sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

AMIGO MUSICAL CONVIDADO # 22 - Marcelo Ramos!

O comunicador fissurado por trilhas sonoras de novelas!


O virtual não é o contrário do real. Este seria o irreal. E o que é o virtual, então?
O conceito nunca sairá completo. Há pessoas que falam da internet pra atribuir virtualidade ao tipo de relação que se se estabelece por este meio. Há quem minoriza, que preconiza a "vida real', o "viver a vida', num ambiente bem distante de um computador. Eu mesmo já nem sei que peso a internet ainda exerce na minha existência, mas uma coisa é fato: devo a ela grandes contatos que fiz e que quero manter pra sempre.
Marcelo Ramos: que tarefa dificil lhe definir hein? Nós, piscianos, não devemos nunca nos limitar - até por não termos limites em nossa essência sonhadora. E como acho que definição é limite, vou discorrer com um breve histórico de nosso conhecimento e as pessoas vão "pegando" quem você é por ele.
Conheci pela internet em 2009 e pessoalmente no primeiro dia de 2010. Nômade que já morou em várias cidades, a primeira afinidade foram as impressões sobre a minha Maceió. Depois veio o mesmo signo, os conhecimentos teledramaturgicos, astrológicos e, finalmente, as tão saborosas trilhas sonoras! Ainda sobra espaço pra tricotarmos sobre vida pessoal e sobre um projeto na área de Comunicação que está desenvolvendo e que, volta e meia, me pede alguma ajuda. Conversamos bem menos do que podem pensar, mas a sintonia se estabelece ainda assim e eu o admiro por vários motivos - dentre eles, a capacidade de reconhecer erros e excessos e se reinventar a partir deles.
Fã de cantoras como Adriana Calcanhotto e Marina Lima - com quem já até se comunicou pra falar sobre o quanto sofreu com suas composições - fico feliz que tenha eleito o EnTHulho Musical como um de seus blogs preferidos - e certamente já é um grande colaborador do meu espacinho - seus conhecimentos de Publicidade serão de grande valia aqui!
A seguir, o relato apaixonado do super fã e especialista em trilhas sonoras, que mora em Itatiaia, RJ. Obrigado, rapaz!

P.s.: Marcelo é mais um fã de Marina Lima que faz questão de manter a cantora - que não está em evidência nos dias de hoje, sempre lembrada e homenageada. Observando seu relato, percebo o quanto a afinidade lhe fez buscar mais e mais elementos e particularidades da obra e da vida pessoal de seu ídolo. Marina sempre terá espaço aqui no blog e seus fãs ajudam um bocado ;)



Ela domina geral no gosto dos leitores do EnTHulho Musical!


Com toda a certeza eu não fui o primeiro a escrever sobre essa diva da música pop aqui no blog. Eu pensei em escrever sobre outra música, mais intelectualmente interessante. Optei por seguir o meu coração e tornar a beber nessa fonte inesgotável de alívio imediato para qualquer tipo de dor afetiva: Marina Lima.
No começo da carreira, ela era pop total mesmo. Já nos primeiros discos, lançou músicas para as novelas “Pai Herói” (1979),Marina” (1980), “Plumas & Paetês (1981), Baila Comigo” (1981). Todos sabem que ela faz as letras junto do irmão, o respeitado filósofo carioca Antônio Cícero. Marina começou a usar os poemas do irmão e logo em seguida, a escrever as músicas junto dele. O auge desse momento pop-rock da Marina se deu com o disco “Fullgás (1984), que cedeu a faixa título para a novela "Vereda Tropical” (1984).
Em 1987 Marina lançou um de seus álbuns mais conhecidos: “Virgem”. Desse álbum saiu a faixa-tema de Tonico Ladeira (Tony Ramos) e Ana (Isabela Garcia) em “Bebê a Bordo”

“Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo”

E, bem mais tarde, outra faixa – “Uma Noite e ½” foi aproveitada como tema de abertura da minissérie “Contos de Verão”. Virgem é o signo de Marina, nascida em 17 de setembro. Foi essa faixa que eu escolhi para ilustrar meu texto.

Eu fiquei apaixonado pelas músicas de Marina em 1994 quando, já na universidade, conheci “O Chamado” através da novela “Quatro por Quatro”. Quis conhecer esse disco melhor, eu morava na capital do Rio de Janeiro e tinha amigos músicos que me orientaram.
No ano de 1993, Marina perdeu o pai, que era embaixador. Ainda estava em fase de recuperação de um amor não-correspondido. Como ela não tinha um relacionamento muito próximo com o pai, entrou numa crise de depressão e dessa introspecção, o álbum “O Chamado”. Nesse tempo Marina estava muito envolvida com estudos de Filosofia, especialmente do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Sempre orientada pelo irmão, Marina começou a fazer reuniões com amigos em casa para falarem sobre Filosofia.

“Um coração cansado de sofrer
E de amar até o fim
Acho que vou desistir”

Marina ainda estava baqueada pela paixão platônica pela modelo francesa Solange Cousseau, que viveu um tempo no Rio. Em 1991, no disco “Marina Lima”, ela fez uma música pra Solange: “Criança”. Essa paixão dolorida ainda durou algum tempo e nós, os fãs, foi quem ganhamos pois o trabalho de Marina é como o de uma ostra, que, depois de um certo tempo, produz verdadeiras pérolas.

“Eu sei
Criança, eu sei
Mas se você disser que quer
Eu vou adorar...”

O álbum “Marina Lima” também deu a cantora o Grammy pela música “Grávida” e ela ilustrou cenas de “O Dono do Mundo” com “Acontecimentos” e “Perigosas Peruas” (com “Eu Não sei Dançar”). Essa última, tema da sofrida Cidinha (Vera Fischer) foi encontrada debaixo da sua porta. O compositor, o gótico Alvin L. (Alvin Lixo) fez a música e colocou debaixo de sua porta. Acabou se tornando um amigo da cantora e fez outras canções para ela.

“Às vezes eu quero chorar
Mas o dia nasce e eu esqueço
...

E tudo que eu posso te dar
É solidão com vista pro mar
Ou outra coisa pra lembrar...”


Depois de “O Chamado”, vieram outros discos que ainda traziam a marca desse disco. Aliás, eu arrisco dizer que depois do “Chamado” a obra de Marina Lima nunca mais foi a mesma. Ficou muito melhor. Foi um verdadeiro marco em sua carreira.
Dois anos após lançar “O Chamado”, Marina presenteou seus fãs com um álbum bem mais alegre mas não menos introspectivo e poético: “Abrigo” (1995). Era a hora de Marina agradecer àqueles que a “abrigaram” no seu difícil período de “O Chamado”. “Abrigo” começa com uma música de Paulinho Moska, artista carioca em que Marina apostou muitas fichas, inclusive ajudando na divulgação do seu primeiro LP. A música de Moska fez parte da trilha sonora de “Explode Coração” e foi tema da também mal-amada Vera Avelar Falcão (Maria Luisa Mendonça), casada com o protagonista Júlio (Edson Celulari) mas não era desejada pelo marido. Passou, então a se envolver com o professor de Educação Física Ivan (Herson Capri).

“Olhei pro amanhã
E não gostei do que vi
Sonhos são como deuses
Quando não se acredita neles deixam de existir
Lutei por sua alma mas admito que perdi”

Querem remédio melhor pra dor de cotovelo??

Existem vários registros de leitura da cidade do Rio de Janeiro na obra de muitos cantores e compositores. Marina também fez um belo retrato da Zona Sul Carioca. No disco “Virgem”, na faixa de mesmo título, Marina narra uma triste história de amor perdido e o bairro do Leblon é testemunha da melancolia dela:
Marina, poética e sempre apaixonada, fala da vista da casa dela. Hotel Marina é um hotel que fica na esquina da Av. Delfim Moreira (beira-mar) com a R. João Lira, à beira-mar. O farol da ilha fica nas Ilhas Cagarras, lá no fun do domar, onde é atirado o esgoto de boa parte da cidade - daí o nome “cagarras”. Vidigal é a favela que circunda o Morro Dois Irmãos e compõe a paisagem de quem olha Ipanema e do Leblon. Convido vocês para fazerem uma viagem ao Rio mas olhando da janela da Marina.



****************************************
VIRGEM
Marina Lima e Antônio Cícero

As coisas não precisam de você
Quem disse que eu
Tinha que precisar
As luzes brilham no Vidigal
E não precisam de você
Os dois irmãos
Também não precisam

O Hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor
Os inocentes do Leblon
Esses nem sabem de você
O farol da Ilha
Só gira agora
Por

Outros olhos e armadilhas
Outros olhos e armadilhas
Eu disse
Outros olhos e armadilhas
Outros olhos (outros olhos)
E armadilhas

O Hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor
Os inocentes do Leblon
Não sabem de você
Nem vão querer saber
E o farol da Ilha
Procura agora

Por outros olhos e armadilhas
Outros olhos e armadilhas
Eu disse outros olhos e armadilhas
Outros olhos (outros olhos)
E armadilhas

As coisas não precisam de você
...


TH - Linda (e explicada) letra. Obrigado, Marcelo!

*Vídeo de Bruno Luiz Berzerk




13 comentários:

  1. Thiago, meu queridão,

    Ao ler a descrição que você fez por minha pessoa, pensei logo em comentar as primeiras frases mas quando continuei me senti uma celebridade sendo descrita por um jornalista do caderno cultural do Globo!! Você mandou muito bem, acho o teu texto ficou até melhor que o meu.
    Gostei da forma corajosa como você assume em cpúblico a admiração que tem por mim e te digo que é absolutamente recíproca.

    Eu realmente abri mão de outros sites de música para concentrar minhas atenções no EnTHulho. Conte comigo pra pesquisar oque você precisar. Como disse, tenho lido e ouvido Tom Jobim, pra te ajudar a sustentar as matérias sobre o mestre carioca nos comentários.
    Temos muitas afinidades, sim, essas todas que você descreveu mas eu invisto mais na nossa capacidade de sermos produtores musicais, como a Maria Clara Diniz (Malu Mader) em "Celebridade".
    Eu substituo o Mariozinho Rocha no Rio e você, o Nelson Motta em São Paulo. Não seria perfeito?

    Em tempo: a-do-rei o "texto apaixonado". O texto foi mesmo resultado de mais uma grande decepção amorosa.

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  2. A capacidade do TH de descrever as pessoas é algo sobrehumano, Marcelo.
    Parabens pelo seu texto!! Adoro Marina Lima

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  3. Felipe, eu estou ainda tentando acreditar nesse presente que ele me deu. Vou por até o texto dele como descrição do perfil do orkut!

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  4. A voz rouquinha dela sempre me impressionou!
    Adorei o texto, Marcelo!! Ficou lindo e vc tb é!!

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  5. Sempre fui apaixonada por essa voz rouca...

    Hoje aprendi demais aqui!

    Márcio Nicolau já havia me aplicado muitas canções que não conhecia e hoje aprendi mais sobre sua história. Muito bacana!

    Parabéns, Marcelo e Thiago, pelo belíssimo post!

    BEIJOS!!!

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  6. Ótimo texto o do Marcelo.
    Estávamos esperando faz tempo..todos ansiosos! rs
    Marina fez parte da vida das últimas gerações.

    Só uma correção: Em 86, a cantora lançou o Todas Ao Vivo.
    Virgem foi lançado em 87.

    Valeu, Marcelo!

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  7. Marcelo Ramos

    Eu me vi em você!!!

    Sabe o que me impressiona? Uma amiga me disse certa vez e eu constato a todo tempo: há diversas peculiaridades entre nós, fãs da Marina.

    Nós somos muito parecidos. E nos assemelhamos a ela, inclusive em algumas passagens biográficas. Isso explica porque ela nos acompanha. Isso explica porque nós a acompanhamos.

    Não há um dia sequer que não a escute ou mencione.

    Lembrei agora do encarte do disco "Abrigo" em que está o seguinte diálogo:

    Aí o João disse:
    "Mas Marina, somos muitos!"

    Aí eu pensei:
    "É João... Eu sou só. E somos muitos."
    Graças a Deus.

    Cada vez que conheço alguém que também entende o trabalho desta compositora e cantora, me sinto um pouco menos só.

    Embora, por outro lado (o que é bastante paradoxal), eu mantenha em relação a Marina um certo "exclusivismo", que se dá também com a maior parte de seus fãs. Nós temos ciúme dela, é uma loucura! rs

    Já me remeti a própria, mas tive inclusive receio de explicitar demais esta admiração, o que poderia assustá-la. A Marina é um ícone pra mim.

    Ocorre, sem dúvida, uma identificação afetiva. O que inclusive vai de encontro ao que disse o THiago (aliás brilhantemente pra variar) quando buscou definir o que é real e o que é virtual.

    É real o afeto que sentimos por esta artista que está tão inteira em sua obra. É real este vínculo, ele existe.

    THiago, demais isso tudo aqui. Parabéns Marcelo, vi teu olhar carinhoso transposto na escrita.

    "outros olhos e armadilhas"

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  8. Que postagem mais estimulante, Márcio!! Na minha opinião, Marina é para todos mas nem todos são para Marina. Sua origem aristocrática, sua vida de conforto passada na Zona Sul do Rio de Janeiro e nos Estados Unidos (afinal, Marina é filha de um falecido diplomata) tranformaram-na em uma mulher muito culta, refinada e sofisticada. Sua relação com seus versos é muito cuidadosa, Marina é uma carioca rara: calma, paciente e muito perceptiva.
    Marina fala de uma solidão angustiante, que não é a solidão de estar sem um (a) parceiro (a, mas de uma solidãoexistencial, que todos sentimos mas a maioria prefere evitar cercando-se de pessoas e de bens materiais. A solidão a que Marina se refere não se cura assim, mas com muita reflexão e Filosofia. Ela deve ao irmão Antônio Cícero ter se tornando tão importante referência para seu grupo seleto de fãs. Realmente é difícil encontrar quem entenda a poesia ultra-romântica da Marina e você tem razão em identificar o carinho com que descrevi a obra da cantora.
    O texto foi resultado de uma história de amor que terminou de forma muito triste e achoque consegui sublimar essa experiência negativa publicando para todos os amigos que acompanham o blog do TH, que anda cada vez mais em alta no mercado.

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  9. É, ela é "difícil", Marcelo, mas... "nem sempre".

    E houve um tempo em que o seu trabalho, uma espécie de filosofia, se aplicava a um número maior de vidas.

    Marina sempre cantou o Amor, que é uma questão universal.

    "Mas acontece que ela tem esse vício de gente difícil" e longe dos palcos, por seis anos, o país que ela encontrou foi outro ao retornar. Um empobrecimento se deu e atingiu duramente as relações. Incluída a relação com a música e a cultura de uma maneira geral.

    "Quase assim como um som que não quer ser ouvido", Marina hoje "canta o seu enredo, fora do carnaval.

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. A fase áurea da Marina foi os '80 e '90 mas o que eu aprendi com ela a respeito do Amor, essa questão universal, está tão arraigado em minha mente que Marina é meu pronto-socorro. Ponho um CD dela e deito.
    Quando ela gravou "Abrigo" já apresentava problemas de voz. Em seguida, as cordas vocais foram pra cucuia e ela denominou seu disco de 1997 de "Registros à Meia-Voz". Ela já sabia que sua voz rouca estava comprometida e chegou a declarar que não lançaria mais nenhum CD. Depois disso ela lançou o Pierrot mas eu ouvi muito pouco. Deste último ("Setembro"?) não sei nada. Não comprei os dois últimos. Passa pra mim pelo MSN, TH?

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  12. À meia voz, ainda assim inteira, a Marina ainda me preenche completamente.

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  13. Solange Cousseau não é francesa, ela é brasileira com ascendência francesa (é do Sul).

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