[Crônica da jornalista Cinthia Demaria*¹.]
[Blog da autora do texto: http://damorteaomito.blogspot.com/ ]
Alguns leitores*² pediram e aqui está o texto do eterno Raulzito, um dos pioneiros da história do rock no Brasil. Não só pela sua voz marcante, o cantor conquistou milhares de fãs pelas suas composições inteligentes e provocadoras à submissão da política e de seus seguidores ao “sistema”.
Irreverência também foi outro marco na carreira de Raul, que foi apontado em uma sociedade conservadora, como bruxo pelas suas letras e “viagens conscientes”, que ele assumiu ter para alcançar inspiração para compor. Isso sem contar a implementação da “Sociedade Alternativa”, que era reforçada em versos como “Se eu quero e você quer/ Tomar banho de chapéu ou esperar Papai Noel/ Faça o que tu queres, pois é tudo dentro da lei”.
Sua obra musical é composta de 21 discos lançados em seus 26 anos de carreira e seu estilo musical é tradicionalmente classificado como rock e baião. O álbum de estreia, Raulzito e os Panteras (1968), foi produzido quando ele integrava o grupo Os Panteras, mas só ganhou notoriedade crítica e de público com as músicas de Krig-Ha, Bandolo! (1973), como "Ouro de Tolo", "Mosca na Sopa", "Metamorfose Ambulante". Raul Seixas adquiriu um estilo musical que o creditou de "contestador e místico", e isso se deve aos ideais que vindicou, como a Sociedade Alternativa apresentada em Gita (1974), influenciado por figuras como Aleister Crowley.
Raul se interessava por filosofia (principalmente metafísica e ontologia), psicologia, história, literatura e latim e algumas crenças dessas correntes foram muito aproveitadas em sua obra, que possuía uma recepção boa ou de curiosidade por conta disso. Ele conseguiu gozar de uma audiência relativamente alta durante sua vida, e mesmo nos anos 80 continuou produzindo álbuns que venderam bem, como Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! (1987) e A Panela do Diabo (1989).
Raul Seixas morreu no dia 22 de agosto de 1989, vítima de uma parada cardíaca: seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter tomado insulina na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda fulminante. Como não poderia deixar de ser, o ídolo tornou-se mito por toda eternidade entre fãs dos anos 80, até a nova geração, que conhece a história do rock do Brasil, e logo se identifica com a personalidade de Raul.
A obra musical de Raul Seixas tem aumentado continuamente, na medida em que seus discos continuam a ser vendidos, tornando-o um símbolo do rock do país e um dos artistas mais cultuados e queridos entre os fãs nos últimos quarenta anos.
Depois de sua morte, Raul permaneceu entre as paradas de sucesso. Foram produzidos vários álbuns póstumos, como O Baú do Raul (1992), Raul Vivo (1993 - Eldorado), Se o Rádio não Toca... (1994 - Eldorado) e Documento (1998). Inúmeras coletâneas também foram lançadas, como Os Grandes Sucessos de Raul Seixas de (1993), a grande maioria sem novidades, mas algumas com músicas inéditas como As Profecias (com uma versão ao vivo de "Rock das Aranhas") de 1991 e Anarkilópolis (com "Cowboy Fora da Lei Nº2") de 2003. Sua penúltima mulher, Kika, já produziu um livro do cantor (O Baú do Raul), baseado em escritos dos diários de Raul Seixas desde os seis anos de idade até a sua morte. E pelo que tudo indica, a série de homenagens ao cantor não vão terminar tão cedo.
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*¹ É jornalista de Belo Horizonte, MG. Especialista em Imagens e culturas midiáticas. Interessada por estudos da mídia, cultura, cinema, biopics, mídia digital, jornalismo.
*² O texto foi feito inicialmente para seu ótimo blog, e gentilmente concedido para ser publicado aqui no EnTHulho Musical. Muitíssimo obrigado!
Abaixo, uma das melhores letras no mago - aproveitando o ensejo do dia em que o mundo deveria terminar... (21/05)
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O DIA EM QUE A TERRA PAROU
Composição : Cláudio Roberto / Raul Seixas
Essa noite eu tive um sonho
de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
com o dia em que a Terra parou
Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado em todo
o planeta
Naquele dia, ninguém saiu saiu de casa, ninguém
O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
e o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar
No dia em que a Terra parou (Êêê)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou
E nas Igrejas nem um sino a badalar
Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá
E os fiéis não saíram pra rezar
Pois sabiam que o padre também não tava lá
E o aluno não saiu para estudar
Pois sabia o professor também não tava lá
E o professor não saiu pra lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar
No dia em que a Terra parou (Ôôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Uuu)
No dia em que a Terra parou
O comandante não saiu para o quartel
Pois sabia que o soldado também não tava lá
E o soldado não saiu pra ir pra guerra
Pois sabia que o inimigo também não tava lá
E o paciente não saiu pra se tratar
Pois sabia que o doutor também não tava lá
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar
No dia em que a Terra parou (Oh Yeeeah)
No dia em que a Terra parou (Foi tudo)
No dia em que a Terra parou (Ôôôô)
No dia em que a Terra parou
Essa noite eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, acordei
No dia em que a Terra parou (Oh Yeeeah)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Eu acordei)
No dia em que a Terra parou (Acordei)
No dia em que a Terra parou (Justamente)
No dia em que a Terra parou (Eu não sonhei acordado)
No dia em que a Terra parou (Êêêêêêêêê...)
No dia em que a Terra parou (No dia em que a terra parou)
TH - Esperemos a próxima profecia...
interessante notar como todos nós, mesmo com gostos, estilos, vida e profissões diferentes, acabamos sempre por nos conectar as sensações peculiares do universo da arte, seja ela musical, visual, escrita ou um misto de tudo.... convergências da vida. A síntese da jornalista deu um rápido parametro para que eu, mesmo não conhecedor do Raul, tivesse o interesse em conhecer um pouco mais... e claro... obrigado pelo Blog! abração!
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