sábado, 22 de outubro de 2011

UM EQUILÍBRIO BEM DE PERTINHO...

1995. 13 anos.

Tardes de dia da semana (escola era de manhã). Ainda não tinha meu microsystem (só ganharia em 1996) e meu walkman estava sem pilha. Enfurnei-me no quarto de minha tia e passei a tarde inteira ouvindo música no som dela (ela morava morava comigo - aliás, esse hábito de ouvir som quando ela não estava era algo que fazia com frequência).
O que eu ouvia naquele ano? Dance music poperô Jovem Pan, trilhas de novela ("looking back....over my shoulderrr"), Titãs, Mamonas Assassinas, Cássia Eller, Bon Jovi, Madonna, Alanis Morissette (que se tornou minha musa naquele mesmo ano)...era um gosto meio indefinido, não possuia critérios e consumia o que me dispusessem e pronto. Ora vinha coisa de qualidade (foi nessa leva que me embriaguei de Jamiroquai, que conheci com "Space Cowboy"), ora não (e evitemos lembrar...). Em meio a tanta parafernália musical ouvi uma voz conhecida entoado uma baladinha açucarada em italiano. La Soletutine, na voz de Renato Russo...vocalista do Legião Urbana.

Climão...

Legião Urbana até então era uma banda que eu respeitava bastante, apesar de não ser exatamente um fã. Adorava "Perfeição", com um clipe fotograficamente muito belo e um discurso acentuado, lançado pouco tempo antes, além de hits ultra conhecidos como "Será", "Pais e Filhos", "Tempo Perdido", "Ainda é cedo" e tantos outros...era um admirador distante, porém o suficiente pra torcer o nariz ao ouvir Renato cantando declarações de amor em italiano, da maneira mais brega possível.
Logo, minha primeira impressão negativa se estabeleceu. Rechacei tudo o que não representasse o belo Renato Russo roqueiro e discursante. E mesmo em 1996, quando ele morreu, nada me fez despertar curiosidade pra me aprofundar na tal carreira solo dele, por puro preconceito.

2001: 19 anos.

No calor do Napster e toda a baixaria (nos dois sentidos) de músicas no computador, eu ainda era um dos remanescentes que ainda se valiam de locar cds e gravavam em fitas K7 em casa (pouco tempo depois, passei a pedir pra amigos emprestarem as gravadoras de CD deles, que na época duravam uns 10 minutos para reproduzir as cópias...). Havia locado o acústico da Cássia Eller, lançado em meados daquele ano, só que, ao abrir a capinha, dei de cara com o Equilíbrio Distante bem de perto...o CD estava errado! Claro que tive vontade de xingar e devolver imediatamente, porém já era 18h e a locadora já estava fechada. Fiquei em casa.
Ouvi o disco. Numa outra oportunidade, num outro momento, em meio a auto-descobertas e pulsações afetivas novas. Não deu outra: surtiu um outro efeito.
As faixas são dotadas de uma sensibilidade deliciosa. Renato estava apaixonado - os sentimentos se confundiam com os meus. O que antes soava brega neste momento traduzia meus anseios e melancolias absortas. Impossível não ouvir "Gente" e não relembrar aquela noite de redescobertas...

Claro que daí fui fuçar - destituído de preconceitos, toda carreira solo do cantor e vi que tudo fazia sentido. O lançamento solo anterior, o polêmico "The Stonewall Celebration Concert" foi incisivo para demonstrar toda dor do incidente de Stonewall, da rebelião em Nova Iorque que chacinou gays em 1969. E o disco em italiano seria um retorno às origens do Mr. Manfredini, que possui ascendência italiana. Sobre o teor brega do disco, minha visão hoje é menos crítica devido ao seguinte: o amor é brega. E só constata quem o vive. Por puro preconceito, quase fiquei "distante" de contemplar um disco sentimentalmente e melancolicamente rico, onde o cantor doa sua alma (inclusive atormentada pelos últimos anos de luta contra o vírus do HIV). Tudo o que ele queria era celebrar o amor - no estado mais puro e humano que encontrou.


E conseguiu!


Obs.: A capa do disco, que se encontra no início da matéria, foi desenhada pelo filho de Renato, Giuliano Manfredini, e as imagens representam representam o Pão de Açúcar, o Estádio do Maracanã, o Coliseu e a Torre de Pisa.

Obs2.: Preferidas? "I Venti del Cuore", "Lettera" e "Gente".




VENTO DI CUORE
Interpretação: RR

Campi di lavanda e l'auto che va
Dietro quei cipressi la strada piegherà
E passata la collina chissà,
Se la casa come un tempo mi apparirà.

Ed ogni volta che ti penso eri là
Quel sorriso in tasca largo ed incredulo
Quanti bimbi e cani avevi intorno
E che chiasso di colori al tramonto

E i ricordi si confondono, là dove non vorrei
Le memorie poi s'increspano e non so più chi sei
E i venti del cuore soffiano e gli angeli por ci abbandonano
Con la fame di volti e di parole
Seguendo fantasmi d'amore, i nostri fantasmi d'amore

E mi sembrava quasi un'eternità
Che non salivo scalzo sopra quel glicine
in penombra ti guardavo dormire nei capelli tutti i nidi d'aprile

E le immagini si perdono, fermarle non potrei
E le pagine non svelano, chi eri e chi ora sei
E i venti del cuore soffiano e gli angeli poi ci abbandonano
Con la voglia di voci e di persone
Seguendo fantasmi d'amore, i nostri fantasmi d'amore
Seguendo fantasmi d'amore, i nostri fantasmi d'amore
Quando i venti del cuore soffiano Seguiamo fantasmi d'amore, i nostri fantasmi d'amore


TH - Quem não tem os seus?

3 comentários:

  1. Por Juliano Correia, via "Facebook":

    "É o que eu tenho, uma pequena relíquia... a caixa do CD nem é de plástico, é daquela original de papel mesmo... e a única coisa do Renato Russo que tenho em casa, acho Legião meio sacal, mas Equilibrio Distante é uma jóia rara..."

    ResponderExcluir
  2. Minha favorita não é nenhuma das versões da Laura Pausini... eu sou simplesmente viciado em "Piú o Meno"... Acho que Renato Zero deve bater palmas quando ouve esta versão...
    Ah, saudades das aulas de italiano...

    ResponderExcluir
  3. gostei do disco à epóca em que foi lançado. Aliás, o Rentato fez parte da minha trajetória e é um dos artistas que me mais causa nostalgia. Mesma atmosfera desse trabalho em italiano.

    Interessante como a música, THiago, nos torna próximos! Tua narrativa tem pontos coincidentes com a minha própria história e nem nos conhecíamos, só nos conhecemos agora e por meio da Internet.

    Bastante agradável recordar.

    ResponderExcluir

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...