quinta-feira, 9 de junho de 2011

A LEOA DO NORTE EM AÇÃO!



O ano era 2007. O mês, Junho, igual este.
Caruaru fervia, aliás, como sempre na época dos festejos juninos. O que para algumas regiões do Brasil significa apenas montar um simples arraial, com comidas típicas, bandeirinhas e forró no player, para Caruaru, Campina Grande e outras cidades nordestinas os festejos se transmutam em eventos de proporções faraônicas. Tendas bem diversificadas, culinária a gosto - com comidas vendidas em stands típicos, bares e até de maneira ambulante - na rua, você conseguia um cural da melhor qualidade (lá, chamam canjica). Os ritmos multiplicados - quem disse que é só forró? Tem Baião, Xaxado, Maxixe, Guerreiro, Reisado, Maracatu, Frevo, MPB...inúmeras quadrilhas (até a curiosíssima "gaydrilha", onde se quebra a tradição do homem fazer par com mulher e se comemora com igualdade pares do mesmo sexo). Trio elétricos de forró pé-de-serra começando super cedo, em várias noites (com orgulho, eles excedem a festa - não se restringindo apenas às datas pseudo comemorativas de Santo Antônio, São João e São Pedro - lá, a folia é no mês inteiro!!).
Quando prestigiei os festejos juninos em Caruaru, notei porque a cidade é mesmo considerada a capital do forró. Não é algo regional - é uma festa mundial! Gente do mundo inteiro se encontrava na cidade fervilhando emoções. O governo de Pernambuco investe mesmo na cultural local nessa época, garantindo todos os anos atrações contratadas especialmente para o evento. É impossível ver o São João de Caruaru sem Amazan, Jorge de Altinho, Alcymar Monteiro, Azulão, Flávio José, Adelmário Coelho, Santana, Israel Filho, Valdir Santos, e tantos outros que têm cadeira cativa na festa.
E quem disse que se restringe apenas a artistas da terra? Anualmente desfilam uma infinidade de convidados especiais - muitos com ritmos sem muito a ver com a essência da cultura da época, mas igualmente bem vindos! Zé Ramalho, Chico César, Margareth Menezes...e já ouvi dizer que neste ano uma das atrações convidadas é.....Gian & Giovanni?!
A verdade é que os festejos juninos em Caruaru refletem a ideia do carnaval em Recife/Olinda: ser multicultural antes de qualquer outra denominação estreita e pré-determinada. E quem somos nós para contestar tanta democracia e versatilidade músico-cultural?


Imagem do mega evento

Porém, naquele 2007, a atração mais efervescente do palco principal foi, sem a menor sombra de dúvida, Elba Ramalho. Por mais agitadas e bem recepcionadas que as demais apresentações tenham sido, eu testemunhei (da primeira fileira) o que é um verdadeiro espetáculo em perfeita sinergia com o público. Elba parecia endemoniada (no melhor dos sentidos). Eletrizante, a cantora se satisfaz no palco: impõe uma voz vibrante nas batidas mais fortes e rítmicas, e suaviza com perfeição em baladas que não passam despercebidas, como "Chão de Giz" e "De Volta pro Aconchego".
"Faço exatamente o que sempre fiz. Quando estou no palco, dou o que eu tenho de melhor em mim, devo este respeito ao público. Sempre vou me esforçar ao máximo. Acho engraçado quando gerações bem mais jovens comentam: “ Eu não sabia que o show da Elba era tão bom!”", diz, contendo o orgulho.
Elba completa neste 2011 30 anos de carreira, comemorados com um CD/DVD no Marco Zero, em Pernambuco. Porém, 4 anos atrás, no referido show, pude contemplar ao vivo uma cantora que domina como ninguém a presença cênica, interpretando sem mentiras ou forçação de barra. Natural - como quem bebe água ou "canta" histórias.
A relação dela com os colegas musicais que estavam no evento era deliciosa - não se envergonhava de pedir bênção a pernambucanos ilustres que sempre estão no festival. Falando em Pernambuco, o momento mais ovacionado foi, com toda certeza do mundo, quando cantou o hino do estado. Leão do Norte fez a chuvosa e fria Caruaru esquentar de vez, soltando faíscas nos corações dos presentes.
"Elba é porta-voz dos compositores, ela não canta por cantar. Sempre cantou para dizer, para contar histórias, para lembrar lugares, para explicar pessoas, para revelar uma parte da nossa vida que a gente não tinha conhecimento. Elba Ramalho é uma das cantoras com quem um letrista sente que não desperdiçou seu tempo. É uma cantora com quem as platéias aprendem o que é a alma brasileira."
Perdão cantoras ótimas que dão caldinho em gravações de estúdio, mas quem domina do palco merece muito mais reconhecimento e devoção!
Todos devem ter alguma história de um show de Elba. Todos meus amigos que são fãs da moça (e até os que não são) comentam sempre algo sobre um espetáculo de alguma fase da carreira da cantora. Qual é a sua?


TH


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FREVO MULHER
Elba Ramalho. Composição: Zé Ramalho

Quantos aqui ouvem
Os olhos eram de fé
Quantos elementos
Amam aquela mulher...

Quantos homens eram inverno
Outros verão
Outonos caindo secos
No solo da minha mão...

Gemeram entre cabeças
A ponta do esporão
A folha do não-me-toque
E o medo da solidão...

Veneno meu companheiro
Desata no cantador
E desemboca no primeiro
Açude do meu amor...

É quando o tempo sacode
A cabeleira
A trança toda vermelha
Um olho cego vagueia
Procurando por um...

Quantos aqui ouvem
Os olhos eram de fé
Quantos elementos
Amam aquela mulher...

Quantos homens eram inverno
Outros verão
Outonos caindo secos
No solo da minha mão...

Gemeram entre cabeças
A ponta do esporão
A folha do não-me-toque
E o medo da solidão...

Veneno meu companheiro
Desata no cantador
E desemboca no primeiro
Açude do meu amor...

É quando o tempo sacode
A cabeleira
A trança toda vermelha
Um olho cego vagueia
Procurando por um..



TH - Abaixo, no vídeo, um cadinho do que relatei pra se ter ideia...



4 comentários:

  1. Eu n]ao tenho um show favorito da Elba... mas o mais memorável, para mim, foi o que ela fez de graça na praça Multieventos aqui em Maceió! Primoroso!
    Um momento que chamou a atenção foi que ela PAROU o show pra ficar assistindo uma briga que tava acontecendo na platéia, e quando a briga parou, ela incentivou o público a vaiar os envolvidos... pérola!

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  2. THiago

    Lerei amanhã com atenção o conteúdo sobre a Elba e o Raul e então, comentarei. O que posso dizer, de antemão é que são artistas que, na minha opinião, merecem o destaque (por sua trajetória). Elba tem espaço reservado na minha galeria de intérpretes e o Raul é um cara que deixou um legado ousado e interessante, uma obra com caráter questionador. Gosto bastante.

    Um abraço e até.

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  3. Adorei essa história de "gaydrilha" rsrsrsrs.
    Confesso que não sou muito fã de Elba e de forró em geral. Mas a música "Chão de Giz" é de tirar o chapéu.

    Um beijo e um ótimo dia dos namorados!!!

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  4. De volta, conforme prometido.

    Primeiramente parabéns pelo testemunho, THiago. A seguir o meu.

    Não sou adepto de ritmos dançantes, frenéticos (por assim dizer) e prova disso é que assisti a apenas um show assim que me impressionasse: o de Daniela Mercury, um furacão mesmo. Contagiante!

    No mais, contrario a maioria e dispenso, por exemplo, micaretas. Sou virginiano, você sabe, e não sou, portanto, o tipo que gosta de "tirar o pé do chão". Penso que música é pra se ouvir.

    Entretanto, compreendo o que você relata: a Elba possui um magnetismo. E é isso o que hoje erroneamente chamam carisma e atribuem a artistas como Ivete Sangalo e Preta Gil.

    Mas a diferença é clara (e você destacou): a Elba sabe o que está cantando, é uma intérprete, portanto. Lembro-me de uma entrevista em que ela, não por acaso disse a Marília Gabriela, que se espelhava em Maria Bethânia.

    Por essas e outras, "Chão de Giz" e "Aconchego" fazem parte do nosso cancioneiro e estão guardadas em nossa memória afetiva.

    Sinto falta, aliás, dessa profundidade as cantoras que estão surgindo. Estou abismado com a decepcionante performance de Maria Gadu, por exemplo, que era (e pelo visto, não passará de) uma promessa.

    Abraço, amigo.

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