sábado, 1 de janeiro de 2011

ARTISTA DO MÊS: ANTÔNIO CARLOS JOBIM!




"Esta cidade é um lugar paradisíaco, com essas montanhas, essas matas, esse céu azul lavado, esse sol, essas garotas e até essas águas de março, que já começam a chegar. Mas meu amigo Oscar Niemeyer estava com a razão quando me disse que uma cidade só é cidade até 800 000 habitantes." Tom, sobre o Rio de Janeiro.

Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim tem a responsabilidade de carregar consigo o título de maior artista brasileiro. Por mais que discordem, poucos chegam ao seu patamar de elogios e reconhecimento – bem mais no exterior que aqui, fato...
É bem verdade que, em alguns momentos de sua vida (abreviada em 1994, em Nova Iorque), ele chegou a rechaçar a posição: “ Fazer sucesso no Brasil é ofensa pessoal”, disparado num mau momento, por estar bastante chateado com as críticas brasileiras ao refinamento e “americanização” de sua obra. O que chega a ser injusto: suas composições fizeram (e ainda fazem) muito sucesso falando de coisas brasileiríssimas – musicou com grande dose de observação e imaginação nossas matas, bichos, cidades, paisagens, lugares onde viveu e, principalmente, amou. Deu imagem musicada a tantas mulheres brasileiras, sem ou com nomes (Luizas, Heloísas, Lígias) e consegue primar pelo melhor da música nacional por onde passa. “A música brasileira é a melhor do mundo, incomparável, e deve um crédito gigantesco à contribuição de Antônio Carlos Jobim”, diz seu Edmar Araújo, meu avô e cri-crítico musical. Se passou pelo crivo de sua aprovação, ta no lucro e presta, acreditem! :)
“Quando engloba a obra de um gênio que se notabilizou por descrever em sons o que nem as palavras alcançam - a montanha, o Sol, o mar e outras maravilhas da arquitetura divina.” Diz o jornalista Marcelo Ferla, à revista Rolling Stone.

Enxergo Tom como um maestro soberano (título, aliás, conferido por Chico Buarque) que conduz com real soberania uma música que realmente importa, totalmente magnética aos ouvidos brasileiros e estrangeiros. Sua inspiração é tanta que consegue eternizar mundialmente grandes composições que versam assuntos tão genuinamente brasileiros, cariocas, locais. Ele situa o Rio do Janeiro perante todo Brasil, e faz o mesmo com o Brasil perante o mundo – e a mágica de seu universo consegue explicar o porquê de perdurarem seus inspirados sonhos musicados até os dias de hoje.
(
Particularmente, os meus momentos de maiores tristezas devido a relacionamentos sempre foram sublinhados por grandes hinos seus, como “Soneto da Separação”, “Modinha”, “Eu Não Existo Sem Você e outros tantos! Ele é daqueles compositores que você mexe, remexe e sempre se surpreende encontrando “coisa nova no seu acervo velho”)

Durante todo esse mês, este grande compositor, maestro, cantor, poeta, pianista, violonista e arranjador brasileiro, um dos criadores do movimento “Bossa Nova”, terá grandes matérias aqui no EnTHulho Musical. A homenagem começa hoje com sua biografia, retirada (e editada por mim) do site oficial do cantor.


SALVE!




Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim nasceu em 25 de Janeiro de 1927, no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro. Mudou-se logo depois para Ipanema, onde foi criado. A ausência do pai, Jorge de Oliveira Jobim, durante a infância e adolescência lhe impôs um contido ressentimento, desenvolvendo no maestro uma profunda relação com a tristeza e o romantismo melódico, transferido peculiarmente para as construções harmônicas e melódicas. Aprendeu a tocar violão e piano em aulas, entre outros, com o professor alemão Hans-Joachim Koellreutter, introdutor da técnica dodecafônica no Brasil.
Pensou em trabalhar como arquiteto, chegando a cursar o primeiro ano da faculdade e até a se empregar em um escritório, mas logo desistiu e resolveu ser pianista. Tocava em bares e boates em Copacabana, como no Beco das Garrafas no início dos anos 1950, até que em 1952 foi contratado como arranjador pela gravadora Continental, onde trabalhou com Sávio Silveira. Além dos arranjos, também tinha a função de transcrever para a pauta as melodias de compositores que não dominavam a escrita musical. Datam dessa época as primeiras composições, sendo a primeira gravada "Incerteza", uma parceria com Newton Mendonça, na voz de Mauricy Moura.

Depois da Continental, foi para a Odeon. Entretanto, não tinha tanto tempo para se dedicar à composição, que lhe interessava mais. É nesse época que compõe alguns sambas, em parceria de Billy Blanco: Tereza da Praia, gravada por Lúcio Alves e Dick Farney pela Continental (1954), Solidão e a Sinfonia do Rio de Janeiro. Tereza da Praia o primeiro sucesso. Depois disso, ocorreram outras parcerias, como com a cantora e compositora Dolores Duran, na canção Se é por Falta de Adeus.
Em 1956 musicou a peça Orfeu da Conceição com Vinícius de Moraes, que se tornou um de seus parceiros mais constantes. Dessa peça fez bastante sucesso a canção antológica Se Todos Fossem Iguais a Você, gravada diversas vezes. Tom Jobim fez parte do núcleo embrionário da bossa nova. O LP Canção do Amor Demais (1958), em parceria com Vinícius, e interpretações de Elizeth Cardoso, foi acompanhado pelo violão de um baiano até então desconhecido, João Gilberto. A orquestração é considerada um marco inaugural da bossa nova, pela originalidade das melodias e harmonias. Inclui, entre outras, Canção do Amor Demais, Chega de Saudade e Eu Não Existo sem Você. A consolidação da bossa nova como estilo musical veio logo em seguida com o 78 rotações Chega de Saudade, interpretado por João Gilberto, lançado em 1959, com arranjos e direção musical de Tom, selou os rumos que a música popular brasileira tomaria dali para frente. No mesmo ano foi a vez de Sílvia Telles gravar Amor de Gente Moça, um disco com 12 canções de Tom, entre elas "Só em Teus Braços", "Dindi" (com Aloysio de Oliveira) e "A Felicidade" (com Vinícius).

Tom foi um dos destaques do Festival de Bossa Nova do Carnegie Hall, em Nova York em 1962. No ano seguinte compôs, com Vinícius, um dos maiores sucessos e possivelmente a canção brasileira mais executada no exterior: "Garota de Ipanema". Nos anos de 1962 e 1963 a quantidade de "clássicos" produzidos por Tom é impressionante: "Samba do Avião", "Só Danço Samba" (com Vinícius), "Ela é Carioca" (com Vinícius), "O Morro Não Tem Vez", "Inútil Paisagem" (com Aloysio), "Vivo Sonhando". Nos Estados Unidos gravou discos (o primeiro individual foi The Composer of Desafinado, Plays, de 1965), participou de espetáculos e fundou sua própria editora, a Corcovado Music.
O sucesso fora do Brasil o fez voltar aos EUA em 1967 para gravar com um dos grandes mitos americanos, Frank Sinatra. O disco Francis Albert Sinatra e Antônio Carlos Jobim, com arranjos de Claus Ogerman, incluiu versões em inglês das canções de Tom ("The Girl From Ipanema", "How Insensitive", "Dindi", "Quiet Night of Quiet Stars") e composições americanas, como "I Concentrate On You", de Cole Porter. No fim dos anos 1960, depois de lançar o disco Wave (com a faixa-título, Triste, Lamento entre outras instrumentais), participou de festivais no Brasil, conquistando o primeiro lugar no III Festival Internacional da Canção (Rede Globo), com Sabiá, parceria com Chico Buarque, interpretado por Cynara e Cybele, do Quarteto em Cy. Sabiá conquistou o júri, mas não o público, que vaiou ostensivamente a interpretação diante dos constrangidos compositores.


Aprofundando seus estudos musicais, adquirindo influências de compositores eruditos, principalmente Villa-Lobos e Debussy, Tom Jobim prosseguiu gravando e compondo músicas vocais e instrumentais de rara inspiração, juntando harmonias do jazz (Stone Flower) e elementos tipicamente brasileiros, fruto de suas pesquisas sobre a cultura brasileira. É o caso de "Matita Perê" e "Urubu", lançados na década de 1970, que marcam a aliança entre sua sofisticação harmônica e sua qualidade de letrista. São desses dois discos Águas de Março, Ana Luiza, Lígia, Correnteza, O Boto, Ângela. Também nessa época grava discos com outros artistas, como Elis e Tom, com Elis Regina, Miúcha e Tom Jobim e Edu e Tom, com Edu Lobo.

Valendo-se ainda do filão engajado da pós-ditadura, cantou, ainda que com uma participação individual diminuta, no coro da versão brasileira de We are the world, o hit americano que juntou vozes e levantou fundos para a África ou USA for Africa. O projeto Nordeste Já (1985) abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num compacto, de criação coletiva, com as canções Chega de mágoa e Seca d´água. Elogiado pela competência das interpretações individuais, foi no entanto criticado pela incapacidade de harmonizar as vozes e o enquadramento de cada uma delas no coro.
Em 1987, lançou Passarim, obra de um compositor já consagrado, que pode desenvolver seu trabalho sem qualquer receio, acompanhado por uma banda grande, a Banda Nova. Além da faixa-título, Gabriela, Luiza, Chansong, Borzeguim e Anos Dourados (com Chico Buarque) são os destaques. Em 1992 foi enredo da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Seu último álbum, Antônio Brasileiro, foi lançado em 1994, pouco antes da sua morte, em dezembro, de parada cardíaca, quando estava se recuperando de um câncer de bexiga no Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque.


BIOGRAFIA COMPLETA EM: http://www2.uol.com.br/tomjobim/biografia.htm


Observações: o disco escolhido para ilustrar o cabeçalho do EnTHulho é o controverso "Urubu", de 1976. Tem esse LP aqui em casa e desde pequeno me delicio com a audição do mesmo. Destaque pra lindísima "Correnteza".
A música abaixo é Dindi, uma de minhas preferidas do Tom, que já foi gravada por inúmeros artistas nacionais e internacionais. Coloquei a melhor das versões, na minha opinião: Gal Costa, cantando acompanhada do mestre ao piano no vídeo logo abaixo da letra.


Partituras de Tom. À direita, Tom com dois de seus inúmeros parceiros: Miúcha e Chico Buarque. Mas ele tem beeeem mais! :)





*************************************
DINDI
Composição: Antônio Carlos Jobim, Aloysio de Oliveira e Ray Gilbert
Interpretação: Gal Costa e Tom Jobim (piano)

Céu, tão grande é o céu
E bandos de nuvens que passam ligeiras
Prá onde elas vão, ah, eu não sei, não sei
E o vento que fala das folhas
Contando as histórias que são de ninguém
Mas que são minhas e de você também
Ai, Dindi
Se soubesses o bem que eu te quero
O mundo seria, Dindi, tudo, Dindi, lindo, Dindi
Ai, Dindi
Se um dia você for embora me leva contigo, Dindi
Olha, Dindi, fica, Dindi
E as águas desse rio
Onde vão, eu não sei
A minha vida inteira, esperei, esperei por você, Dindi
Que é a coisa mais linda que existe
É você não existe, Dindi



TH - Esse promete ser um mês refinado, hein?



14 comentários:

  1. Comentário de meu próprio avô, quando mostrei o post: "Como é que se lê no computador. Imprima já"

    ResponderExcluir
  2. Tipo assim, eu sei de toda importância dele e tal, mas ele me dá um soooooooono #ProntoFalei
    hihiihihi
    Bjocas, Tico!

    ResponderExcluir
  3. Falar de Antonio Brasileiro é traçar um perfil extremamente particular do país. Poucas pessoas trataram com tanta sensibilidade e paixão sua própria aldeia, viveram com tanta propriedade e sabor as maravilhas da Cidade Maravilhosa. Sua música é apenas uma consequência.

    Muito bom o post, TH! E feliz 2011!

    ResponderExcluir
  4. Impossivel encontrar alguem que diga que Tom não seja um dos maiores artistas brasileiros. Suas letras não são apenas músicas, mas também poesias.

    ResponderExcluir
  5. um mestre!
    e ainda com esse video lindo com a Gal... ai ai Dindi

    beijos e feliz ano novo!

    ResponderExcluir
  6. THiago, você é meu irmão, sabia? Sou um pouco neto do teu avô também... rs

    Tenho, claro, um lado Bossa Nova muito vivo. O Tom é mesmo soberano.

    Mas o que eu realmente preciso dizer é que eu a-do-ro a música que você escolheu!!

    ResponderExcluir
  7. adooooooooooooooooro!
    Um clássico da MPB brasileira, senão o maior!!

    Peço desculpas pelo sumiço... o tempo que é curto mesmo.


    Vim desejar um Feliz 2011. Que toda sorte de bênçãos seja sobre vc neste ano que se inicia!!

    BeijO*-*
    http://evesimplesassim.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  8. Tom falando de Tom...
    Basicamente, o Tom é quem eu queria ser!
    Abração, meu caro!

    ResponderExcluir
  9. Gosto do Tom músico, compositor. Não gosto do Tom cantor.

    ResponderExcluir
  10. novamente me deparo com as classificações aqui. "O músico", "o compositor", "o cantor".

    THiago, cá entre nós: o Tom é um maestro, isso sim é que é! E você, meu amigo, você é batuta!!

    Um abração.

    ResponderExcluir
  11. Se eu soubesse que o MALUCÃO BELEZA estava concorrendo com Jobim, teria vindo aqui trocentas mil vezes só para votar e meu Raulzito ser o grande vitorioso, mas tá em boas mãos...o Grande Maestro que encantava pássaros no Jardim Botânico merece e depois em todo o Mundo...

    Beijos!!!

    Agora é que estou conseguindo captar a "aura" do seu blog. Como não sou boa conhcedora de música - aliás, não sou boa conhecedora de nada - sou igual aquela canção que a Paula Toller cantava nos anos 80: "...Sei um pouco de quase tudo e quase tudo mal..."
    É a vida!!!

    Prometo vir mais vezes aqui pra ver se eu APRENDO um pouco mais sobre 'quase tudo'...ou 'quase nada'...

    ResponderExcluir
  12. Pra mim, "Águas de Março é a melhor. Adoooro!!!

    Bjs e Feliz 2011 pra vc!!!

    ResponderExcluir
  13. Tava em falta contigo. Ou melhor, com o EnTHulho.

    Mas sabe como é, início de ano, rola aquela ressaca moral e estomacal. E eu achei que o post merecia um comentário à altura. Não dava pra escrever a primeira coisa que viesse à cabeça.

    Enfim, cá estamos, para falar de Tom Jobim. Com relação a ele, eu não consigo ser imparcial. É muito amor! Acho as composições fabulosas, mas curiosamente, não gosto muito de ouvi-las na interpretação de outros artistas.

    O Tom é único.

    ResponderExcluir
  14. Tem uma girl aí em cima
    Paula Martins
    que disse que Tom Jobimlhe dá sono

    Parabesn á democracia !!

    Nela devemos tolerar esta mocinha
    e elogiar sua SINCERIDADE RARA !!!
    Carlos

    ResponderExcluir

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...