quinta-feira, 3 de março de 2011

ARTISTA DO MÊS: ALCEU VALENÇA!

Pernambucolismo arretado!


O indefinível em um, pode ser definido em vários. Alceu não tem território definido e não deixa se territorializar. Sua personalidade é múltipla e composta por diversos personagens, todos encarados de maneira singular e sincera, quase visceral.
Não tem medo de experimentar o novo, nem de resgatar o tradicional, sabe transitar sobre todos os universos com o seu olhar.
É um questionador. Senso crítico único. Pensa em tudo antes de tomar uma posição, mas nunca fica em "cima do muro" ou segue o fluxo. Pode até se contradizer com naturalidade e sem nenhum trauma. Os contrastes se complementam, o popular e erudito, o único e muitos, o singular e o plural...

Infinito, sempre surpreende quando menos se espera.

Rafael Todeschini, sobre Alceu Valença


Artistas nordestinos detém uma peculiaridade: despertam sensações bastante controversas!
Brotam orgulho quando mostram sapiência e inteligência em letras "cabeças", imersas em melodias dificilílimas de se partiturar (tentem "Bicho de Sete Cabeças" - conhecedores da teoria musical sabem que é uma das mais complicadas de se desenvolver). E em igual proporção afastam-se da mídia fácil quando se aproximam de enfoques mais folclóricos ou regionalistas. Alia-se a esse afastamento o sotaque: os com acento característico mais marcado na voz (o ó aberto, por exemplo) muitas vezes causa má vontade e menos curiosidade com os mesmos
Alceu inseriu-se em ambos os enfoques, cada um a seu tempo. Soube ser bastante popular quando estourou no início da década de 80, "anunciando" uma tendência que se seguiria. Damesma maneira, nunca deixou de priorizar canções de sua terra e região, preferindo até lançar compilações ao vivo de registros de apresentações lendárias suas do que vender sua obra de qualquer maneiras.
Numa primeira impressão, a escolha do artista do mês de Março aqui no EnTHulho pode soar menos óbvia ou charmosa pra quem já teve Ney Matogrosso, Chico Buarque e Tom Jobim no mesmo posto, mas eu insisto em posicionar Alceu nesse posto: um mestre! Dos que sabem dizer verdades num encantamento e lirismo quase da genialidade de uma literatura de cordel. um nordestino com todas as características típicas, um poeta e cidadão que posiciona Pernambuco merecidamente como uma das mais ricas partes de nosso imenso e cultural Brasil.
A música de Alceu, contudo, não é bairrista. É destinada para quem tem "Coração bobo" e vontade de escutar histórias de amor (seja por cidades que conhece como "Brasília", ou sobre belas donnas da tarde como "La Belle di Jour". Alceu brota emoções e prova que tem muita, muita história mesmo pra contar!

Nesse mês de Março o EnTHulho está apto a ouvir todas elas!
Ps.: Dedicado a meu próprio pai, Nelson Vieira Filho, superfã da obra de Alceu!



Nasce em 1° de julho, Alceu de Paiva Valença, filho de Décio e Adelma, na Fazenda Riachão, localizada em São Bento do Una, agreste pernambucano, onde vive até os cinco anos de idade. Participa de um Concurso Infantil no Cine Teatro Rex, na cidade, cantando “É Frevo Meu Bem”, de Capiba, no qual recebe a segunda colocação e, em seguida, vai morar em Garanhuns (PE) e, depois, na capital pernambucana.
Em 1968, setembro, participa do I Festival Universitário Brasileiro da MPB, no Rio de Janeiro, com “Maria Alice”. Em outubro, com “Diálogo”, integra o I Festival Universitário da MPB (Canto do Norte 68), no Recife. Em 1969, Através de um programa de intercâmbio estudantil participa de conferências na Universidade de Harvard (Boston, EUA). Forma-se advogado pela Faculdade do Recife. “Acalanto para Isabela” e “Desafio Linda” recebem, respectivamente, a primeira e a terceira colocação na fase regional do I FIC, em Recife. “Acalanto para Isabela” é eleita para participar do I Festival Internacional da Canção nacional, realizado no Rio de Janeiro.

ANOS 70:


Em 1970, em junho, coloca “Manhã de Clorofila” no III Festival Universitário de MPB, no Recife. Em julho, inscreve no Balaio do V Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, três composições: “Fiat Lux Baby”, “Erosão” e “Desafio Linda”. Nasce no Recife Alceu Valença Filho, o Ceceu, primeiro filho de Alceu Valença, com Eneida, sua primeira esposa. Muda-se para o Rio de Janeiro. Em 71, em Janeiro, integra o elenco do show “Erosão a Cor e o Som”, no Teatro Popular do Nordeste, na capital pernambucana. Em agosto, acontece no Rio de Janeiro, o IV Festival Universitário da MPB, no qual classifica “Água Clara”, “78 Rotações” (parceria com Geraldo Azevedo) e “Planetário”.
Em 1972, classifica “Papagaio do Futuro” para o VII Festival Internacional da Canção, no Rio, em setembro. O número é interpretado por Alceu e Jackson do Pandeiro. Apresenta em Recife o show “Papagaio do Futuro”. Grava o primeiro disco, pela Copacabana, ao lado de Geraldo Azevedo: “Alceu Valença e Geraldo Azevedo” é o primeiro registro discográfico da carreira de Alceu.
Em 1975, Fevereiro, participa do Festival Abertura, promovido pela TV Globo, no Rio de Janeiro, com a canção “Vou Danado pra Catende”, e recebe do júri o prêmio de “melhor pesquisa musical”. Estréia o show “Vou Danado pra Catende” no Teatro Tereza Rachel, em Copacabana, que se transforma no repertório do primeiro disco ao vivo, “Vivo”, lançado no ano seguinte pela Som Livre.


Ao lado de Jackson do Pandeiro (foto), já em 76, faz uma série de shows para o Projeto Seis e Meia, inicialmente no Teatro João Caetano, no centro do Rio de Janeiro e depois em outras cidades brasileiras. Em 77, lançamento do LP “Espelho Cristalino”, pela Som Livre. Em 78, percorre várias cidades do país com o Projeto Pixinguinha, dividindo o palco com Jackson do Pandeiro. Leva o repertório de “Espelho Cristalino” para o palco com o show “Alceu Valença em noite de black tie”. E em 79, faz uma pequena temporada de shows, intitulada “Alceu Valença em noite de au revoir”, na Escola de Artes Visuais, no Rio de Janeiro, antes de seguir para uma temporada de shows na França. Em Paris, apresenta temporada no Teatro Campagne Première, grava informalmente o disco “Saudades de Pernambuco” (que permanece inédito no Brasil), percorre algumas cidades européias como Lyon (França), Nyon (Suíça, para participar do Nyon Folk Festival) o interior da Alemanha, além de gravar um show para a RTF (Radio Television Française). De volta ao Brasil apresenta no Teatro Ipanema, Rio de Janeiro, o show “O cantador”.

ANOS 80


Estoura definitivamente em todo o país em 1980, quando lança o LP “Coração Bobo” (Ariola), cuja música de mesmo nome explode nas rádios de todo o país, revelando o nome de Alceu Valença para o grande público. Apresenta-se em vários estados brasileiros. No ano seguinte, lança “Cinco Sentidos” (Ariola) e faz shows em diversas cidades brasileiras. Já em 1982, com o disco “Cavalo de Pau” (Ariola) faz sucesso em todo o país. É o primeiro estouro de vendas da carreira de Alceu, que alcança a marca de 500 mil cópias em poucos meses, feito considerável para a época. Em julho leva o espetáculo ao festival de Montreux, na Suíça e faz shows em Portugal e França. Segue pelos lançamentos de Anjo Avesso (83), e Mágico (84), e também pelo elogiadíssimo show no Rock In Rio (85) primeiro grande festival musical internacional realizado no país. No mesmo ano, lança “Estação da Luz” (RCA), turnê brasileira e apresentação em Havana (Cuba). Lançamento do LP “Ao Vivo”, pela Barclay/Polygram, ex-gravadora de Alceu.
Em 86, Lançamento do show “Rubi” (RCA), turnê brasileira e apresentação no estádio de La Villete, em Paris (França).Em 87, lança "Leque Moleque", com turnê brasileira e apresentação no Carnegie Hall, Nova Iorque (EUA). E em 88, gravado ao vivo no Rio de Janeiro, o show “Oropa, França e Bahia” é transformado em disco pela RCA e excursiona em diversas cidades brasileiras. No exterior, vai a Paris (França), Stutgart, Munique, Frankfurt, Colônia, Hamburgo (Alemanha) e Viena (Áustria).

ANOS 90


Em 90, lança “Andar Andar” (EMI) e turnê brasileira. Participa, em 1991, do Rock In Rio II sendo um dos poucos artistas brasileiros do elenco. Nasce seu segundo filho em 1992, mesmo ano que lança "Sete Desejos", disco que ilustra o cabeçalho do EnTHulho esse mês. Em 94, lança de “Maracatus, Batuques, Ladeiras” (BMG) e turnê brasileira. Em 1996, participa, ao lado de Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e Elba Ramalho, da série de shows “O Grande Encontro”, que percorreu diversas cidades brasileiras e registrada pela gravadora BMG no CD de mesmo nome.

Em 1997, abril, vai ao Festival de Montreux apresentar o show “O Grande Encontro”. Em maio, grava “Légua Tirana” para o disco “Asa Branca”, de Dominguinhos (Velas). Lançamento de “Sol e Chuva”, pela Som Livre, em comemoração aos 25 anos de carreira. Série de shows pelo país.
Em 1999, abril, Alceu é submetido a uma cirurgia cardíaca, no Rio de Janeiro, para a colocação de ponte de safena. Lançamento de “Todos os Cantos” (Abril Music), gravado ao vivo em apresentações no Recife, em Olinda e em Montreux (Suíça), onde havia se apresentado em 1998. Praticamente recuperado da cirurgia, em maio de 1999, recebe, junto com a notícia da extinção da premiação, o Prêmio Sharp de Música nas categorias ‘Melhor CD Regional’ por Forró de Todos os Tempos e ‘Melhor Cantor Regional’. Pouco depois, em julho, recebe novo reconhecimento, o 12º Troféu Eletrobrás de MPB.

ANOS 2000

2000: em julho, participa da noite “Pernambuco em canto: carnaval de Olinda”, no Festival de Montreux (Suíça), ao lado de Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Naná Vasconcelos e Moraes Moreira.
2001: Lançamento do CD “Forró Lunar” (Sony Music) e turnê brasileira. Nasce no Rio de Janeiro Rafael Montenegro Valença, terceiro filho de Alceu, com Yanê Montenegro.
2002: Lançamento do CD “De Janeiro a Janeiro”, em comemoração aos 30 anos de carreira. De forma independente, o CD sai pelo selo Tropicana, do próprio Alceu, encartado na Revista Música de Atitude, distribuído em bancas de jornal.
2003: Em maio grava novo projeto ao vivo no Rio de Janeiro (Indie Records), reunindo vários sucessos em CD e, pela primeira vez, em DVD. Em julho, é agraciado com o Prêmio Tim de Música Brasileira na categoria "Melhor cantor
regional", pelo CD "De Janeiro a Janeiro", em cerimônia realizada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ainda nesse mês chega às lojas o CD "Ao vivo em todos os sentidos". Em agosto o DVD do mesmo projeto é lançado.

Em 2006, chega ao auge da excelência com o registro ao vivo de uma apresentação no Marco Zero.



Biografia baseada na do site oficial do cantor: http://www.alceuvalenca.com.br/


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SOLIDÃO
Alceu Valença

A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.

A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.

A solidão é fera,
É amiga das horas,
É prima-irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração.

A solidão dos astros;
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua.


TH - Ninguém fica só contigo, Alceu!

11 comentários:

  1. Um post sobre Alceu é, no mínimo, uma homenagem ao que há de melhor na MPB!

    Como bom nordestino e, principalmente, como apreciador da boa música, vejo em Alceu as qualidades mais caras. É um grande folclorista, conhecedor e pesquisador da profundidade da cultura nordestina, transformando o popular em erudito e vice-versa.

    Ouço muito, muito mesmo.

    Parabéns pelo excelente post!

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  2. Eu sou filho de oficial do Exército, então eu fiz um tour pelo País durante minha vida. Perdi muito em ter desenvolvido mais minha relação com os amigos do Estado do Rio, de forma geral. Em morei em Recife, capital de Pernambuco, em 1979 e retornei no final de 1981 ("Brilhante" passava na TV do hotel de trânsito)e fiquem em Boa Viagem de 1982 a 1986. "Guerra dos Sexos", por exemplo, vi toda lá. Só vinha nas férias de julho.

    Nesse tempo eu acompanhei o sucesso de "Tropicana", foi a primeira que conheci. "Solidão" foi tema da novela "O Fim do Mundo", em 1996 mas, mesmo a gravação do CD da mininovela, traz a canção que era de minha época de pernambucano. Como Pernambuco é lindo, como as pessoas são maravilhosamente amigas e acolhedoras! Eu só troco o Rio por Recife, neste país.

    Na minha época de faculdade de Comunicação eu influenciei um tanto meus amigos para que se aproximassem dos pernambucanos nos congressos de Comunicação. Deu certo. Uma onda de paixão por pernambuco tomou conta da Zona Sul do Rio. Forró era o último grito da moda. Mestre Ambrósio era o CD mais tocado. A novela "A Indomada" (1997) atingiu o ponto mais alto do IBOPE que uma novela já teve.
    Nessa época, eu vi o Alceu tocando da sacada do prédio onde é conhecido como "Casa do Alceu Valença".

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. TH, ressacado mas ainda assim vim prestigiar o Entuio!

    Alceu é FODAAAA! E vai arrebentar aqui no carnaval esse ano. Falta só vc, amigo!!

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  5. "Tropicana", o primeiro grande sucesso de Alceu que conheci no Recife, deve ser do LP "Cavalo de Pau", pois o ano do estouro de "Tropicana" foi 1982. "Cavalo de Pau" apresentou dois outros grande sucessos mas o tempo me embaralha as lembranças. Seria "Onça-Pintada" e "La Belle du Jour?" Creio que sim.

    "Solidão foi tema de Nado, personagem de Marcos Winter em "O Fim do Mundo"

    "La Belle du Jour" faz referência ao filme, de mesmo nome, do surrealista Luis Buñuel, mas em cores absolutamente pernambucanas (com tons árabes). "La Belle du Jour" é a "Garota de Ipanema" na versão pernambucana.

    "Girassol", a minha favorita do Alceu não foi tema de novela mas revela um segredo: o universo árabe-muçulmano que perdura sobre o interior do Estado de Pernambuco. Quem não conhece não sabe: o maracatu é um culto aos reis, originários do império árabe que se formou do agreste pra dentro do Estado, quando os árabes vieram fugidos do ataque dos turcos otomanos. Por isso as nações de maracatu são rivais, é uma atualização dos combates do império árabe que se formou em Pernambuco.

    Vocês podem muito bem perceber na musicalidade e nos instrumentos como a rabeca e a percussão, que vieram trazidos da Arábia, nas músicas "Girassol", que tem um estribilho com instrumentos árabes que é de derrubar qualquer um e também na versão que o Zé Ramalho fez de sua antiga música "Avohai" para a novela "A Indomada" (1997) que foi ambientada numa cidade fictícia localizada no litoral permambucano (divisa com Alagoas, mais especificamente Caramagibe, onde situava-se a fictícia Greenvile na novela), trazendo a cultura e o imaginário da cana-de-açúcar para a tela da TV e trouxe na trilha sonora verdadeiras pérolas nordestinas, como o "Maracatudo", do Sérgio Mendes (que foi vetado da abertura e trocado por um pop chatíssimo da Déborah Blando), "Avohai" e "Cana Caiana", de Alceu, que foi um tema geral na novela e diz:

    "Pernambuco
    Da cana-caiana
    Do verde-burana
    Do cajá, do mel

    Severina, vida se destina
    A moer na usina
    O amargo do fel

    Pernambuco dos olhos de Holanda..."

    Pra quem curte turismo, viagens e Geografia, conselho: VÁ A PERNAMBUCO.

    Em tempo: Recife foi tomada por uma esquadra de Maurício de Nassau, príncipe holandês, que reformou com as técnicas mais sofisticadas a cidade do Recife. Em todos os níveis: culturais, financeiros, comerciais. Botou ordem no recinto.

    Enquanto os portugueses e franceses vinham ao Estado do Rio, arrancar até o Pão de Açúcar do lugar, na ânsia de lucrarem e faturarem, os holandeses preocuparam-se em transformar Recife numa metrópole digna de ser uma colonização européia. E deixaram descendentes lindos, loiros e de olhos azuis. Percebam esses traços nos pernambucanos Lenine, Guilherme Berenguer, Pedro Malta, Rodrigo Lombardi.

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  6. Fábio e Felipe: como nordestino como vocês, eu também sinto o mesmo em relação a obra do mestre Alceu. Não óbvio como outros tanto, mas igualmente grande e completo!

    Marcelo: seus comentários sempre são quase um verdadeiro post adicional! Muitissimo obrigado

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  7. Gentileza sua, Thiago.
    Eu, se fosse outra pessoa me acharia muito intrometido! =D

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  8. Só vou fazer me repetir: acho tudo que remete às origens extremamente importante. Se não pelo valor inerente, pelo que nos transmite, pelo que nos devolve. Cada escolha tem uma razão de ser. O importante é dar dignidade a cada escolha feita e isso, meu caro, está sobrando por aqui.
    Vamos lá acompanhar lembranças!
    =)

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