domingo, 8 de março de 2015

AMIGO MUSICAL CONVIDADO # 46 : Cátia Portella ! (Especialmente para o Dia Internacional Das Mulheres!)



Parem tudo! Cátia Portella?  C Á T I A  P O R T E L L A no EnTHulho??

É areia demais pro nosso caminhãozinho musical! risos. 

Tô brincando. Já flertava com a possibilidade de Cátia pintar por essas bandas há tempos, mas sempre relutei em convidar. É que ela não demonstrava tão explicitamente assim o verdadeiro amor que tem por música brasileira, nossa afinidade musical sempre enveredava mais pro âmbito internacional (e eu digo: o gosto dela é FODA! E ainda partilha do mesmo pensamento que eu: a música perde sua essência quando o correspondente artista ou banda descamba pro capitalismo exacerbado, visando tão somente o lucro.).

Conheci essa linda arquiteta paulistana por intermédio do Dan Vícola. Tenho um carinho enorme por sua disponibilidade e um fascínio verdadeiro por sua inteligência e postura sensata diante de inúmeros temas, além de louvar o seu engajamento sócio-político, que a torna uma cidadã mais completa ainda. 

Também admiro bastante sua fé: é genuína, real, e nem de longe tenta te viralizar, como fazem tantos religiosos fanáticos que existem por aí. Mas quem vê, pensa que é uma criatura centrada e séria a todo momento. É nada!! (risos). Ela A-MA zoeiras e bobeiras, e ri feito criança, nos contagiando de imediato. Não há quem não se sinta à vontade com seu lado brejeiro e feliz. 

Não temos uma amizade tão antiga como eu gostaria (mas chegaremos lá ;) ). Logo, vou buscar as palavras de quem a conhece há mais tempo, e podem definir com exatidão a grande convidada de hoje: 



"Ela ultrapassa, transcende, chega antes, constrói as mesmas sinapses (e as mesmas infâmias!), enxerga com a mesma lente, veste a pele do outro com uma delicadeza e acuidade que nada mais se pode desejar depois que ela, com seus encantos de fada, atravesse seu caminho. Eu a amo, admiro e respeito da mesma forma que se ama, admira e respeita tudo aquilo que nos é essencial. Hoje, em seu dia, uma vez mais, dou graças a Deus pela sua vida, sua presença, sua amizade."

 DAN VÍCOLA


Como uma exímia representante do sexo feminino, ela me deu uma super ideia, que acatei de pronto: propôs-se usar as mais belas palavras (e ela escreve MUITO BEM!) para homenagear as mulheres, nesse Dia Internacional da Mulher, por intermédio da música. E escolheu ninguém menos que Chiquinha Gonzaga, a mãe de todas as cantoras, que, com todas as agruras de sua história de vida, rompeu barreiras e se tornou o ícone que é. 

No início do texto, mencionei que tanto a Cátia como eu não compramos artistas que desrespeitam a arte musical e só visam o lucro. Ironicamente, Chiquinha, a eleita da Cátia fez o extremo o oposto: chegou às últimas consequências em sua trajetória de vida em nome do ofício musical. É um interessante (e curioso) paralelo :)



Amo esse sorrisão feliz!


Thi fez o convite para minha passagem por aqui já desacreditando que eu aceitaria, pela negligência à MPB em minhas playlists. Mas a grande verdade é que passei anos ouvindo apenas MPB e com a saturação passei a mesclar mais meu repertório, o que gradativamente foi mudando o foco de minha preferência à música independente, mais comprometida com a arte do que com o mercado, que possui um movimento maior fora do Brasil.

Foi difícil escolher um representante musical para essa missão. Passeei por Legião Urbana, que não é só o maior expoente do rock nacional em minha modesta opinião, mas também foi responsável pelo meu despertar diante das dores filosóficas da vida. Mas um dia desses tive recaída por Chico Buarque, o homem mais feminino que existe e alguém quase hour concour em nosso quadro de expoentes da música nacional. Estava decidida por essa escolha até me dar conta de que um dos meus assuntos preferidos atualmente é o empoderamento feminino e de estarmos adentrando o mês de março (esse mês que só produz pessoas lindas, não Thiago?), prestes a comemorar o dia internacional da mulher. E então não poderia escolher alguém além de Chiquinha Gonzaga.

Essa mulher muito à frente de seu tempo nasceu em meados do século XIX e precisou renascer sabe-se lá quantas vezes para se impor como um ser autônomo do homem, não submisso e dona de seus próprios desejos. Nascida de uma mestiça pobre, Chiquinha era também filha de um general e foi treinada a ser submetida ao mundo machista e conservador de sua época, onde mulheres não serviam senão para serviçais do homem, necessárias à procriação. Casou-se aos 16 anos forçada pelo pai, divorciou-se por não aceitar as humilhações que sofria e viu-se obrigada a separar-se dos 2 filhos mais novos, pois representava uma vergonha à sua família. Viveu humildemente de música a maior parte de sua vida, foi expoente do choro e do maxixe, ativista pelo abolicionismo. Vítima de muito preconceito, sofreu uma série de privações sem jamais abrir mão de suas convicções e desejos. Apaixonou-se perdidamente mais duas vezes, sendo a segunda delas aos 52 anos por um rapaz de 16 com quem viveu até o fim de seus dias como sua mãe adotiva, para que pudessem viver aquela relação sem outra enxurrada de comentários maldosos da sociedade e manter o respeito que tinha conquistado a muito custo, o que devo confessar que não teria coragem de reproduzir nem mesmo em nossos dias. Nossa primeira maestrina faleceu no início do carnaval de 1935 nos deixando um legado com mais de 2000 composições.

Dentre elas escolhi como representante o maxixe ‘Corta-Jaca’, uma dança de movimentos rápidos que utiliza os pés imitando o corte de uma navalha, muito polêmica na época. Como não temos registro cantado dessa música pela própria Chiquinha, escolhi uma linda intérprete chamada Lysia Condé justamente por seu vídeo contar a história curiosa e simbólica dessa música.

Vejam: estamos há um século e meio, desde então, lutando para dar à mulher um real significado, para que a enxerguemos como seres autônomos e donas de seus próprios desejos. Chiquinha fazia isso bravamente, merece ser louvada por isso todos os dias.

CÁTIA PORTELLA
Arquiteta
São Paulo, SP. 



Chiquinha Gonzaga, 1877, por Ralfe Braga, 2012. 


Convidamos agora, a pedido da Cátia, a talentosa Lysia Condé, mineira que hoje mora em Natal-RN, para representar esse clássico de Chiquinha, complementando, assim, nossa homenagem conjunta às mulheres, tão vitais e essenciais em nossa vida. Aplausos!!


CORTA-JACA
Chiquinha Gonzaga
Interpretação: Lysia Condé

Neste mundo de misérias
Quem impera
É quem é mais folgazão
É quem sabe cortar jaca
Nos requebros
De suprema, perfeição, perfeição

Ai, ai, como é bom dançar, ai!
Corta-jaca assim, assim, assim
Mexe com o pé!
Ai, ai, tem feitiço tem, ai!
Corta meu benzinho assim, assim!

Esta dança é buliçosa
Tão dengosa
Que todos querem dançar
Não há ricas baronesas
Nem marquesas
Que não saibam requebrar, requebrar

Este passo tem feitiço
Tal ouriço
Faz qualquer homem coió
Não há velho carrancudo
Nem sisudo
Que não caia em trololó, trololó

Quem me vir assim alegre
No Flamengo
Por certo se há de render
Não resiste com certeza
Com certeza
Este jeito de mexer

Um flamengo tão gostoso
Tão ruidoso
Vale bem meia-pataca
Dizem todos que na ponta
Está na ponta
Nossa dança corta-jaca, corta-jaca!



TH - Mais aplausos!


2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Introdução pobre aonde, Thiago? rs Quem me dera me ver assim, como você e o Dan!

    Eu não tinha feito o paralelo do indie com Chiquinha, interessante esse ponto de vista! Mas, por outro lado, ambos tentam sair da zona de conforto em prol da arte. Chiquinha chegou lá pois era inevitável, com todo aquele talento e vivendo naquela miséria. Ela não conseguiria nada além da autonomia para se sustentar diante dos preconceitos que sofria. Nesse aspecto, sorte a nossa! Senão talvez não a teríamos conhecido!

    Fazer esse post me fez pensar muito no papel da mulher, nas lutas diárias, lutas que talvez nem tomamos conhecimento. Minha avó apanhava do meu avô, isso nem faz tanto tempo! Minha mãe viveu uma vida submissa ao lado do meu pai e hoje é uma pessoa totalmente diferente ao viver longe dele. Que essas reflexões nos façam ser humanos melhores. pois até nas mulheres reside muito machismo. Olhar para dentro, reconhecer essas atitudes e buscar nossa mudança de olhar diante delas já é uma imensa tarefa!

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