em seus estilos musicais. Lança em 2004 um projeto paralelo intitulado "Eu Me Transformo em Outras', onde homenageia seus maiores ídolos musicais, como Ella Fitzgerald, Elizeth Cardoso, Dalva de Oliveira, Cartola...com uma banda criada especialmente pro disco/show. Em 2005, ainda "contagiada" pelo espírito 'mutante" de seus trabalhos anteriores, investe no arrojado "Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band", disco que tem metade de seu repertório Pop, e metade (literalmente) elitizado e com resquícios da capacidade de inovar que vinha apresentando. Ao mesmo tempo, recebe o convite para ser a nova integrante dos Mutantes, onde fica até 2007, saindo para retomar sua carreira solo. Houve ressentimentos? A discrição de Zélia lhe faz calar sobre o tema, porém Sérgio Dias não economizou nas declarações polêmicas: "ela não é uma mutante, e sim uma transformer".

Com o fim (e o registro) da turnê do Pré-Pós-Tudo, Zélia, que, em 2005, havia participado como convidada do show de Simone cantando "Não Vá Ainda", "A Idade do Céu" e "Eu Tô Voltando", resolve lançar um disco com a baiana, de nome "Amigo É Casa". Com um repertório pouco óbvio, que une o melhor do inicio de carreira de Simone e a faceta mais "cult" de Zélia, o disco foi bem aceito e fez ambas excursionarem por todo o país, numa sintonia pouco vista em toda música brasileira.

Chegamos a 2009 e Zélia retoma sua carreira individual com o belo e sensível disco "Pelo Sabor do Gesto", com produção de John do "Pato Fu", participação vocal de Fernandinha Takai e lindas canções, num semblante que remete ao "folk' tão atuante no começo de sua carreira e arranjos quase "beatlicos". Zélia tá aí, pra provar que sabe o papel importante que ostenta na música brasileira e que faz jus a toda confiança depositada pelos fãs, superando-se a cada projeto - paralelo ou próprio!








Presente pros leitores do EnTHulho e, ao meu lado, Zélia em 2010: aspereza e maturidade musical.




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PELO SABOR DO GESTO
Alex Beaupain. Versão: Zélia Duncan
Citação de Fernando Pessoa: fragmentos (1933)

Quem já tocou o amor pelo sabor do gesto?
Sentiu na boca o som? Mordeu fundo a maçã?
Na casca, a vida vem tão doce e tão modesta
Quem se perdeu de si?

Eu já toquei o amor pelo sabor do gesto
Confesso que perdi, me diz quantos se vão?
Paixões passam por mim, amores que têm pressa
Vão se perder em si

Se o amor durou demais, bebeu nas suas veias
Seus beijos de mentira não chegam muito longe
Paixões correm por mim, são só suaves febres
Seus beijos mais gentis derretem pela neve
Pra que tocar o amor pelo sabor do gesto
Se o gosto da maçã vem sempre indigesto?
Amarga essa canção, os dias e o resto
Se perde como um grão

Mas se eu ousar amar pelo sabor do gesto
Te empresto da maçã, vai junto o coração
Esquece o que eu não fiz
Te sirvo o bom da festa
De um jeito mais feliz

Paixões correm por mim, eu sei tudo de cor
carinho sem querer me cansa e me dói
Se o amor vem pra ficar, faz tudo mais bonito
Me basta ter na mão e o corpo tem razão

Há em tudo que fazemos
Uma razão singular:
É que não é o que queremos.
Faz-se porque nós vivemos,
E viver é não pensar.
Se alguém pensasse na vida,
Morria de pensamento.
Por isso a vida vivida
É essa coisa esquecida
Entre um momento e um momento."


TH - Uma verdadeira oração...


17 comentários:

  1. Desde que conheci seu trabalho, Zelia entrou para minha lista de favoritas e não saiu nunca mais. Além de ótima compositora e intérprete, passa a ideia de ser uma pessoa adorável e sua sinergia e respeito para com os fãs é algo raro. Tive a oportunidade de assistir a um show dela em Petrópolis em 98 na época do CD "Código de Acesso", falei rapidamente com ela no camarim e só confirmei a excelente impressão que tinha a respeito dela. Aquelas canções daquele primeiro CD como Zélia Duncan ecoam em minha mente e me trazem boas lembranças até hoje. O trabalho "Eu me transformo em outras" é de chorar e de se ouvir / assistir agradecendo aos céus por tamanha inspiração. Grande artista e belíssima homenagem. O EnTHulho sempre arrasando!!!

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  2. a mulher tem muita história viu, bjssssssssssssssssssss

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  3. compartilhamos o mesmo amor por sua obra prima e magnífica cantora. o carisma, humildade, inteligÊncia e personalidade convicta nos seus princípios me surpreende a cada inovação de trabalho. Salve Zélia!!!

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  4. Embora Zélia não figure entre minhas favoritas, há de se reconhecer a importância de haver, no Brasil atual, uma artista que não tem medo de ousar - de se reinventar sem grandes artifícios - e que consegue aprender com seus erros (The Blower's Daughter, anyone?) e usar as lições para fazer mágica (Pelo Sabor Do Gesto).
    Abração, TH!
    Salve Zélia!

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  5. Bela homenagem a essa cantora incrível pela qual tenho um amor e carinho muito forte, Zélia é diferente e única ela tem algo especial e o mais impressionante não é só mais uma cantora compositora e instrumentista ela tem Amor pelo o que faz, ela canta com a alma isso é fácil de se ver, a observando em seus shows até mesmo pela TV pude perceber isso de cara, ela tem um brilho no olhar e um sorriso largo e sincero, e acho que pro Artista ser completo não precisa ser só um bom músico ter uma voz incrivel e sim AMOR e SIMPLICIDADE e RESPEITO por seu PÚBLICO e isso Zélia Duncan tem de sobra Salve sempre ZD!!

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  6. muito bom o post...adoro a musica q ela canta c o capital no dvd...abçs

    http://vauneiguimaraes.blogspot.com/

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  7. TH, o que posso dizer???
    PERFEITO seu post.
    Zélia, junto à Tori Amos, são as cantoras/compositoras que falam a mesma lingua de minha alma. Parabéns pelo texto. Adorei.
    Abração, Nando Morais.

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  8. Bela escolha na Artista do Mês, adoro Zélia Duncan! Não conhecia toda essa tragetória q vc postou, mas adoro as suas canções.

    Bjos

    http://infinito-particularr.blogspot.com

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  9. Cada dia escrevendo melhor TH. Uma honra ler o que você escreve.

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  10. Desde que ouvi a Zélia pela primeira vez na série "Delegacia de Mulheres", cantando Super-Homem (a canção), achei a voz dela maravilhosa! Só algum tempo depois fiquei sabendo quem era.
    Adoro o trabalho dela!
    Excelente postagem, TH!!!

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  11. Adorei ver Zélia aqui! Conheci a voz antes de conhecer a pessoa, assim que Catedral começou a ser executada em A Próxima Vítima. Só depois é que fui ver quem era a responsável por tão bela canção, ao conferir sua apresentação no Xuxa Hits, numa manhã de sábado. Gravei o programa, dei pause no VHS pra copiar a letra, decorei a mesma e cantei Catedral até cansar! rs

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  12. Arrasando, TH!! Zélia é tudo de bom, voz, repertório, coração. Ainda ontem eu estava ouvindo uma parceria dela com Lenine, na canção "Certas Coisas"... de arrepiar. Bjo.

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  13. E aí está ao lado teu! (Do lado de dentro) rs

    É muito bacana ter essa identificação com um artista, Thiago. São essas coisas que nos alicerçam.

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  14. Impossível esquecer dos acordes Catedral ilustrando as cenas de A Próxima Vitíma. Foi ali que conheci Zélia Duncan. Minha música favorita é a da trilha de Salsa e Merengue. Adoro aquela música.
    Esse blog está cada vez mais chique!!! Até dedicatória de Zélia!!! Parabéns, TH!

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  15. Zélia é perfeita ... uma diva para meu universo musical ...

    bjux

    ;-)

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  16. O contato mais profundo com Zélia eu devo a você, Th. Então que ela e você sejam quase a mesma pessoa para mim. Nunca, antes, eu tinha ouvido o seu trabalho com qualquer especial atenção. Meu contato, real e definitivo, deu-se, mesmo, através do "Pelo sabor do gesto" e, como você sabe, gostei bastante do que conheci, ouvi e me tocou.
    Acho legal quando aprendemos a admirar alguém porque alguém que admiramos a admira! (Isso ficou rocambolesco, mas acho que me fiz entender! Rs)
    Tenho certeza de que tê-la como artista do mês renderá mais ótimas pautas ao Enthulho.
    Aguardando, pois!

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