quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

AMIGO MUSICAL CONVIDADO # 41 - José Vitor Rack



Acredito que identificação é requisito essencial para a escolha de convidados para essa seção, dificilmente eu escolheria alguém com quem não tivesse o mínimo de afinidade...

Com amigo José Vitor Rack (São José Do Rio Preto, SP), entretanto, isso se superlativa. Meu grande companheiro de ideais políticos e visão humanitária da sociedade e de vida. Nosso contato cresceu bastante nos últimos meses, diante dos acontecimentos políticos. Aliás, o que vivenciamos foi uma verdadeira guerra, um massacre bélico que fez com que houvesse déficit de "amizades" por todos os lados. Vou além: essas eleições fizeram com que eu enxergasse determinadas pessoas pelo viés de suas prioridades de vida, pela mesquinharia apresentada em seus argumentos, pelos valores que sustentam e pelas opiniões impermeáveis.

Por outro lado, o período de eleições também me fez ganhar muita gente. Conheci muitas pessoas bacanas, com valores semelhantes aos meus, e reconheci tantos outros - caso do Zé! Aproveito esse espaço para agradecer o TANTO que aprendi sobre politica nesse período, com seu engajamento consciente e ideias claras.  (Já disse que votaria nele se fosse candidato...risos).

O Zé vai além da política. É um sujeito divertido, inteligente, sempre com tiradas excepcionais em seu perfil do Facebook. E, como não poderia deixar de ser, adora música, e já admitiu, determinada vez, que foi um MTViciado, e passava horas diante da emissora musical. Há como se identificar mais? Risos. 

Como escritor-autor talentoso que é, evidente que não perdi tempo e encomendei um texto caprichado. Ele o fez em tempo recorde e hoje apresento-lhes o ótimo resultado. A poesia marcante dos Secos & Molhados foi sua escolha. Valeu, querido!!



“Fala” é a última faixa do primeiro disco dos geniais Secos & Molhados, banda formada por João Ricardo, Ney Matogrosso e Gerson Conrad em 1973. Foi composta pelo João, líder e mentor da banda, e por Luli, da dupla Luli e Lucina


Num vídeo de seu canal no YouTube, João diz que Fala não é uma de suas músicas prediletas. Muito pelo contrário. Acha ela menor, algo que fechou o disco e que os fãs gostam, nada mais do que isso. 

Respeito muito o João, ele é autor da música, deve saber o que fala. E realmente uma banda que tem músicas como Mulher Barriguda, El Rey, Flores Astrais e Sangue Latino em seu repertório, tem motivos mais que suficientes para achar umas melhores que outras. Apesar do meu respeito e entendimento, acho que “Fala” é a maior música da banda, uma das mais lindas obras de arte da história de nossa cultura. Discordo do poeta. 

“Fala” representa a junção da voz perfeita de Ney Matogrosso com um arranjo que começa intimista e termina grandioso, com cordas que rasgam o coração de qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade. Um solo de Moog, um sintetizador moderníssimo para a época, torna a música ainda mais especial, juntando linguagens em prol do sublime. Zé Rodrix, um de meus artistas favoritos, participa dessa faixa. A letra de “Fala” é intimista, pequena, propositadamente repetitiva. Eu não sei dizer nada por dizer, então eu escuto é uma poesia! É uma frase que se desdobra em significados. Para mim, para a minha vida, significou muito numa época muito difícil. 

Descobri os Secos & Molhados no fim dos anos 90 e logo elegi “Fala” como a minha favorita por conta deste verso que destaquei. É uma espécie de desabafo dos tímidos, dos introvertidos, dos não populares. Uma música que idolatra o silêncio é tudo que um cara quieto, dolorido, sentido precisa ouvir. 

Eu não era propriamente tímido, mas estava muito machucado pelas porradas que a vida invariavelmente dá no lombo da gente. Fragilizado, doente, triste, amargo, me recolhi à minha casca, ao meu casulo. Deprimi. 

Ouvir essa obra-prima do glam rock brasileiro bateu em mim como se alguém soubesse exatamente o que eu sentia e transformasse esse lixo em luxuosa sinfonia. Até hoje, ouvir a progressiva “Fala” me dá uma sensação de pertencimento, de compreensão. Esse cara tá falando o que eu já senti, o que eu conheço. 

É uma música sutil, delicada, nada óbvia, de letra curta e sentimento longo. 

Uma das músicas da minha vida.

JOSÉ VITOR RACK

Autor Roteirista


E, como o Zé já falou, vamos deixar os Secos & Molhados falarem, também, agora!



Os "astrais" do cancioneiro brazuca. 



FALA
João Ricardo/Luli
Secos & Molhados

Eu não sei dizer 
Nada por dizer 
Então eu escuto
Se você disser 
Tudo o que quiser 
Então eu escuto

Fala 
Fala

Se eu não entender 
Não vou responder 
Então eu escuto

Eu só vou falar 
Na hora de falar 
Então eu escuto

Fala...


TH - Lançando um grito e um desabafo no espaço!



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