terça-feira, 6 de julho de 2010

VIDA LOUCA, EXAGERADA, ANTI-MONÓTONA E IDEOLÓGICA! 20 ANOS SEM CAZUZA (07/07)

Não é necessário esperar uma data pseudo-comemorativa redondinha para se homenagear algum artista. Quem acompanha meu blogue sabe que não ligo pra isso, que vou escrevendo sobre músicos do Brasil de acordo com minha vontade. Mas vamos dar o braço a torcer: 20 anos conta. Bastante!
Primeiras impressões sobre o homenageado: cresci ouvindo Cazuza! Aparelho de som da tia, discman da mana, rádio das empregadas, especiais no Fantástico, show no Ginásio do Sesi (esse, bem no auge da doença). Recordá-lo implica devoção a mega hits como Ideologia, Bete Balanço, Exagerado, O Tempo Não Para, Vida Louca, Vida, Faz Parte do Meu Show... Só quem viveu numa ilha deserta décadas a fio poderia se abster do barulho que nosso garoto rebelde causou no cenário musical brasileiro, pois até quem não gostava do estilo ficou conhecendo um pouco do roqueiro, nem que seja para torcer o nariz para suas atitudes - sobretudo as mais anárquicas!


Monotonia zero! Falar de Cazuza é também falar de alguém que não conseguia ficar parado. Não se estagnava, não deixava de perturbar; fazia parte da burguesia mas sua mente inquieta, nem que só fosse pra causar revolta, lhe dominava a ponto de ser reacionário até mesmo contra ela. Ele não se bastava. Era livre, voava alto, sem se preocupar com o lugar que aterrissaria ou se aterrissaria! Buscou externar suas ideias na música - estava lá, no começo dos 80's, ao lado de Frejat e junto a inúmeras outras bandas de rock urbano iniciantes, representando o estilo com o Barão Vermelho. Livre nas letras e no estilo de vida, Cazuza alcançou logo o status de ídolo na música brasileira, e o rock lhe proporcionou exatamente isso: a possibilidade de expressar sua irreverência, seus exageros e humor, além de lhe dar a chance de ser ouvido. Com isso, foi logo destituído do rótulo de 'mero mauricinho carioca", podendo, enfim, mostrar ao país toda sua inteligência e poderosa veia crítica social ilimitada.

Barão Vermelho: onde o antes mero mauricinho de Ipanema começou a ser ouvido.

Esta, aliás, é a palavra perfeita para descrever nosso homenageado. A genialidade como compositor e vocalista não impediram que seu comportamento chegasse próximo ao de roqueiros famosos, algo como o que Mick Jagger, dos Rolling Stones fazia em suas festas de bastidores - sexo, orgia com as groupies e muitas drogas. A vida desregrada do cantor trazia inúmeras confusões abafadas pela imprensa, pois a maioria delas envolvia famosos. Gente como Lauro Corona, Maria Zilda, Bebel Gilberto, todos eram facilmente elencados no rol da trajetória de Cazuza em algum momento. Mas, a despeito de escândalos, sua música é o que sempre importou. A pluralidade musical do cantor, sua inspiração e seu arsenal de ideias - aliado ao fato dele estar sempre em movimento, logo lhe fizeram mais mutante ainda. Em carreira solo, sentiu-se mais à vontade de experimentar novos horizontes, conseguindo então, passar de roqueiro rebelde a um bom representante da Música Popular Brasileira, em outros estilos, chegando até ao samba!
Com a descoberta de sua condição de soropositivo, claro, o sentimento de fim permanente de festa, num primeiro momento, lhe pareceu inevitável. Mas Cazuza conseguiu, como pouco se viu no mundo musical, transformar aquilo que seria sua entrega definitiva/sentença de morte em poesia! O sofrimento foi moldado em mensagens diretas, e sua obra encerrou-se com o mesmo brilho dos olhos do garoto exagerado que o país inteiro passou a cultuar. Hoje, 20 anos depois, percebemos que, cada tempo que passa, sua obra consegue se manter importante e sempre reverenciada. Encontramos fácil sua influência em gerações atuais e naquelas que eram contemporâneas à sua época, além do merecido respeito das anteriores! Sua jovialidade fica eternizada não só pelo fato de o garoto Agenor de Miranda Araújo Neto (nome de batismo) ter morrido aos 32 anos, mas por ser o maior representante da importância de ser jovem e consciente nesse país. E faz mesmo o poeta permanecer vivo em nossos corações. :)

Cazuza no auge e em seus momentos finais: poesia e sentimentos até diante da dor

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O POETA ESTÁ VIVO
Roberto Frejat e Dulce Quental

Baby, compra o jornal
E vem ver o sol
Ele continua a brilhar
Apesar de tanta barbaridade...

Baby escuta o galo cantar
A aurora dos nossos tempos
Não é hora de chorar
Amanheceu o pensamento...

O poeta está vivo
Com seus moinhos de vento
A impulsionar
A grande roda da história...

Mas quem tem coragem de ouvir
Amanheceu o pensamento
Que vai mudar o mundo
Com seus moinhos de vento...

Se você não pode ser forte
Seja pelo menos humana
Quando o papa e seu rebanho chegar
Não tenha pena...

Todo mundo é parecido
Quando sente dor
Mas nu e só ao meio dia
Só quem está pronto pro amor...

O poeta não morreu
Foi ao inferno e voltou
Conheceu os jardins do Éden
E nos contou...

TH - Homenagem mais do que merecida...

12 comentários:

  1. Belo post! Cazuza era foda.Os bons morrem jovens.
    parabéns pelo blog.

    http://marcelland67.blogspot.com/ (Blog de cinema e teatro)


    http://marcellandfutebol.blogspot.com/ ( Blog de futebol)

    http://marcellandlivros.blogspot.com/ (Blog sobre livros)

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  2. Um "grande poeta" que faz mtaa falta nos dias atuais de Rebolation...

    Beijinhos, adorei!

    ---
    www.jehjeh.com

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  3. Sabe que o Rock brasileiro dos anos 80, sem dúvida, é o melhor!!! Todas as bandas que eram bons àquela época são reconhecidos até hoje e populares e aqueles q eram maus músicos simplesmente desapareceram da terra!!! Adoro Barão Vermelho,uma das minhas bandas preferidas. E c/ grande contribuição do Cazuza, que tem uma carreira solo maravilhosa, como poucos.
    Ideologiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa eu quero uma pra viver!!!! (8)
    (nossa, acho que escrevi uma ressenha!!)

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  4. Obrigado pelos comentários, pessoal!

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  5. Que post lindo Teaga!
    Lindo mesmo, e não é pq acho esse cara O CARA!!
    Custumo dizer que se os heróis dele morreram de overdose os meus morreram de Aids...
    Parabéns meu querido, o enTHulho ta cada dia melhor;]]

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  6. Pára tudo!
    Ezequiel Neves, consagrado produtor musical, morreu exatamente hoje, dia de morte de Cazuza.
    Até parece que combinaram...
    Dividirão a mesma data de falecimento. Coincidências de vida - ou melhor, de morte!

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  7. Cazuza é um mito. No melhor sentido da palavra. Marcou porque era grande, marcou poque não era medíocre, marcou porque o seu espírito era maior que seu corpo físico e ele precisou exceder. Ele precisou ir além.
    Caju é inspiração, é rebeldia, é o saber ranger os dentes e amansar, na mesma exata proporção.
    Amo. Significa demais.
    Post maravilhoso.

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  8. É esse cara ae
    conseguiu marcar "tdos" nos...
    ele era muito bom msmo.

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  9. Parabéns! Vc merece tudo de bom. Obrigado sempre por me acompanhar no blog. Felicitações pela materia publicada no jornal.

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  10. Agradecimento a todos os comentaristas daqui do blog e a João Dionísio, que viabilizou a matéria na Tribuna de Alagoas, de ontem.
    =]

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  11. Cazuza era mesmo um poeta, um menino. Gosto, particularmente, da interferência do Ney Matogrosso na carreira dele, pois colocou luz sobre a sua poesia, ressaltando aspectos delicados.
    O que é incrível no Cazuza também é que ele continua a minha trilha sonora, ao lado da Marina. Estes são artistas que eu não me canso de ouvir e que me parecem atuais, além de inclassificáveis (por dialogarem com várias vertentes musicais)

    Outra recordação forte do Cazuza: a abertura de "Vale tudo", um folhetim marcante. Em entrevista, à epoca, o Cazuza disse que assistia à novela todos os dias por causa da abertura, na voz da Gal, "a maior cantora brasileira", ele dizia.

    Gosto demais dele e este sentimento (aliás, como todo sentimento) é atemporal.

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  12. "A vida é um moinho" de Cartola na voz do Cazuza é uma das músicas mais bonitas e tristes que já ouvi.

    Cazuza inaugurou uma nova categoria de "eternidade", onde está aqui sem está.

    Hoje o "menino-poeta-mangueira-Cartola" Cazuza vai ficar rouco aqui de tanto cantar.

    Abração do amigo "Calcanhar" aqui.

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