[Cronista convidado: Antônio Elias Firmino Ferreira*, o nosso Tom :)]
[Ao som de "Carta ao Tom"]
Este Tom tem alguns pecados cometidos ao longo de sua relativamente curta vida – quem não tem, né? Um dos confessáveis publicamente é o de nunca ter dado ao outro Tom o seu devido valor até bem tarde. Foram onze anos de convivência – não mútua, logicamente, éramos eu e os discos que meu pai me obrigava a ouvir “Porque hoje é sábado” –, os dois últimos foram mais intensos por conta do início dos estudos em música (eu estava estudando no Colégio São Domingos, que tinha aulas de Música e Artes Plásticas obrigatórias). O fato é que eu não via grandes coisas no que ouvia. Dava um sono desgraçado.
A real descoberta viria na adolescência... como nunca fui uma criatura comum em meio círculo de convívio, eu trocava o Tchan facilmente por outra coisa. E em fase de descobertas e experimentos, tudo entrava na dança – baratos, sexo, ideais, religião e... música. Crescendo isolado no meio do mundo cheio de pessoas, eu buscava calmaria e lirismo no meio dos batuques incessantes supersexualizados e assim, eu redescobri aquele senhor com um chapéu indefectível na cabeça que meu velho me obrigava a ouvir “porque hoje é sábado! SARAVÁ!!!”.
Como eu, ele era brasileiro. Tão brasileiro que este era um dos seus sobrenomes! E nada mais fez que exaltar as belezas do seu País: suas matas, seus animais (pássaros, especialmente), suas mulheres, seu folclore, seu Rio de Janeiro natal.
Como qualquer brasileiro, foi camarada, fez muitos amigos ao longo da sua vida. Tão amigos que se tornaram parceiros, companheiros de jornada e trabalho – tudo regado, lógico, a um bom chope nos bares e boates da zona sul carioca e nas reuniões na casa da amiga Nara, que viriam a também ser eternizados.
Foi revolucionário em toda a calmaria de sua obra – a mistura de samba com jazz pode até ter criado algo que parece elitista por aqui, mas não é verdade. Foi simplesmente uma junção até então impensada de dois ritmos negros que deu muito certo e resultou num ritmo novo, completa e genuinamente brasileiro, reconhecido mundo afora. Um velho novo jeito de tocar, um velho novo jeito de cantar, abandonando o “dó-de-peito” em favor de vocais mais suaves, quase sussurrantes.
Claro, como os melhores, ele também falou de amor. E de desamores. E de novos amores. E de amores interferindo em outros amores (perigo...). Basicamente, há sempre um Tom para cada momento da vida deste Tom, com certeza. E de tantos outros Tons... e Antonios... Carlos... Elias... Nilzas... Jorges... Therezas... Anas... Paulos... Elizabethes... Daniéis... Doras... Franciscos... Luizas (aliás, ele cantou uma, não foi? OK, foi para uma novela...)...
Ao longo da vida, pude encontrá-lo em filmes, no teatro, na televisão, na discoteca paterna. Ainda olho para trás e vejo que muito tempo foi perdido pelo desvalor dado ao que havia para deleite e crescimento deste Tom. Mas certamente há tempo de sobra para se recuperar o perdido!
* É arquiteto de Maceió, AL e tem uma forte ligação com as artes.
Blog: http://cantinhodotom.blogspot.com/
Participação dele como Amigo Musical Convidado: http://enthulho.blogspot.com/2010/07/amigo-musica-convidado-8-antonio-tom.html
Arrasou, como sempre, meu querido amigo!
ResponderExcluirNo tom, eu diria, o autor.
ResponderExcluirE mesmo que desafinasse, sabemos: "no peito dos desafinados também bate um coração." :)
Thomaz!
ResponderExcluirAcho que até o Jeremy balteu palminhas efusivas para você depois dessa!
Gostei demais da honestidade do relato biográfico se misturando com a produção musical do outro Tom - contrariando, certamente, seu gosto, muito mais famoso que você! Kkkkkkkk (Não resisti a piadinha com o ego "lá em cima" dos leoninos, sorry!) =9
De verdade, gostei muito!
Meus parabéns e um abraço bem grande!