MÚSICA-MEMÓRIA AFETIVA: UMA MÚSICA, UM CANTOR E UM DISCO PARA RECORDAR!

Na onda dos especiais televisivos de música popular brasileira promovidos desde a década de 60, tivemos, no Festival da nova música popular brasileira - MPB 80 (1980 - Rede Globo) , uma das competições mais interessantes de nossa música, que gerou um LP com as melhores canções apresentadas no festival.
Em meio a tantos cantores novatos (a competição teve milhares de artistas que enviaram canções, que passavam por uma pré-seleção antes das eliminatórias, realizadas no Teatro Fênix, o mega-estúdio onde a Globo gravava seus programas musicais), estava lá um rapaz de Niterói que já tinha cantado músicas em inglês sob o pseudônimo de Tony Stevens (prática, aliás, bem constante nas décadas de 70 e 80 - artistas brasileiros valiam-se de tais pseudônimos para poder cantar anonimamente músicas estrangeiras para trilhas sonoras cujos direitos autorais não haviam sido liberados), além da experiência como crooner de boates. Seu nome? Jessé Florentino Santos. Ou simplesmente Jessé!
Na ocasião, Jessé (um pastor protestante) levava o prêmio de melhor intérprete por Porto Solidão - composição sem cunho religioso algum, de Zeca Bahia/Ginko. Em 1983, ganhou o XII Festival da Canção Organização, realizado em Washington, com os prêmios de melhor intérprete, melhor canção e melhor arranjo para "Estrelas de Papel". E continuava então sua razoável carreira na música brasileira, sem obter grandes reconhecimentos da crítica especializada, mas, sem dúvidas, com grandes fãs e seguidores. A potência de sua voz era algo a ser destacado. Abreviou sua trajetória em 1993, ironicamente a caminho de um show, em Paraguaçu Paulista, vitimado por um acidente automobilístico. Encerra sua carreira e, como não poderia deixar de ser, tem os reconhecimentos todos que não teve enquanto vivo.

Comentário de TH: O disco MPB 80 por si só já merecia estar inteiro na série "minha memória musical afetiva", pois é um dos que mais ouvia quando pequeno, graças a meus pais. "Agonia", com o Oswaldo Montenegro, que abria um disco, era uma das minhas preferidas, mas vou destacar a melancólica "Porto Solidão", interpretada pelo Jessé, como a representante da seção de hoje. Triste, sentimental, lírica e viajante...muita gente a considera "brega" (ou melô da dor-de-cotovelo, como já ouvi). . Não me importo com opiniões alheias - ainda mais quando venho destacar memórias afetivas, que costumam passar longe da "razão musical" e imprimir toda emoção possível :)

Jessé e o disco MPB 80 - que merece futuramente um post inteiro destinado a ele.

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PORTO SOLIDÃO
Zeca Bahia e Ginko
Jessé

Se um veleiro
Repousasse
Na palma da minha mão
Sopraria com sentimento
E deixaria seguir sempre
Rumo ao meu coração...

Meu coração
A calma de um mar
Que guarda tamanhos segredos
Diversos naufragados
E sem tempo...

Rimas, de ventos e velas
Vida que vem e que vai
A solidão que fica e entra
Me arremessando
Contra o cais...


TH - Sentimento bem difícil de definir...