domingo, 8 de maio de 2011

ARTISTA DO MÊS: RAUL SEIXAS!

Chegou atrasado no trem das 7. Apressou-se num disco voador, e cá está!


Alguém aqui, como eu, já se imaginou encontrando Raul Seixas num bar?
Minha imaginação aguça sempre essa hipótese. Diante de tudo o que sei sobre o mestre - sua "simplicidade excêntrica" como pessoa e vocação pra "desagradar" o sistema, seja pelas críticas de seus versos ou até pelo seu jeito de vestir, eu sempre idealizei o Raul como um companheiro desses de bar, com quem sempre valerá a pena tomar umas cervejas e trocar idéias inteligentes e proveitosas. Afinal, é assim que eu enxergo os grandes mestres: pessoas que não ostentam a grandiosidade e são bem mais humanas do que se imagina...
Mestres em bares existem aos montes. E "famosos disfarçados de mortais" mais ainda! Sempre pensei no Raul como um professor de faculdade que, ao término da aula, sai com seus alunos para o barzinho e c(a)ontava histórias emblemáticas sobre o sistema, a sociedade e a alma humana.
Dono de um legado músical extraordinário e considerados por muitos o "pai do rock brasileiro", Raul é muito mais do que lhe adjetivam. Trouxe, além de composições marcantes, uma importantíssima reflexão para a sociedade da época - especificadamente para os fãs de boa música nas décadas de 70 e 80. E, como não poderia deixar de ser, também causou reações adversas e foi, em dado momento, taxado de "bruxo maldito". Muita gente se assustava com a figura do Raul, quando aparecia na tevê dando seu recado e também diante de todas as histórias que rondeavam sua carreira (pacto com diabo? mensagens subliminares maquiavélicas em suas músicas? será tudo verdade???). Mas o principal está eternizado - é incrível e maravilhosa a força que o cara teve, e até hoje sua obra é reverenciada com louvor não apenas pelos contemporâneos de seu auge, mas também pelos mais novos e curiosos.
Voltando ao bar, se me deparasse com ele, sem pestanejar diria; "Pô, o mundo não é mais o mesmo. A sociedade não tem sequer a capacidade de imaginar-se alternativa. Você fez história, velho. Volta pra cá. Ou canta pra subir!"

O EnTHulho Musical, com o maior prazer, irá tocar MUITO Raul esse mês! Viva...viva...viva a sociedade alternativa!



Biografia resumida:

Raul dos Santos Seixas nasceu em Salvador, Bahia, em 28 de junho de 1945, filho de Raul Varella Seixas e Maria Eugênia Seixas. Filho da mesma região e geração que Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa entre tantos outros que definiram o movimento chamado Tropicália, Raul teve ao contrário destes em sua infância maior contato e assimilação do rock and roll em virtude de ser vizinho e amigo de filhos de famílias americanas que trabalhavam para o consulado americano na Bahia. Tornou-se logo fã ardoroso de Elvis Presley, fundando aos 14 anos um fã-clube brasileiro do cantor (Elvis Rock Club). Engana-se porém quem pensa que Raul renegou a cultura brasileira adotando o rock and roll; odiava a bossa nova, mas acrescentou ao seu rock elementos de música nordestina como o baião, xaxado, música brega. Aluno relapso (repetiu várias vezes a segunda série ginasial) apesar de muito inteligente e leitor voraz, rapidamente se cansa da escola decidindo pela profissionalização como músico. Em 1962 em meio ao movimento bossa nova que explodia no Brasil, Raul monta sua primeira banda, Os Relâmpagos do Rock, que mais tarde teria seu nome mudado para The Panthers e finalmente Raulzito e os Panteras. Pela formação do grupo passaram entre outros além de Raul (vocal e guitarra), Thildo Gama, Perinho (guitarra), Mariano Lanat (baixo), Carleba (bateria). Logo abandona a faculdade de direito. Gravam um compacto que seria distribuido para rádios com duas músicas (sendo uma versão de Elvis Presley). Apresentam-se em clubes e algumas vezes em rádio e TV. Começam a formar fama como expressão local do movimento Jovem Guarda da época (liderado por Roberto Carlos, Jerry Adriani, Erasmo Carlos, Wanderléa, etc, por sua vez versões brasileiras do sucesso dos Beatles). Com o apoio de Jerry Adriani sai em turnê pelo Brasil com os Panteras (abrindo os shows do primeiro) e grava em 1968 o seu primeiro LP, auto entitulado. Não alcançando nenhuma repercussão a nível nacional Raul volta para Salvador possivelmente pretendendo abandonar a música. Sairia da Bahia novamente para tentar carreira de produtor na CBS onde produziria e comporia para Jerry Adriani, Renato e Seus Blue Caps, Trio Ternura, Sérgio Sampaio, entre outros astros da época. Perderia este emprego por produzir e gastar dinheiro sem conhecimento dos seus superiores na prensagem de seu segundo LP, Sociedade da Grã Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez. Em 1972 alcançou a tão desejada repercussão nacional classificando duas músicas no Festival Internacionl da Canção, evento de grande repercussão montado anualmente pela Rede Globo, um concurso de músicas. Raul participou com Let Me Sing Let Me Sing (que chegaria às finais) e Eu Sou Eu Nicuri é o Diabo. A boa aceitação lhe valeu seu primeiro contrato com uma gravadora, a Philips Phonogram. Lançou um compacto de Let Me Sing Let Me Sing e o LP coletânea de covers 24 Maiores Sucessos da Era do Rock (que nem mesmo traz o nome de Raul, sendo lançado sobre o nome de uma banda Rock Generation). O segundo compacto, Ouro de Tolo, foi o seu primeiro grande sucesso. Em 1973 saiu o LP Krig-Ha Bandolo! apresentando as primeiras parcerias de Raul com o companheiro de estudos esotéricos Paulo Coelho. Começaram a formar em parceria o grupo Sociedade Alternativa, anarquista, baseado na doutrina de Aleister Crowley e também destinado a estudos esotéricos. Chegariam a pensar em construir em Minas Gerais a comunidade alternativa Cidade das Estrelas. O movimento foi porém considerado subversivo pelo governo militar. Raul (que aparentemente passou por sessões de tortura), Paulo e as respectivas esposas (Edith e Adalgisa) foram exilados nos estados unidos. Raul viria a conhecer durante o exílio alguns de seus ídolos, Elvis Presley, John Lennon e Jerry Lee Lewis. Voltaram ao Brasil em 1974 em meio ao sucesso do segundo LP, Gita, possivelmente o seu lançamento de maior vendagens e repercussão, ganhando discos de ouro e participando da trilha sonoras da novela O Rebu. A Philips chegou a relançar 24 Maiores Sucessos... sobre um novo nome, 20 Anos de Rock e dessa vez sobre o nome de Raul.

Seguiriam-se então LPs de grande repercussão, Novo Aeon, Há 10 Mil Anos Atrás (último em parceria com Paulo Coelho), Raul Rock Seixas, O Dia Em Que a Terra Parou. (capa do cabeçalho do
EnTHulho Musical esse mês). No início da década de 80, Raul Seixas começou a apresentar problemas de saúde em virtude de consumo exagerado de álcool. Não parou porém de lançar discos e projetos, Mata Virgem, Por Quem os Sinos Dobram, Abre-te Sésamo. Passou a sofrer de hepatite crônica em virtude da bebida e estava em um hiato de contratos e shows. Após a queda de vendagens nos últimos discos e um longo boicote de gravadoras, estourou novamente em 1978 com a música Carimbador Maluco do LP Raul Seixas, parte do especial infantil Plunct Plact Zumm da Rede Globo. Seguiram-se os discos Metrô Linha 743, Uah Bap Lu Bap La Bein Bum (com o que seria seu último grande hit, Cowboy Fora da Lei) e A Pedra do Gênesis (que deveria ser apenas parte de um projeto maior chamado Opus 666 que não chegou a ser lançado). Em 1988 Raul passou a compor, gravar e excursionar com o também baiano Marcelo Nova, vocalista da banda Camisa de Vênus (então em fase de extinção). Em 21 de Agosto de 1989, apenas dois dias após o lançamento de A Panela do Diabo, Raul Seixas morre de um ataque cardíaco em virtude de problemas causados pela bebida. Curiosamente após a sua morte tem o seu talento mais reconhecido do que nunca, arregimentando a cada dia mais seguidores, sendo lançados postumamente registros inéditos e coletâneas, todos sucessos de vendas. Em sua carreira foi pioneiro na mistura de todo tipo de influência musical ao rock and roll, passeando e acrescentado com desenvoltura e sem preconceitos ritmos nordestinos (Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor), folk ao estilo Bob Dylan (Ouro de Tolo), música brega (Sessão das 10), umbanda (Mosca na Sopa). Em suas letras abordava com igual desenvoltura temas tão díspares quanto sentimentos humanos, críticas ao sistema, esoterismo e agnosticismo. A sua mensagem muitas vezes está implícita em letras que podem ser taxadas de bobas pelos menos perspicazes (vide a letra de Carimbador Maluco) e em outros momentos é pura poesia (como em Canção Para Minha Morte).



Foto de Raul nos tempos de crise: mais sucesso ainda depois de morto!


ABAIXO, A ÚLTIMA GRANDE ENTREVISTA DE RAUL SEIXAS, CONCEDIDA COM MARCELO NOVA A JÔ SOARES, EM 1989. VALE A PENA CONTEMPLÁ-LA, POIS RAUL FALA DE MANEIRA SINCERA E DIVERTIDA SOBRE DIVERSOS CAUSOS, SOBRETUDO SEU EXÍLIO DO PAÍS E ENCONTRO COM JOHN LENNON! AGRADECIMENTOS A OZIMAR CABRAL.







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TREM DAS SETE
Raul Seixas

Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas azuis, olha o trem
Ói, ói o trem, vem trazendo de longe as cinzas do velho éon

Ói, já é vem, fumegando, apitando, chamando os que sabem do trem
Ói, é o trem, não precisa passagem nem mesmo bagagem no trem

Quem vai chorar, quem vai sorrir ?
Quem vai ficar, quem vai partir ?
Pois o trem está chegando, tá chegando na estação
É o trem das sete horas, é o último do sertão, do sertão

Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais
Vê, ói que céu, é um céu carregado e rajado, suspenso no ar

Vê, é o sinal, é o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões
Ói, lá vem Deus, deslizando no céu entre brumas de mil megatons

Ói, olhe o mal, vem de braços e abraços com o bem num romance astral


TH - Amem!



6 comentários:

  1. Ebaaaaaaa!
    Agora sim vou aprender horrores sobre Raulzito!
    E viva o rock brasileiro!
    =)

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  2. você tem verdadeiras relíquias, Thiago, daí o diferencial das suas postagens... certamente que este mês será muito massa com o homenageado escolhido... O TH nos enriquece culturalmente; Parabéns!!!

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  3. Henrick, trago-te aqui uma coletânea de Raulzito que fiz: http://mpbemonos.blogspot.com/2010/07/toca-raul.html

    Tem Adriana, Bethania, Cássia, Lenine, Ney, Zé Ramalho, Zélia, Simone, etc.

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  4. ai ai ai... eu não sou perito em musica brasileira... aliás.. nem em música... mas tenho que dar meu depoimento aqui pra falar... meio que inocente no assunto, que meu primeiro contato com Raul foi sim... quando criança por conta do Plunct Plact Zummmmm... não, não foi pra lugar algum mas veio para cá!

    Bjo Th!

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  5. Até que enfim tocou RAUUUULLLLLLL!!! Grande mágico, mago que não precisou de diário. Deixou sua história escrita nas galáxias! Que venha o NOVO AEON!

    Beijão, TH!

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  6. Sou fã do raul não só porque é radical ser fã dele afinal ser fã dele não é pra qualquer um tem que ter uma receptividade relampago

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