quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

AMIGO MUSICAL CONVIDADO # 42 - Esmejoano Lincol


Tornou-se "lugar comum" falar mal da juventude de hoje, dizer que os jovens são rasos, que tem cabeça de alfinete (essa expressa é antiga...tô ficando velho..rs). Ajuda nessa ideia a atitude de muitos "novinhos", nesses tempos interativos de "ler o título da notícia, fazer um comentário genérico pseudo intelectual e compartilhar". São eles mesmos que fazem Clarice Lispector e Fernando Pessoa os campeões de autoria de frases diversas (até do É o Tchan). A juventude com preguiça de se informar, com essa pressa de se comunicar sem se instruir o suficiente, infelizmente, impera. 

Eu fico feliz, contudo, quando vejo alguns "desobedientes" a essa ingrata regra. Jovens que se preocupam, que se perguntam, que investigam, que buscam, que cogitam, que conjecturam...são "novinhos" que nos revigoram a esperança de que o mundo será um "cadinho melhor".

Bom, ele com certeza não se achará um novinho, mas, pra mim, vinte e poucos anos é juventude em seu auge. E o melhor: juventude com conteúdo, com base, com inteligência, coerência e bom senso. Exatamente assim é Esmejoano, meu amigo jornalista paraibano. É uma maravilha tê-lo como amigo virtual, ver inteligência nas suas postagens, e posicionamentos cheios de vida e jovialidade. Entretanto, ele também tem seus momentos de "jovem senhor", pois tem uma maturidade imensa, abstraindo não apenas seu lado bom, mas também aqueles pensamentos que encucam, aqueles questionamentos de futuro digno dos personagens de Dawson's Creek, por exemplo. 

Essa sua porção madura poderá ser lida e entendida nesse belíssimo texto, um dos que mais me emocionaram em todos esses anos de Blogue. Agradeço, com alegria, por essa contribuição cultural ao blogue e que seja sempre bem vindo, quando quiser, para enriquecer esse modesto cantinho da música brasileira! 



O ESTRANGEIRO 

“O macho adulto branco sempre no comando/o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo”.

“Enquanto você não vem ensaio dizer “meu bem, enfim chegou a nossa hora/fiz castelos prum rei, me vesti, me guardei, porque é em mim que você mora”.


Pode ser a poesia complicada de Caetano sobre existencialismo e nacionalismo em “O Estrangeiro”, ou o pop chiclete adolescente de refrão agradável que a dupla Torquato Mariano e Cláudio Rabelo escreveu em “Mágica no Ar” para Angélica: acreditem ou não, ambas as músicas convivem harmoniosamente nas minhas playlists diárias. 


Sendo tão esdrúxula a diversidade do meu gosto musical, talvez fosse impossível que eu escolhesse, a pedido do amigo Thiago Henrick, diretamente para os leitores do EnTHulho Musical, uma canção me representasse e que justificasse o paradoxo no qual eu caio ao admirar letras que vão do cancioneiro fácil e infantil, com a voz “pouco convidativa” da atual Sra. Huck, ao prisma hermético de referências sobre o “eu” e o “Brasil” do filho de Dona Canô.

Depois de passar uma semana mergulhado em nostalgia, revendo DVDs e ouvindo alguns dos vinis da minha prateleira, descobri, entre um punhado de canções e lembranças, uma que se encaixasse perfeitamente nesta descrição tão antitética: “Peixe Vivo”, modinha do cancioneiro popular, que foi trilha de meus recreios de escola e de meus poucos encontros com amigos, durante minha reclusa infância de interior, sem videocassete, videogame e TV por assinatura.

Como todas as cantigas de roda, “Peixe Vivo” tem uma letra simples, um refrão repetitivo e uma estrutura musical nada complexa – talvez daí parta sua grandeza e sua capacidade de me cativar tão intensamente desde criança. Um punhado de rimas feito pra embalar alguns giros de mãos suadas e unidas na infância esconde uma declaração de amor ultrarromântica, com uma ardência afetiva que poucos alcançaram na MPB: “como poderei viver sem a tua companhia”?. 

Tavinho Moura e Milton Nascimento trabalharam versões desta canção, acrescentando arranjos e versos bastante interessantes; a regravação de Bituca foi tema de abertura da minissérie “JK”, da Globo, não por acaso: era a música preferida de Juscelino. A “versão cantiga”, no entanto, segue sendo minha predileta, por remeter aos meus “verdes anos” – tanto que foi a faixa interpretada pelo grupo “Palavra Cantada” minha escolhida pra integrar este post. 

Provavelmente, nunca descobriremos quem escreveu “Peixe Vivo”, que a esta altura já se encontra em Domínio Público; menos chance ainda temos de descobrir a razão secreta do autor por traz do fatalismo de seus versos: se era somente embalar uma cantiga de roda vespertina ou declarar uma paixão mal resolvida. Seja como for, e acreditando que a segunda versão da história seja a correta, os ultrarromânticos (como eu) já se enredaram no mesmo dilema do peixe: “como poderei viver sem a tua companhia?”, quando aquele romance que faz nossa cabeça girar que nem numa roda de cantiga não engata por motivos que a vida impõe. 

Esqueçamos os dramas! 

Boa cantiga, amigos!

ESMEJOANO LINCOL
Jornalista
Rio Tinto, PB

Seu pedido, então, é uma ordem! Vamos ao Palavra Cantada!


Sandra Peres e Paulo Tatit: Palavra Cantada. 


PEIXE VIVO
Versão: Palavra Cantada


Como pode o peixe vivo
Viver fora da água fria
Como pode o peixe vivo
Viver fora da água fria

Como poderei viver
Como poderei viver
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia

Os pastores desta aldeia
Já me fazem zombaria
Os pastores desta aldeia
Já me fazem zombaria

Por me verem assim chorando
Por me verem assim chorando
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia



TH - Na companhia de vocês!


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