terça-feira, 20 de setembro de 2011

AMIGO MUSICAL CONVIDADO # 36 - Bruno Garcia!




Eu sou mesmo cara-de-pau.
Avisto, meio que num "tiro no escuro", alguém que parece musicalmente interessante e, sem ao menos conhecer direito, já convido pra que disserte alguma coisa no meu humilde bloguinho sobre o tema. Quando o tiro é certeiro, beleza...quando não...
Não é o caso de Bruno. Já espiava seus comentários inteligentes no Twitter retuitados por amigos e comum e decidi seguir o rapaz. Mesmo sem uma comunicação em tempo real (ainda), já consegui pescar os elementos mais pertinentes para poder traçar seu perfil nesta apresentação de amigo musical convidado.
Bruno é bastante inteligente. Uma inteligencia que é complementada por seu jeito divertido de se expressar. Ele parece que ri com gosto, mesmo que essas risadas a gente só visualize virtualmente, porém é tão sincero e "performático" que não tem como não imaginar seus sorrisos no plano "real". Soma-se ainda, à inteligência e o jeito divertido, a simplicidade. Destituído de arrogâncias ou auto-suficiência em suas declarações, o rapaz demonstra um conhecimento gigantesco em MPB, um conteúdo bastante amplo, sem ostentar a grandeza e fazendo questão de priorizar a humildade.
O moço pernambucano (o estado brasileiro-mor da boa cultura, na minha opinião) é professor de Literatura, geminiano, noveleiro malvado (entra em extase quando a Raquel maltrata o "Da Lua" em "Mulheres de Areia", por exemplo) e aparece aqui para dar sua grande contribuição musical ao EnTHulho, mediante o relato sobre sua musa-mor, Marisa Monte. Mergulhado numa recordação bem legal, o moço escreveu um belíssimo texto, devidamente publicado em nossa revista musical on line!

O EnTHulho Musical agradece a agradável e rica participação.
Voilá!

Marisa e o "monte": parceria constante no disco "Mais", porém Bruno prefere só com ela, no "Barulhinho Bom"



Ao receber o convite do querido Thiago, fiquei eufórico, animado. Dez segundos depois me veio um desespero, pois o convite continha as seguintes palavras do próprio: “É só escrever sobre uma música que te marcou muito. Sei que pra quem gosta de música é dificílimo, mas não custa tentar!”. Como assim ‘é só’??? Isso não é difícil, mas sim um grande desafio. Mas...
A MPB sempre se fez presente na minha memória musical no final da infância (ao lado de TOOOODOOOOSSS os discos da Xuxa). Dois nomes que sempre apareciam nas minhas fitas-cassetes eram os porretas-irmãos-baianos Caetano Veloso e Maria Bethânia. Mas tudo bem misturado mesmo.
Até que um dia: pimba! Peguei uma K7 da minha irmã e me deparei com os versos de Bem Que Se Quis. Não sei o que me atraiu precisamente, se a melodia, se o timbre daquela cantora... Mas algo ali me chamou muito a atenção. Recordo ter repetido a canção e avancei no conteúdo da fita: mais três músicas na voz da mesma cantora – ‘Maria de Verdade’, ‘Na Estrada’ e ‘Beija Eu’ – para depois surgir a voz da Simone e sua ‘Yolanda’ no magnetismo intrigante daquela caixinha que girava no som. Sei que logo depois descobri a dona aquela voz que tanto me encantou: a belíssima Marisa Monte. Tinha mais dois novos amigos a partir daquele momento: aquela fita e a voz da Marisa. Ouvi muito, mas muito mesmo. Até que na minha série, conversando em algum canto da escola sobre música, uma ‘amiga’ falou que tinha um cd ao vivo da Marisa. ‘Pirei o cabeção’, como se diz. Pedi para ver o cd, mas ela disse que não podia. Pedi para gravar uma fita do cd para mim e ela disse: ‘vou ver’. No outro dia estava eu com os olhinhos brilhando, a fita na mão para entregar a minha ‘amiga’. Sei que a criatura demorou quase um mês para me entregar a fita gravada, entre mil desculpas e negações. Sim, fui humilhado... Mas consegui!

(Essa saga marisiana chega a me lembrar hoje o conto ‘Felicidade Clandestina’ da Clarice Lispector. Pretensioso, eu? Imagina!).


Enquanto meu walkman teve vida (sem detalhes sobre datas, idades e afins, ok!), esta fita do Barulhinho Bom estava nele. Por isso não podia escolher outro artista que não fosse a Marisa para relatar a música que marcou a minha vida. Admiro muito a obra da Srª Monte, mas esse álbum me traz algumas lembranças especiais: o fato de ter me introduzido completamente no universo particular da MPB e oficializar minha paixão pela Marisa. Para mim, a Marisa abriu o espaço para as Zélias, Adrianas, Cássias, Marinas, Marias, Gals, Caetanos, Chicos, Vanessas, Robertas, Lenines...
E Ainda Lembro me seduz fortemente. Na verdade, de todas, essa é a música da Marisa que mais gosto. Nem tanto a versão do cd Mais – acho linda também, mas talvez um tanto melosa. Gosto mesmo da versão do Barulhinho, só com a Marisa. Uma versão mais encorpada, onde o eu-lírico parece se recordar de uma desilusão; só que no caso dessa versão, acaba me passando como uma desilusão superada. Aqueles casos que você conta só lembrando mesmo, sem afetar tanto quanto já podia ter afetado. Isso me encanta na Marisa: poder nos fazer viajar nas suas interpretações, assumir um papel diferente em cada canção. Isso é uma artista completa!

Bem... Esse relato me levou a fazer uma verdadeira ‘Viagem Musical’... Agora me resta ligar o som, apagar a luz e ainda lembrar muito (e sempre) da Marisa Monte.


BRUNO GARCIA
Professor de Língua Portuguesa
Rede de Ensino Municipal - Jaboatão dos Guararapes
Leciona no Ensino Fundamental
Especialista em Literatura Brasileira
Licenciado em Letras - Habilitação em Português e Inglês



Ok, ele espinafrou o Ed Motta, então merece que eu ponha uma foto da Marisa sozinha! :D


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AINDA LEMBRO
Marisa Monte/Nando Reis

Ainda lembro o que passou
Eu, você, em qualquer lugar
Dizendo:
"Aonde você for eu vou"

E quando eu perguntei
Ouvi você dizer
Que eu era tudo
O que você sempre quis
Mesmo triste eu tava feliz
E acabei acreditando
Em ilusões...

Eu nem pensava em ter
Que esquecer você
Agora vem você dizer:
"Amor, eu errei com você
E só assim pude entender
Que o grande mal que eu fiz
Foi a mim mesmo"...

Vem você dizer:
"Amor, eu não pude evitar"
E eu te dizendo:
"Liga o som,
E apaga a luz"



TH - Cá entre nós, o Ed não fez falta mesmo! :D




4 comentários:

  1. E o excelente texto do Bruno faz com que a gente vivencie quase que anacronicamente o "passo-a-passo" da relação de amor dele com Marisa. Adorei! :)

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  2. Faz tempo que não passava aqui, TH.
    Adooooorei o novo EnTHulho, parabéns ao Dan pelo visual.
    O texto do Bruno é excelente - só podia ser pernambucano arretado feito eu! hehaha
    A menção à Clarice também foi ótima.

    Parabéns a todos!

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  3. A musicalidade de Marisa Monte é fascinante! Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e carvão é um dos cd's mais antológicos da Música Popular Brasileira, ouço-o compulsivamente. Do Infinito Particular, sou apaixonado pela singela porém tocante e bela "Até Parece".
    Parabéns, Bruno, pelo belo texto narrativo de sua história de amor com a obra de Marisa.
    Parabéns pelo EnTHulho, TH!

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