sexta-feira, 1 de abril de 2011

ARTISTA DO MÊS: GUILHERME ARANTES!

Hoje e no mês inteiro: emoção pra não acabar mais!


"...e o que mais me inspira é o amor, departamento mais fascinante do ser humano, que foge à racionalidade e é um mundo vasto, profundo."

Guilherme Arantes, "Anjo Bom e Perpétuo"


A música brasileira, de uns tempos pra cá, encontrou um dilema: segregou muito os conceitos de popular e "cult". A própria denominação "música popular brasileira" tornou-se inócua, pois a MPB elitizou-se. Hoje faz mais muito mais sentido chamar Luan Santana, Calcinha Preta e Calypso de músicas populares do que Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, por exemplo.
Destituindo-se de preconceitos e rótulos, no entanto, podemos chegar a uma nova concepção: e música boa, o que é, afinal?
Os mais "indies" constumam pregar que música de qualidade é aquela sem qualquer compromisso comercial como prioridade. Já outros menos críticos amam tudo aquilo que é empurrado pelo rádio. No entanto, eu fico com o terceiro grupo: "música boa é aquela que toca aqui" (mão no coração).
O novo artista do mês tem o dom de satisfazer todos os grupos. Ele não se faz de rogado de atacar de hits excessivamente comerciais (Cheia de Charme, Um Dia Um Adeus), ao mesmo tempo que assume suas raízes mais "introspectivas" e resgata de pronto o âmago da alma humana, com baladas que são verdadeiros tiros certeiros nos corações sensíveis. Aliás, sensibilidade é mesmo a palavra-chave pra definir Guilherme Arantes.
Também há de se destacar sua larga participação em trilhas sonoras de novela, e seu início, na banda Moto Perpétuo, que também será devidamente comentado ao longo desse mês de Abril.
Preparados para todo o tipo de emoção durante esse mês? Descobriremos "O Lado Prático do Amor", que nos deixará os "Olhos Vermelhos" e em "Pedacinhos". "Cuidem-se bem", pois "O Melhor Vai Começar" ;)

Abaixo, a biografia dele, atualizada por Grazi Feliz Ares, publicada inicialmente no blog "Alfarrábio do Meu Coração", de MCI.



"Seu mundo e nada mais" - Por Grazi Ella Feliz Ares, de São Paulo.


Quando fui convidada para escrever uma matéria sobre Guilherme Arantes fiquei empolgada... Quem, quando criança, nunca cantou “Pegar carona nessa cauda de cometa, ver a Via Láctea, estrada tão bonita”? Quem na vida, diante de uma desilusão, nunca entoou “E eu que tinha tudo hoje estou mudo, estou mudado, à meia-noite, à meia luz, pensando, daria tudo por um modo de esquecer...”? E quem nunca assoviou em alto e bom som o início de “Descer a Serra (Sorocabana)”? Ou ainda quem, diante de uma relação desgastada, nunca admitiu: “Adeus também foi feito pra se dizer: bye bye, so long, farewell”. Afinal, todo brasileiro que se preze sabe cantar pelo menos o refrão de alguma canção desse grande compositor e intérprete, um dos mais importantes e conhecidos ícones da música brasileira.
Guilherme Lima Arantes nasceu no dia 28 de julho de 1953, no bairro da Bela Vista, em São Paulo, e foi criado em Santo Amaro. Morava numa casa de arquitetura moderna para a época. Filho de Gelson Lima Arantes, médico-cirurgião formado pela USP, e Dona Hebe Planet Martuscelli, bibliotecária e tradutora, Guilherme tem duas irmãs, Ana Cristina Arantes, um ano mais velha, doutora em Educação Física, e Heloisa Arantes, nove anos mais nova, médica. Ele gosta de relembrar a infância:

“Eu passava as férias em Santos, Praia Grande, Campos do Jordão, mas principalmente em Araraquara [vem daí o carinho do cantor por minha cidade], com minha querida avó Iracema e meu avô Luiz, advogado do IAPI. Foi uma infância feliz, com muito sorvete, cinema, soltando pipa e jogando bola, meio perna de pau, mas era bom no carrinho de rolimã.” Aos seis anos Guilherme já tocava cavaquinho e, mais tarde, bandolim. Depois aprendeu a tocar piano, sozinho. Sempre apaixonado por música, lembra com carinho dos Festivais de MPB da TV Record:

“Dos anos 60, lembro-me dos festivais e sua sensação maravilhosa do novo. Meu tio Cyro Lima Arantes trabalhava na TV Record, junto ao Marcos Lázaro, e sempre pintavam convites para os Finos da Bossa, Jovem Guarda, etc. Fui um rapaz de sorte, vi com meus próprios olhos o surgimento de toda uma geração de ouro da MPB, todos novinhos, universitários tímidos no palco, sem saber bem o que fazer com a fama - que lindo - quanta diferença se a gente comparar com os ídolos de hoje, empresários milionários com sua eficiência específica, previsível, e muitas vezes corruptora, com a ascensão do "jabá". [...] Enfim, cada tempo é de um jeito - e naquela época havia muita utopia no ar - as pessoas estavam juntas pensando diferente - hoje cada um está na sua, mas todo mundo pensa igual. Lembro-me bem do Day-After do festival onde cantaram Caetano ("Alegria Alegria", uma revelação total), Chico ("Roda Viva"), Vandré ("Disparada"), "O Cantador" com Elis, Sergio Ricardo e sua atitude maravilhosa de inconformismo, Gil e Os Mutantes com "Domingo no Parque", etc.”




Compositor e letrista desde os 15 anos, iniciou seu trabalho musical em 1974 com o grupo de rock progressivo “Moto Perpétuo”:


“Já no segundo ano de Arquitetura, na FAU, conheci o Claudio Lucci, brilhante violonista, e com ele fui procurar um velho amigo, o Diógenes, o melhor baterista que vi tocar em toda minha vida. A gente formou então o Moto Perpétuo, uma banda híbrida de progressivo (a moda na época) com a MPB, principalmente mineira, influência do Clube da Esquina.”



Mas foi em 1976 que Guilherme teve sua carreira consolidada quando a balada “Meu mundo e nada mais” tornou-se canção-tema da novela Anjo Mau. Como dizia uma reportagem da época: “Guilherme deve tudo a um Anjo Mau”. A música foi apenas a primeira dos muitos sucessos de Guilherme no horário nobre:

“Não que "Meu mundo e Nada mais" tenha estourado de cara. Demorou pra tocar na rádio. Eu me lembro que no começo só tocava de madrugada, na antiga Rádio Excelsior, mas era uma emoção me ouvir no mesmo velho radinho de pilha debaixo do travesseiro (onde tantos jogos do Santos de Pelé foram acompanhados na adolescência, com inesquecível narração de Fiori Gigliotti). "Meu mundo e Nada Mais", composta em 69, viria a tocar 530 vezes na novela, que eu contei, assistindo com a minha avó Iracema, de Araraquara, que na época morava no Lar Santanna. Era um massacre, virei um sucesso instantâneo. [...] Era engraçado ser reconhecido na rua: "Olha aquele cara do Anjo Mau!". Eu não sabia o que era isso, vinha de um meio universitário diametralmente oposto ao popular. Uma vez, fui cantar no Show de Calouros do Silvio Santos, onde o Zé Fernandes me deu 4,5 (o máximo era 5), e o Brasil inteiro comentou aquilo... Ele deu 4,5 porque a letra dizia "só sobraram restos" e isso fazia cacófato com "soçobraram restos"... Grande descoberta!! Aí, eu perguntei se ele não conhecia esse recurso da poesia modernista... Silvio interrompeu dizendo: "Não, não, neste quadro o cantor não pode falar...". [...] No final do programa, havia um batalhão de fãs querendo me agarrar, eu saí correndo pela Praça Marechal Deodoro, as fãs gritando atrás, foi a coisa mais ridícula da minha parte...”

Muito sincero em suas declarações, sempre lutou contra a hegemonia das gravadoras: “Em matéria de música, não trabalho por encomenda. Não consigo fazer letras mentirosas. Só aquilo que sinto...”. Considerado por muitos o Elton John tupiniquim, Guilherme chegou a comentar em uma entrevista à revista Hitpop, em junho de 1976: “Isso tudo é cascata... a verdade é que quando comecei a escutar qualquer coisa do Elton John, a maioria das minhas músicas já estava pronta, inclusive ‘Meu mundo e nada mais’”. Até Roberto Carlos foi alvo de seus comentários, no início da carreira: “Ou prossigo evoluindo, ou terei vida curta... Não quero cair no esquema de Roberto Carlos.”
Dito e feito, Guilherme prosseguiu evoluindo como intérprete e compositor. Grandes nomes da música popular brasileira gravaram suas canções como Maria Bethânia (com a inesquecível “Brincar de viver”), Caetano Veloso (com “Amanhã”), MPB4 (com a música “Labirinto"), Fábio Júnior (que gravou “Uma espécie de irmão”), Quarteto em Cy (com “Sol do meio dia”), Zizi Possi (com “Era pra durar”) e Elis Regina, que já cantou Guilherme, no duplo sentido da palavra, como ele mesmo nos conta:

“Num jantar no Bar Lagoa, Rio, ela escreveu num guardanapo de papel que preferia estar ‘longe deste insensato mundo, com você’, e me passou por baixo da mesa. Fiquei em pânico, não sabia o que fazer. Meu casamento com Márcia estava meio balançado, terminou de balançar... Ela era muito carente, eu também, e a gente logo travou uma carinhosa amizade. Pude acompanhar sua depressiva frustração quando Herbie Hancock não cumpriu sua proposta de produzi-la nos EUA... Acho que esse era seu grande desafio - ser uma estrela internacional. Com o tempo acabei me afastando dela, só recebi um cartão no fim do ano de 1981, feito pelo Elifas Andreatto, pouco antes dela deixar este mundo ‘insensato’.”


Em 1981, Guilherme lançou “Deixa Chover”, tema da Beth Faria em “Baila Comigo”. Na mesa sessão de estúdio gravou nosso hino ambiental, “Planeta Água”, música que entraria logo a seguir no festival MPB Shell de 1981. Para decepção da plateia, Guilherme conquistou apenas o segundo lugar em um dos festivais mais injustos da MPB. A vencedora foi Lucinha Lins, com a música "Purpurina"... Ao final do Festival Guilherme comentou com humildade: “Foi Deus que quis assim...” enquanto o público vaiava “Purpurina”, a canção vencedora:

“Nem preciso contar o que aconteceu, com o segundo lugar consagrador que me pôs muito mais em evidência do que se houvesse ganhado o óbvio primeiro lugar.” – comenta.




Guilherme Arantes foi um dos pioneiros do som eletrônico. Sempre utilizou órgãos e sintetizadores, nunca deixando de lado o bom e velho piano Steinway, hoje avaliado em 90 mil dólares.
Seus 37 anos de carreira são traduzidos em incontáveis sucessos que vão do rock ao pop, passando pela MPB e new age. Pianista autodidata de talento, Guilherme é o único brasileiro a conquistar o certificado “Steinway”, uma espécie de prêmio de qualidade para os melhores pianistas do mundo. Mas ele não se aventurou apenas no mundo da música:

“No Carnaval de 2000, decidi me mudar para a Bahia, junto com todos os meus sonhos, e aluguei uma casa simples, mas adorável em Vilas do Atlântico, município de Lauro de Freitas. Constituímos uma fundação, o Instituto Planeta Água de Pesquisas Educacionais e Ambientais, para gerenciar essa proposta social/ecológica, que não é brincadeira não. Estamos implantando um trabalho sério, onde o compromisso maior é com a enxada, com o homem simples e trabalhador, com as plantas e animais do Brasil, com a música e a poesia, com os valores de uma nova era. Pretendo trazer para cá os maiores nomes do Pop brasileiro e mundial e todos os fãs serão especialmente bem-vindos na pousada. A Escola do Instituto está sendo palco de um projeto de alfabetização de adultos, parceria com a Associação do Vale Dourado, com a SEMARH, Conselho Gestor das APAs do Capivara e Guarajuba, com SENAI, SEBRAE, SESI, Prefeitura de Camaçari. Também há uma turma de Artesanato, com senhoras da região, durante as tardes.”


Neste 2011, Guilherme lançou um site com produção própria, com cifras e partituras para violão, piano e orquestra e muito material exclusivo, totalmente novo e livre de mercado fonográfico (http://www.guilhermearantes.com/ e www.guilhermearantes.com.br). Também revelou que está produzindo um trabalho bem pop, com músicas “pra cima”, com temas alegres e que vai ser um “disco de verão”, como foi o de 1982.



Guilherme Arantes hoje: maturidade e a alegria de ainda cativar cada vez mais os fãs!




****************************

AMANHÃ
Guilherme Arantes

Amanhã!
Será um lindo dia
Da mais louca alegria
Que se possa imaginar

Amanhã!
Redobrada a força
Pra cima que não cessa
Há de vingar

Amanhã!
Mais nenhum mistério
Acima do ilusório
O astro rei vai brilhar

Amanhã!
A luminosidade
Alheia a qualquer vontade
Há de imperar!
Há de imperar!

Amanhã!
Está toda a esperança
Por menor que pareça
Existe e é pra vicejar

Amanhã!
Apesar de hoje
Será a estrada que surge
Pra se trilhar

Amanhã!
Mesmo que uns não queiram
Será de outros que esperam
Ver o dia raiar

Amanhã!
Ódios aplacados
Temores abrandados
Será pleno!
Será pleno!



TH- Todos nós seremos, Guilherme!



10 comentários:

  1. Pleno o texto. Informativo e emocional, como me parece que deve ser. Sobretudo emocional. Em se tratando de Guilherme Arantes, especialmente.

    Gosto de todas as canções mencionadas, o Guilherme é um compositor delicado e um ótimo músico.

    Dia desses, passando em um quiosque a beira-mar, lá estava ele, em um telão, ao vivo, cantando "Um dia, um adeus". Interrompi a trajetória e cantei junto com ele. Só no final me dei conta que o dono do quiosque assistia a cena e ria. Acenei, sorri e segui. Já posso dizer que cantei em dueto com Guilherme Arantes... rs

    Abraço THiago.

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  2. Que texto maravilhoso!!!! Parabéns pra Grazi.

    Guilherme Arantes conquista da empregada a patroa.Só basta dizer isso!!!
    Parabensss

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  3. Simplesmente adorei seu blog. Ele é muitíssimo informativo, atual, com ótimos textos e imagens.

    Nossa! Me maravilhei com seus arquivos.
    Estava faltando blogs legais por aqui.

    Parabéns! de verdade!

    até mais!

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  4. oi queridão!! estou sempre por aqui e como percebeste, já te add por lá nas crônicas também! percebo como você tem um conhecimento musical apurado. És músico ou estudante?

    Ei... oq dizer de Guilherme? lá na minha pré-história eu sempre ia com ele no Balão Azul...
    porque, afinal de contas,

    "Tenho alma de artista sou um genio
    sonhador e romantico
    Eu vivo sempre no mundo da lua
    Porque sou um aventureiro
    desde o meu primeiro passo
    no infinito
    Eu vivo sempre no mundo da lua"

    Ótimo final de semana pra ti! bjo.

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  5. Revivi toda a minha juventude aqui e agora ... kidelícia TH!

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  6. boas recordações! o melhor de tudo é saber que ele tá aí, não faz parte apenas do passado! ótima escolha, TH! Excelente texto, Grazi!

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  7. Obrigado pelos comentários, pessoal!

    Grazi tem propriedade absoluta pra falar de seu ídolo Guilherme Arantes. Enriquecerá bastante o blog, nesse mês!

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  8. Obrigada a todos pelos comentários! Escrever sobre o Guilherme é muita responsabilidade... Afinal, manter-se fiel à Música Brasileira durante 35 anos, sem se render às exigências, nem sempre bem intencionadas, do mercado fonográfico não é pra qualquer um!

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  9. A Gra deve estar nas alturas com o convidado especial do Enthulho nesse mês! O que REALMENTE me preocupa é que, dada a brecha, vem por aí um DILÚVIO de G. Arantes, minha gente! Porque a Gra é INTENSA! Rs. Bom pra nós que, aproveitando as ondas, conheceremos mais do digníssimo cantor.
    Beijos, Gra!

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  10. AMEI DEMAIS...EXCELENTE ESCOLHA TH...E O TEXTO DA GRAZI ESTÁ MUITO BOM! TAMBÉM ACOMPANHO A VIDA E A OBRA DESSE POETA/CANTOR QUE A TODOS EMBALA COM SUA SINCERIDADE A FLOR DA PELE...PARABÉNS AO BLOG NOTA 10000000000

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