Como falar sem soar hiperbólico?
Não consigo. Nem que tentasse mil anos.
Na abertura da seção "Artista do Mês" do EnTHulho Musical, um dos caras que mais admiro nessa vida. Durante todo esse mês de Outubro, Chico Buarque de Hollanda será, de uma forma ou de outra, destacado aqui no blog.
Nascido no Rio de Janeiro, (também morou em São Paulo e, posteriormente, na Itália), Chico é filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e da pianista amadora Maria Amélia Cesário Alvim. Sua casa era frequentada por intelectuais e futuros parceiros, dentre eles Vinicius de Morais. Foi nesse âmbito que surgiu seus primeiros interesses por música - e, sobretudo, por unir harmonia, melodia e letras perfeitas. Hoje, Chico se torna referência absoluta no quesito "letras-verdades" : o cantor e compositor concebe um jogo bem sintonizado de palavras morfologicamente bem dispostas. Com conteúdo arrebatador!
Um início tímido como "o misterioso compositor" de "Pedro Pedreiro", revelado ao público numa das edições do Festival da Música Popular Brasileira, na década de 60. A partir de então conhecido, Chico não parou e até hoje está na ativa (ainda que só lance material novo de maneira bem rarefeita).
A seguir, quase toda sua trajetória, com um texto retirado do site oficial do cantor:
Em 1964, apresenta-se pela primeira vez em um show, no Colégio Santa Cruz, cantando Canção dos Olhos. A música Tem Mais Samba também é desse ano e o show de TV então era O Fino Da Bossa, onde se apresentavam, entre outros, Alaíde Costa, Zimbo Trio, Oscar Castro Neves, Jorge Ben, Nara Leão, Sérgio Mendes e Os Cariocas. No auditório do Colégio Rio Branco, Chico mostra a sua canção Marcha Para Um Dia de Sol.
Em 1965, é lançado seu primeiro compacto com Pedro Pedreiro e Sonho de Um Carnaval, sua primeira música inscrita em um festival, o da TV Excelsior. A canção defendida é depois gravada por Geraldo Vandré e não se classifica. O primeiro lugar vai para Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, interpretada por Elis Regina.
No Juão Sebastião Bar, reduto paulista da bossa nova na época, conhece Gilberto Gil. Nesse mesmo ano, conhece Caetano Veloso, que se entusiasmara ao ouvir Chico cantando Olê, Olá num show estudantil. Em 1966, A Banda divide com Disparada, de Théo de Barros e Geraldo Vandré, o primeiro lugar no II Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela Record.
Mesmo morando no Rio, continua mantendo vínculos com São Paulo, onde passa a gravar, ao lado de Nara Leão, o programa musical Pra Ver a Banda Passar, da TV Record. Carolina fica em terceiro lugar no II FIC - Festival Internacional da Canção - promovido pela Rede Globo. Roda Viva também se classifica em terceiro no III Festival da MPB, promovido pela TV Record.
Em 1968 vence o Festival Internacional da Canção, com Sabiá, feita em parceria com Tom Jobim, com quem compõe, no mesmo ano, Pois É e Retrato Em Branco e Preto. Em janeiro de 1969 deixa o Brasil e se apresenta na grande Feira da Indústria Fonográfica, em Cannes, na França. Parte depois para um auto-exílio na Itália.
Retorna ao Brasil em 1970 e afasta-se do samba tradicional, variando mais a linha das composições e revelando novas influências como a toada, em Rosa dos Ventos, o iê-iê-iê italiano com Cara a Cara, e o protesto político com Apesar de Você. Em abril de 1975 é vetado integralmente pela censura seu samba Bolsa de Amores. Rompe com a TV Globo e cancela sua inscrição, junto com outros convidados, no VI Festival Internacional da Canção, em sinal de protesto contra o fato de a emissora criar uma inscrição especial para que os mais famosos não precisassem passar pelas fases eliminatórias.
Em 1972, compõe quase todas as músicas do filme Quando O Carnaval Chegar. Voltaria a fazer músicas para mais dois filmes de Cacá Diegues: Joanna, a Francesa, em 1973, e Bye Bye, Brasil, de 1979. Em 1973, a música Cálice, feita em parceria com Gilberto Gil, é proibida pela própria Phonogram. Com medo de represálias, a gravadora desliga os microfones do palco e impede Chico e Gil até mesmo de tocarem a melodia da música.
Também em 72, a censura proíbe a capa do disco Chico Canta, com as músicas da peça Calabar. Para driblar a censura, cria o personagem heterônimo Julinho da Adelaide. A artimanha dá certo e as canções Acorda, Amor, Jorge Maravilha e Milagre Brasileiro passam sem grandes problemas pela censura. Julinho da Adelaide concede ao escritor e jornalista Mario Prata uma longa entrevista para o jornal Última Hora. O público só tomaria conhecimento da verdade por meio de uma reportagem publicada em 1975 pelo Jornal do Brasil.
Em 1975, resiste às tentativas dos que querem transformá-lo em um símbolo da luta política contra o regime militar. Em 1976, compõe O Que Será, para o filme Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto. Sai o disco Meus Caros Amigos.
Em 1978, estréia a peça Ópera do Malandro. No mesmo ano, ganha o Prêmio Molière como melhor autor teatral pelo seu trabalho em Gota d´Água e lança o LP Chico Buarque 1978, e Chapeuzinho Amarelo, o primeiro livro infantil de sua autoria, ilustrado por Donatella Berlendis, além do álbum duplo Ópera do Malandro.
Em 1980, lança o LP Vida, que traz, entre outras, a música Eu Te Amo, feita especialmente para o filme homônimo de Arnaldo Jabor. Lança ainda os discos: Almanaque e Saltimbancos Trapalhões. Em 1982, em parceria com Edu Lobo, compõe as canções para o balé O Grande Circo Místico, que seria lançado em disco no ano seguinte.
Em 1983, compõe o samba Vai Passar, que no ano seguinte se tornaria uma referência na campanha pelas Diretas Já, da qual participa ativamente. Lança o disco Chico Buarque 1984. Em 1986 comanda, ao lado de Caetano Veloso, o programa de televisão "Chico e Caetano", que permaneceu por sete meses na programação da Rede Globo. Em 1987, lança o disco Francisco e volta aos palcos dirigido por Naum Alves de Souza. Em 1989, lança o disco Chico Buarque.
Em 1992, lança seu primeiro romance, Estorvo, publicado pela Companhia das Letras, com o qual ganha o Prêmio Jabuti de Literatura e vende 7.500 exemplares em apenas três dias, surpreendendo a Editora Dom Quixote. Em 1995, escreve o segundo romance, Benjamim, que, lançado em 1995, recebe críticas desfavoráveis de parte da crítica literária, não obstante o sucesso de vendas e os elogios de grandes nomes da literatura.
Em 1997, participa do disco Chico Buarque de Mangueira, com regravações de clássicos dos compositores da escola e com duas canções inéditas (Levantados do Chão e Assentamento) e, em 1998, é o homenageado no desfile em que a Mangueira sagrou-se campeã do carnaval de 1998. De Paris, escreve artigos para os jornais O Estado de S. Paulo e O Globo durante a Copa do Mundo. O CD As Cidades, com sete canções inéditas e quatro regravações, chega às lojas cinco anos depois de Paratodos. É seu primeiro trabalho lançado na Internet.
COMENTÁRIO DE TH: Falar de Chico Buarque, como mesmo supracitei, é árduo. Não poderia, contudo, ter estreado melhor a seção. Ao longo do mês, volta e meia o artista será citado e colocarei mais matérias sobre ele. Acima, no lay out do blog, pus meu disco preferido dele, "Construção", verdadeira obra musico-literária nossa. E aguardem mais novidades do mestre aqui no EnTHulho! ;)
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PEDRO PEDREIRO
Chico Buarque de Hollanda
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando prá trás
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol esperando o trem, esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval
E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando a festa, esperando a sorte
E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro tá esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo espere alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar, mas prá que sonhar se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás, quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho prá esperar também
Esperando a festa, esperando a sorte, esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém, esperando enfim, nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem...
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem
TH - Que bela estreia, hein??
Ele não é um artista que me agrada.
ResponderExcluirSimplesmente não gosto dele.
;)
Uma justa homenagem. Adoro o Chico compositor. Não gosto dele como cantor. Nao tem emoção ao cantar. Prefiro suas belas canções nas vozes das nossas maravilhosas cantoras.
ResponderExcluirMeu artista preferido . Uma obra genial
ResponderExcluirAdoro as musicas dele,fora que ele é tricolor *-*
ResponderExcluirEstou ajudando uma amiga minha com a divulgação do blog dela, ficarei grata se puder seguir e comentar !
http://gihcamp.blogspot.com/
Quando o CD emplacou e o Rio de Janeiro inteiro despejava os seus LP's nas bancas dos camelôs do centro da cidade eu adquiri vários discos do Chico. Dos citados na matéria, eu tenho "Meus Caros Amigos". "Vida", "Almanaque", "Francisco"... O "Francisco" eu fiz em CD porque tem uma faixa em "Sassaricando" que foi tema do meu ídolo Edson Celulari. De "Francisco" destaco a gravação original de "Todo Sentimento", que foi tema da Heleninha Reutemann, na voz da Verônica Sabino.
ResponderExcluirEu nunca fui o fã número 1 do Chico mas convivendo com jornalistas no RIo é impossível ignorá-lo.
Marina Lima fez seu retrato do Rio, Adriana Calcanhotto fez seu retratto do Rio. São ótimas mas são elitistas. Já o Chico, não. Ele gosta do Rio como ele é: samba, paixão, malandragem, MPB.
Não gosto da fase engajada dele porque a musicalidade das músicas não é bonita, fica apenas a letra. Por isso não ouço o "Construção", aliás, cá entre nós, essa música parece algo como "Laranja Mecânica", eu fico assustado.
Pra terminar, a música dele que acho mais bela chama-se "Brisa do Mar" e entrou pra trilha de "Celebridade", novela carioca por excelência.
Ah, adoro aquela que diz:
"Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água"
Entra ano e sai ano e esses versos sao sempre atuais.
Chico é e sempre será Chico né?
ResponderExcluirFelizmente vcs ficaram livre do Collor eim? Parabéns aos Alagoanos ...
bjux
;-)
Conheço algumas letras de Chico e o acho um poeta!
ResponderExcluirNão gosto muito da voz, mas não há como negar que é um artista e tanto.
Boa escolha!
Vou acompanhar!
BeijO*-*
http://www.evesimplesassim.blogspot.com/
Coincidência (ou não) ontem estive aqui. Fiquei lendo, descobri Katia B, fui ouvir, gostei e esqueci de deixar marcada minha passagem. Agora demarco meu pedaço de terra. rsrs
ResponderExcluirQue alegria esta matéria aqui! Sou fã do Chico e, a despeito de opiniões em contrário, não vejo como não sê-lo. De fato, Thiago, estamos construindo, eu e você, uma parceria muito bacana e fico feliz de constatar isso. Sinto real entusiasmo desde que descobri o teu blogue, porque é de fato, como eu disse, o único espaço com o qual me deparei até aqui, na blogsfera, onde se fala de música brasileira com esta riqueza de informações. Eu me identifico totalmente com o Entulho e já estou aguardando a série sobre o Chico. A propósito, se me permite, gostaria apenas de deixar registrada uma crítica ao posicionamento de um dos teus leitores acima que afirma serem elitistas as leituras de Adriana Calcanhotto e Marina Lima acerca do Rio. Primeiro porque eu penso que, para elogiar um artista, não é necessário, contrapôr outro ou outros, porque as comparações, simplesmente, são desnecessárias. Além disso, a Adriana possui vários pontos de contato com o Chico em sua obra e, certa vez, declarou até, em entrevista, que a música "Bye bye Brasil" é uma canção tão importante pra ela, que não tinha coragem de gravá-la, porque tinha por ela uma espécie de devoção. O que, por si só, demonstra o diálogo artístico entre esses dois poetas. A Marina, por sua vez, passeia pelo samba em usa trajetória musical é também apaixonada feito o Chico (e aliás já gravou música dele). Penso que devemos evitar os rótulos e este, em especial, me incomoda bastante (essa coisa de ser elitista) porque é usado de forma pejorativa em relação a quse todos os nossos bons compositores e até em relação ao Chico, que também costumam chamar de elitista pelo zelo em suas composições e por ser tão metafórico. Aliás, questiono também essa coisa de que o Chico não é bom cantor e que só as letras são válidas e digo mais: o que se espera de um poeta, um letrista, é que faça letras. Por outro lado, a voz do Chico não é demérito, é preciso inverter essa ótica: as intérpretes de sua obra é que são excepcionais e colocam luz sobre suas brilhantes canções, é o contrário.
ResponderExcluirBom, é isso.
"Futuros amantes" é minha preferida, Thiago, se puder inclua na tuas próximas matérias.
Um abraço forte.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBrisa do Mar é de João Donato e ficou linda com o Chico cantando.
ResponderExcluirCaraca, TH! Qdo vi a chamada do teu post, corri prá cá. Amo Chico de paixão.
ResponderExcluirComo aqui eu me sinto em casa, vou até me permitir fazer uma gracinha, com as minhas músicas favoritas:
- Sempre que encontro "Luíza" (minha "Maninha"), nós saímos para olhar "As Vitrines". Depois vamos tomar alguma coisa, e entre um "Copo Vazio" e outro ela me diz prá tirar essa "Tatuagem" que fiz para "O Meu Guri", querendo me fazer entender que ele levou um "Pedaço de Mim" toda vez que eu chorava "Atrás da Porta", dizendo "Eu te amo"...
Valeu, TH. Chico é tudo!!
Nossa, que master! Uma pesquisa incrível sobre Chico! Eu tenho que confessar que não gosto muito, mas respeito porque a música dele fez o Brasil ser bem lembrado em outros países. E olha que nossos rankings são sempre de coisas lastimáveis! Abraços!
ResponderExcluirMárcio,
ResponderExcluirAs duas cantoras que eu citei são as minhas favoritas. Entendo que não precisava tê-las comparado ao Chico para defender a postura do Chico em relação ao modo de vida carioca.
"Morro Dois Irmãos", que está na "Fábrica do Poema", da Adriana Calcanhotto, também é de composição do Chico e acho muito semelhantes as brincadeiras com palavras que os dois fazem com as palavras.
Genio pra dizer o minimo^^
ResponderExcluirUm artista completo!!
Ah como eu amo...
Cada vez+acho q ou o EnTHulho tinha q virar programa de radio ou aquelas revistas q vem c/cd saka??Rss
Grande Teagazudo!!!!!
tantas informações maravilhosas do chico o Chico é realemte um figura fantasticva eu me deleito tanto nas suas letras viajo em seus poemas é o homem encantador da música maravilhosa reportagem a sua como sempre
ResponderExcluirSou super fã do Chicão. Adoro as letras de suas músicas!!! Minha preferida é "Construção".
ResponderExcluirAbraços!
Marcelo
ResponderExcluirQue bom encontrar tua resposta aqui. Depois de expôr os meus pontos-de-vista, fiquei com receio de ter parecido hostil. Fico feliz de ter contribuído com estas ponderações.
Thiago, teu blogue é um fórum musical interessantíssimo.
Estava revendo os vídeos do Festival MPB de 1967... O Chico sendo entrevistado de forma descontraída, uma delícia! O entrevistador pede:
ResponderExcluir_ Chico, dá um "boa noite" pros telespectadores...
E o Chico:
_ Ahn?!?! Telespectadores?!?!?!?!
Uma graça...