quinta-feira, 16 de junho de 2011

AMIGO MUSICAL CONVIDADO # 32 - Fábio Leonardo!

O "super culto" piracuruquense!



Sabe que admiro demais as pessoas que fazem da História seu foco profissional?
Sem dúvidas seria uma das minhas profissões. Tenho essa mania quase insana de datar acontecimentos, registrar marcos de determinado período, compará-los, fazendo quadros correlatos entre características de uma sociedade com outra, dentre outras coisas. É uma disciplina muito atraente, e esta é apenas minha humilde opinião de fã, mas com a profundidade de um pires: só a vi no ensino médio mesmo.
Quem leva o ofício a sério merece meu respeito, e nesse contexto encontramos o cidadão Fábio Leonardo, de Piracuruca, Piauí. Tenho pouquíssimo contato com ele, por isso exalto aqui seu lado que mais me chama atenção: o comprometimento acadêmico. Acompanhei, por assim dizer, toda sua novela (e ele ama novelas!) referente ao mestrado em História. A torcida seria inevitável: em seu ótimo blog Super Cult, vez ou outra, em meio a posts bastantes diversificados sobre assuntos plurais, vinha um desabafo de sua batalha (indico aqui o excelente texto "das (in) contigências acadêmicas" que exemplifica muito bem isso). Vitória e admiração para a persistência, que certamente é o maior dos requisitos para se formar profissionais realizados!
Além de um estudante inveterado, o jovem Fábio chama atenção por sua habilidade com a escrita e conhecimento apurado de diversos assuntos. Como música sempre é assunto que une, convidei-o para compartilhar conosco seu relato musical, que, como não poderia deixar de ser, surpreendeu! Excelente depoimento associado diretamente com a perfeita letra dos Titãs!

O EnTHulho Musical está ficando cada vez mais metido com a qualidade de seus convidados. E tende a ficar cada vez mais exigente!




Titãs: caras como eles!


Quando você fala que uma música te marca, isso pode ter vários sentidos. Um real, literal, e outro puramente sinestésico. Pode representar um momento, uma paixão, uma situação familiar, um grupo de amigos, ou pode, lembrar unicamente... você. É o caso. Há uma música (mais de uma, mas essa com um teor muito forte) que me define, diz que eu sou em versos.
E foi nesses poucos versos de uma canção simples, curta e nostálgica que eu me enxerguei. Ali estava um Fábio que ele, e todos que com ele convivem, conhece. Mas ninguém tinha colocado em palavras. Pois bem. Os “Titãs” colocaram. Claro que eu sei que não com esse objetivo, porque né? Megalomania tem limite. Mas enfim, ali estou eu. Nos meus defeitos, no que me faz rir, no que me apaixona, nas minhas abstrações de fundo-de-rede. A música é “Caras como eu”, a 8ª faixa do álbum Volume Dois dessa banda que faz sucesso desde os anos 80, até os dias de hoje.
Ali, entre hits clássicos do grupo, como “Sonífera Ilha”, “Amanhã não se Sabe”, ou regravações como “É Preciso Saber Viver”, estava essa música que, para a maioria, bem que podia passar despercebida. O que nela me chamou a atenção e levou a enxergar-me?
O eu-lírico é um sujeito que se perde nas próprias divagações, descobrindo que está só num mundo que mudou. O que ele faz ali? Ele, que sucumbiu ao tempo. Ele que, vendo-se morrer solitário, junta, em seus “velhos disquetes” um grande números de inesquecíveis “segredos sem valor”?
“Caras como eu” fala dos homens que não se entregam à vida, como se cada dia seu fosse o último. Fala daqueles que olham pra trás e descobrem que não exatamente esqueceram-se de viver, mas, no mínimo, agiram com parcimônia demais. Ao calçar seus chinelos, descobrem que o tempo acabou. E agora? Resta-lhe se entregar aos seus últimos dias, últimos suspiros, onde não mais contará as horas, e onde cada momento será eterno.
Caras como eu (agora sem aspas) estão, sim, ficando chatos. Por resistirem ao mundo que se transformou a tal ponto que eles (ou nós?) não acompanharam. Mas, pensando bem, vale realmente acompanhar? Ou será melhor preservar-se em seus valores, em seu mundo cada dia mais isolado da louca selva de pedra, a ter que, por pressões daqueles que estão em volta, transformar-se em algo diferente?

Pois é. Eu tenho pensado nisso.


Fábio Leonardo Brito

SuperCult: http://supercult01.blogspot.com/


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CARAS COMO EU
Titãs
Composição: Tony Belloto

Caras como eu
Estão ficando raros
Como cabelos ralos
Que se partem e caem pelo chão

Caras como eu
Estão tirando o pé
Andando em marcha-ré
Com medo de entrar na contramão

Como trens do interior
Que não chegam no horário
Como velhos elefantes
Que morrem solitários

Caras como eu
Estão ficando chatos
Como solas de sapatos
Que se gastam
Com o passar do tempo

Não vou mais medir o tempo
Não vou mais contar as horas
Vou me entregar ao momento
Não vou mais tentar matar o tempo

Como palavras de amor
Que não se guardam em disquetes
Como segredos sem valor
Que a gente nunca esquece

Caras como eu
Estão ficando velhos
Calçando os seus chinelos
Concluindo que não há mais tempo

Não vou mais medir o tempo
Não vou mais contar as horas
Vou me entregar ao momento
Não vou mais tentar matar o tempo

Não vou mais medir o tempo
Não vou mais contar as horas
Vou me entregar ao momento
Não vou mais tentar matar o tempo



TH - Fábio é "O CARA"!



domingo, 12 de junho de 2011

SELEÇÃO CAPRICHADA PRO DIA DOS NAMORADOS!




Se é uma data comercial ou não, não interessa.
Porém o EnTHulho Musical hoje traz uma seleção caprichadíssima praqueles que amam. Nossa MPB está repleta de canções de declaração de amor, por isso escolher foi tão difícil!
LinkEspero que gostem da seleção que eu fiz...com muito amor!
Baixe aqui!



1) CARINHOSO [Pixinguinha]

Que tal começarmos com "Carinhoso", clássico longevo de nossa música brasileira. Pixinguinha o compôs por volta de 1916 e se tornou hino de vários relacionamentos, na voz de inúmeros intérpretes. Destaque para a interpretação de Elizeth Cardoso (que está na seleção do EnTHulho Musical) e na de Marisa Monte com Paulinho da Viola.

"Meu coração...não sei porque...bate feliz...quando te vê!"


2) GOSTOSO DEMAIS [Dominguinhos e Nando Cordel]


Dominguinhos fez uma música perfeita pro dia dos namorados! Traduz a alegria, gostosura e paz daquele sentimento sincero que os namorados devem ter... Maria Bethânia, pra mim, é a dona da melhor interpretação...

"Pensamento viaja...e vai buscar...meu bem querer..."


3) MENINO BONITO [Rita Lee]



Até madame Rita, tão conhecida pela ousadia e deboche, já criou um hino declaratório...bem à sua maneira bastante característica!

"Lindo...e eu me sinto enfeitiçada...correndo perigo!"


4) QUANDO TE VI [Beto Guedes]



Clássico dos Beatles (Till There Was You), que ficou conhecidíssimo na voz de Beto Guedes, em versão criada por Ronaldo Bastos em 1984. Quem já não se declarou pra alguma mulher usando-a??

"Nem o perfume de todas as rosas é igual à doce presença do seu amor"



5) PENSANDO EM VOCÊ [Moska]

Moska prova que uma música simples - tanto na melodia e arranjos quanto na letra, pode ser marcante e ficar "pra sempre". Uma de minhas preferidas...

"Estou pensando em você...pensando em nunca mais te esquecer"



6) QUANDO A LUZ DOS OLHOS TEUS [Tom Jobim e Miúcha]


Tom Jobim marca presença com uma das músicas mais lindas do cancioneiro brasileiro. E a reunião com Miúcha veio pra encantar mais ainda! Composição do super Vinícius de Morais.

"Meu amor, juro por Deus que a luz dos olhos meus já não pode esperar"



7) VIESTE [Ivan Lins]

Como foi difícil escolher uma de Ivan Lins, o romântico-mor de nossa MPB. Acredito que "Vieste" foi eleita por ser uma das minhas preferidas, mas o que não faltam são declarações musicais do cantor...

"Vieste com a cara e a coragem
Com malas, viagens, pra dentro de mim..."


8) ROMÂNTICOS [Vander Lee e Rita Ribeiro]


Essa é a música que deu nome à seleção do EnTHulho e a que mais define esses loucos desvairados chamados românticos. Interpretação soberba de Rita Ribeiro!


"Românticos são lindos
Românticos são limpos e pirados
Que choram com baladas
Que amam sem vergonha e sem juízo"


9) OLHA [Roberto e Erasmo Carlos]

A dupla arrebatadora de corações também tinha que estar presente. Escolher uma deles foi um parto - eles são campeões imbatíveis na arte da declaração, mas acabei optando por "Olha". Outra decisão dificil foi escolher a melhor interpretação - optei por Bethânia novamente!

"Olha, você tem todas as coisas
Que um dia eu sonhei pra mim
A cabeça cheia de problemas
Não me importo, eu gosto mesmo assim
"

10) ESTRELA [Gilberto Gil]


Gil aparece aqui com a bela "Estrela", uma das que conseguiram fazer a década de 90 não passar em brancas nuvens em matéria de música popular brasileira. Linda...

"Há de surgir
Uma estrela no céu
Cada vez que "ocê" sorrir"



E não para por aí! São 20 escolhidas e a lista completa (e na ordem) você confere logo abaixo!


EnTHulho Musical - românticos!


1) CARINHOSO (Elizeth Cardoso)
2) GOSTOSO DEMAIS (Maria Bethânia)
3) MENINO BONITO (Rita Lee)
4) QUANDO TE VI (Beto Guedes)
5) PENSANDO EM VOCÊ (Moska)
6) PELA LUZ DOS OLHOS TEUS (Tom Jobim e Miúcha)
7) VIESTE (Ivan Lins)
8) ROMÂNTICOS (Rita Ribeiro)
9) AZUL (Gal Costa)
10) MUTANTE (Daniela Mercury)
11) DIGA LÁ CORAÇÃO (Simone)
12) ROSA (Marisa Monte)
13) VIDA REAL (Djavan)
14) AINDA BEM (Vanessa da Mata)
15) OLHA (Roberto Carlos e Erasmo Carlos)
16) VOCÊ PRA MIM (Fernanda Abreu)
17) SIMPLES DESEJO (Luciana Mello)
18) AMOR NAS ESTRELAS (Nara Leão)
19) FALANDO DE AMOR (Quarteto em Cy & MPB-4)
20) ESTRELA (Gilberto Gil)



Baixe aqui!


TH - Saudações aos apaixonados!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A LEOA DO NORTE EM AÇÃO!



O ano era 2007. O mês, Junho, igual este.
Caruaru fervia, aliás, como sempre na época dos festejos juninos. O que para algumas regiões do Brasil significa apenas montar um simples arraial, com comidas típicas, bandeirinhas e forró no player, para Caruaru, Campina Grande e outras cidades nordestinas os festejos se transmutam em eventos de proporções faraônicas. Tendas bem diversificadas, culinária a gosto - com comidas vendidas em stands típicos, bares e até de maneira ambulante - na rua, você conseguia um cural da melhor qualidade (lá, chamam canjica). Os ritmos multiplicados - quem disse que é só forró? Tem Baião, Xaxado, Maxixe, Guerreiro, Reisado, Maracatu, Frevo, MPB...inúmeras quadrilhas (até a curiosíssima "gaydrilha", onde se quebra a tradição do homem fazer par com mulher e se comemora com igualdade pares do mesmo sexo). Trio elétricos de forró pé-de-serra começando super cedo, em várias noites (com orgulho, eles excedem a festa - não se restringindo apenas às datas pseudo comemorativas de Santo Antônio, São João e São Pedro - lá, a folia é no mês inteiro!!).
Quando prestigiei os festejos juninos em Caruaru, notei porque a cidade é mesmo considerada a capital do forró. Não é algo regional - é uma festa mundial! Gente do mundo inteiro se encontrava na cidade fervilhando emoções. O governo de Pernambuco investe mesmo na cultural local nessa época, garantindo todos os anos atrações contratadas especialmente para o evento. É impossível ver o São João de Caruaru sem Amazan, Jorge de Altinho, Alcymar Monteiro, Azulão, Flávio José, Adelmário Coelho, Santana, Israel Filho, Valdir Santos, e tantos outros que têm cadeira cativa na festa.
E quem disse que se restringe apenas a artistas da terra? Anualmente desfilam uma infinidade de convidados especiais - muitos com ritmos sem muito a ver com a essência da cultura da época, mas igualmente bem vindos! Zé Ramalho, Chico César, Margareth Menezes...e já ouvi dizer que neste ano uma das atrações convidadas é.....Gian & Giovanni?!
A verdade é que os festejos juninos em Caruaru refletem a ideia do carnaval em Recife/Olinda: ser multicultural antes de qualquer outra denominação estreita e pré-determinada. E quem somos nós para contestar tanta democracia e versatilidade músico-cultural?


Imagem do mega evento

Porém, naquele 2007, a atração mais efervescente do palco principal foi, sem a menor sombra de dúvida, Elba Ramalho. Por mais agitadas e bem recepcionadas que as demais apresentações tenham sido, eu testemunhei (da primeira fileira) o que é um verdadeiro espetáculo em perfeita sinergia com o público. Elba parecia endemoniada (no melhor dos sentidos). Eletrizante, a cantora se satisfaz no palco: impõe uma voz vibrante nas batidas mais fortes e rítmicas, e suaviza com perfeição em baladas que não passam despercebidas, como "Chão de Giz" e "De Volta pro Aconchego".
"Faço exatamente o que sempre fiz. Quando estou no palco, dou o que eu tenho de melhor em mim, devo este respeito ao público. Sempre vou me esforçar ao máximo. Acho engraçado quando gerações bem mais jovens comentam: “ Eu não sabia que o show da Elba era tão bom!”", diz, contendo o orgulho.
Elba completa neste 2011 30 anos de carreira, comemorados com um CD/DVD no Marco Zero, em Pernambuco. Porém, 4 anos atrás, no referido show, pude contemplar ao vivo uma cantora que domina como ninguém a presença cênica, interpretando sem mentiras ou forçação de barra. Natural - como quem bebe água ou "canta" histórias.
A relação dela com os colegas musicais que estavam no evento era deliciosa - não se envergonhava de pedir bênção a pernambucanos ilustres que sempre estão no festival. Falando em Pernambuco, o momento mais ovacionado foi, com toda certeza do mundo, quando cantou o hino do estado. Leão do Norte fez a chuvosa e fria Caruaru esquentar de vez, soltando faíscas nos corações dos presentes.
"Elba é porta-voz dos compositores, ela não canta por cantar. Sempre cantou para dizer, para contar histórias, para lembrar lugares, para explicar pessoas, para revelar uma parte da nossa vida que a gente não tinha conhecimento. Elba Ramalho é uma das cantoras com quem um letrista sente que não desperdiçou seu tempo. É uma cantora com quem as platéias aprendem o que é a alma brasileira."
Perdão cantoras ótimas que dão caldinho em gravações de estúdio, mas quem domina do palco merece muito mais reconhecimento e devoção!
Todos devem ter alguma história de um show de Elba. Todos meus amigos que são fãs da moça (e até os que não são) comentam sempre algo sobre um espetáculo de alguma fase da carreira da cantora. Qual é a sua?


TH


***********************************

FREVO MULHER
Elba Ramalho. Composição: Zé Ramalho

Quantos aqui ouvem
Os olhos eram de fé
Quantos elementos
Amam aquela mulher...

Quantos homens eram inverno
Outros verão
Outonos caindo secos
No solo da minha mão...

Gemeram entre cabeças
A ponta do esporão
A folha do não-me-toque
E o medo da solidão...

Veneno meu companheiro
Desata no cantador
E desemboca no primeiro
Açude do meu amor...

É quando o tempo sacode
A cabeleira
A trança toda vermelha
Um olho cego vagueia
Procurando por um...

Quantos aqui ouvem
Os olhos eram de fé
Quantos elementos
Amam aquela mulher...

Quantos homens eram inverno
Outros verão
Outonos caindo secos
No solo da minha mão...

Gemeram entre cabeças
A ponta do esporão
A folha do não-me-toque
E o medo da solidão...

Veneno meu companheiro
Desata no cantador
E desemboca no primeiro
Açude do meu amor...

É quando o tempo sacode
A cabeleira
A trança toda vermelha
Um olho cego vagueia
Procurando por um..



TH - Abaixo, no vídeo, um cadinho do que relatei pra se ter ideia...



domingo, 5 de junho de 2011

AMIGO MUSICAL CONVIDADO # 31 - Kika Simões!

Representantando aqui a gravadora Lua Music!


Os meses que antecederam minha mudança definitiva para São Paulo foram terríveis. Alguém conseguiria ficar em paz sem saber o que te aguardaria ao trocar sua zona de conforto pelo incerto e desconhecido? O novo traz uma boa dose de curiosidade e empolgação, mas também te aflige em igual proporção.
Neste interim, conheci virtualmente a Érika (Kika). Quando Zélia Duncan foi a artista do mês no EnTHulho (Novembro de 2010), ela entrou em contato comigo revelando um audacioso projeto em relação à cantora (que permanece em sigilo absoluto ;)). O que mais me gratificou neste contato foi a iniciativa de alguém me procurar e confiar de cara um plano profissional musical - correspondi o contato e trocamos MSN. Resultado: nascia aí uma excelente amizade, cuja parte musical apenas sublinharia. Kika é divertida, inteligente, tem um "timing" músico-profissional muito arrojado e adoro tricotar de tudo com a moça. Ela também foi testemunha dos meus árduos primeiros meseses desempregado em São Paulo, mas eu tinha a certeza de que ali residia uma torcida contida também para que eu me desse bem! Logo, Kika foi, de certa forma, meu referencial de porto seguro: a prova simbólica de que habitava também em SP a gentileza e acessibilidade que tanto precisaria nos cidadãos paulistanos.
Kika trabalha na gravadora Lua Music, que possui, no catálogo artistas como Wanderléa e Cauby Peixoto, dentre muitos outros! Meu contato inicial com a gravadora foi a trilha do filme "Não Por Acaso", de Phillipe Barcinski. Pra quem quiser conhecer a fundo seu despojado site e conferir vídeos e trechos de música de seus artistas, é só clicar no site. Aliás, um de meus passatempos preferidos com Kika é ouvir empolgado as curiosíssimas histórias de artistas que passam por lá - claro que não posso, até por uma questão de ética, revelá-las aqui (risos).

Muitíssimo obrigado pela contribuição e, a seguir, seu emocionante relato musical!



Site da gravadora: clique aqui pra conferir!


Fiquei muito feliz e surpresa quando recebi o convite do EnTHulho Musical para participar do “Amigo Musical”. Logo que recebi essa ‘bomba’ na mão (rs) fiquei pensando dias em que música eu ia escolher, que musica que eu adorava, só que o pensar do ‘eu’ me incomodava, talvez pelo fato de ser uma palavra individualista, não sei. A real é que gostaria de escolher uma música que passasse uma mensagem não tão individualista, mas de uma situação cotidiana, e claro, não fugiu muito do repertório que eu amo ouvir, que é Paciência, do mestre Lenine.
A música faz parte da trilha sonora do espetáculo Calendário da Pedra, da atriz Denise Stoklos, onde a personagem se depara com momentos diversificados, permitindo expressar aquilo que esta no seu íntimo, até mesmo no subconsciente. Será possível entender a mente humana? Um dia estamos de bom humor, no outro não queremos sequer levantar da cama. Peço licença ao EnTHulho para indicar esse espetáculo que é simplesmente MARAVILHOSO.

A vida não para! Hoje em dia as pessoas andam tão agitadas, tão preocupadas em ter o carro do ano, o celular mais atual ... que esquecem um pouco de fazer coisas simples, fazer o uso de palavras como: Obrigada e Licença. A vida é tão rara! Será que temos esse tempo pra perder? Porque não sorrir para um estranho? Transmitir amor e carinho para receber o mesmo. Se preocupar com o próximo e dizer: “Bom dia! Como você esta?” O mundo vai girando cada vez mais veloz, a gente espera do mundo e o mundo espera de nós, um pouco mais de paciência.
Para termos um mundo melhor depende de simples atitudes que podem ser tomadas por cada um de nós, eu acredito no futuro da humanidade.
Já participei de um grupo que acordava todo final de semana na madrugada e preparava café para os moradores de rua, e aprendi muito com eles, claro que nem tudo são flores, eu sabia do risco que corria ao entrar em cada “casinha de papelão”. E como era bom receber um sorriso de um desconhecido, e de uma criança então? É mágico!
Hoje em dia as pessoas andam tão agitadas que vivem no seu “mundinho”. Não preciso citar o transito da nossa cidade, deixo um exemplo simples, muitos de nós entramos no ônibus e nem olhamos para o motorista, que tem a responsabilidade de nos levar para o nosso trabalho, etc.

[Será que é tempo que lhe falta pra perceber? Será que temos esse tempo pra perder? A vida não para! ]

As ideias fluem na mente, só que na hora de colocar no papel, somem tudo! (rs) A mensagem que eu quero passar aqui é de sermos um pouco mais tolerantes e prestarmos atenção nas nossas atitudes. Será que gostaríamos de ser tratados da forma que tratamos as pessoas?
Que tal mandar um email, ou ate mesmo dar aquele telefonema para um amigo que faz tempo que você não conversa? Não tem assunto? Apenas pergunte como ele esta, com toda certeza ele ficará muito feliz! Afinal .... A vida é tão rara!!!

Obrigada pelo convite, TH! Parabéns pelo blog, sucesso!

Um beijo pro’cês.

Fiquem com Deus!


Kika Simões


http://www.luamusic.com.br/2009/



Lenine: comparecendo com uma das melhores músicas de nossa MPB. Ponto pra escolha da Kika!



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PACIêNCIA
Lenine e Dudu Falcão

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para...

Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...

Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não...

Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para...

A vida não para...


TH - Então sigamos com ela!




quarta-feira, 1 de junho de 2011

ARTISTA DO MÊS: ELBA RAMALHO!


E Junho é mês de alegria!
Alegria contagiante da esfuziante e esganiçada cantora Elba Ramalho, a artista do mês!
Quando começou a fazer sucesso, nos primórdios da década de 80, Elba era uma figura atípica e curiosa. A voz estridente e com sotaque carregadíssimo a fez despertar bastante atenção em excessivas apresentações midiáticas (dentre as quais, as participações nos programas de auditório, tipo o Chacrinha). Tornou-se fácil fácil figura única no mundo do espetáculo. Não por acaso, em 1983 foi considerada a melhor cantora do Brasil, em publicação da Revista Veja. E daí não parou: traçou uma bela e sólida carreira, muito além de cordéis e ritmos puramente nordestinos (baião, forró, maracatu, cirandas...), pois, destacando-a deste panorama, Elba passou também a flertar com a pura MPB, trazendo para o cancioneiro brasileiro interpretações soberbas para grandes clássicos de cultuados compositores.
Os jornalistas e a imprensa em geral costumam atribuir funções variadas no cenário da MPB. A de Elba, inevitavelmente, lhe faz carregar em si o título de "rainha nordestina", afinal, surgiu para ser devota de Luiz Gonzaga, Nando Cordel, Dominguinhos e muitos outros mestres, assim como também pode ser considerada contemporânea da mesma safra de Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Zé Ramalho e muitos outros. Não por acaso, criou, ao lado dos últimos citados, uma série de encontros musicais que marcou a música popular brasileira, justamente os chamados "Grande Encontros", na década de 90. A música nordestina não seria a mesma sem a delicadeza e presença potencial de Elba Ramalho para representar seus inúmeros clássicos!
P.s.: Cabe aqui um comentário adicional: vocês já contemplaram um show de Elba em plenos festejos juninos em Caruaru ou Campina Grande? Estariam diante de uma deusa reverenciada, pois a plateia urge em sinergia com a esfuziante potência de espetáculo da cantora. Um fenômeno!
Não desmerecendo grandes figuras femininas do Nordeste como Carmélia Alves, Marinês, Lia de Itamaracá, Rita Ribeiro e a mulherada fenomenal da Bahia, mas a vez agora no EnTHulho Musical é da super Elba Ramalho!




Cabelo, cabeleira, cabeluda: painel com diversos momentos de Elba Ramalho!




[BIOGRAFIA ATÉ 2005]

Elba nasceu na Paraíba, na zona rural da localidade de Conceição, mais conhecido como Conceição do Vale do Piancó. Em 1962, a família se mudou para a cidade de Campina Grande, também na Paraíba. O pai se tornou proprietário do cinema local. Filha de músico, despertou o interesse pela mesma ainda na adolescência. Herdou do pai a musicalidade em ritmos eminentemente nordestinos como baião, maracatu, xote, frevo, caboclinhos e forrós. Elba fez a primeira apresentação nos palcos, juntamente com o coral da Fundação Artística e Cultural Manuel Bandeira. Em 1968, enquanto cursava a faculdade de Economia e Sociologia na Universidade Federal da Paraíba, formou o conjunto As Brasas, no qual atuou como baterista, que posteriormente se transformou em grupo teatral. Contudo, Elba não deixou de cantar, e se apresentou em diversos festivais pelo Nordeste. Em 1974, Elba mudou-se para o sudeste do país, a pedido de Roberto Santana, produtor de Chico Buarque e Caetano Veloso, chegando ao Rio de Janeiro com o grupo Quinteto Violado, para apresentar como crooner durante uma temporada na cidade. No mesmo ano, participou da peça Viva o Cordão Encarnado, em parceria com o grupo teatral Chegança, de Luís Mendonça, sendo aclamada pela crítica por conta da hiperatividade no palco, o que se tornaria a principal característica. Negou-se a voltar para o Nordeste, onde abandonou o curso universitário e, na capital fluminense, se estabeleceu como atriz teatral, sempre interpretando papéis ligados à música. Sem qualquer apoio ou recurso financeiro, passou a frequentar o Baixo Leblon, onde conheceu artistas como Alceu Valença e Carlos Vereza. Em 1977, atuou no filme Morte e Vida Severina, inspirado na obra homônima do autor pernambucano João Cabral de Melo Neto. No ano seguinte pertenceu ao elenco da peça de Chico Buarque, Ópera do Malandro, dirigida por Luís Antônio Martinês Correia, na qual interpretou a prostituta Lúcia. Ainda enquanto atriz, foi vencedora de um prêmio pela interpretação da canção O meu amor, com a atriz Marieta Severo.

A peça Ópera do Malandro foi lançada numa época em que a poética de Chico Buarque estava "afiadíssima". Elba Ramalho foi presença de grande destaque, o que impulsionou a carreira de atriz e cantora. Diante disso, Chico Buarque inseriu uma gravação O Meu Amor, interpretada por Elba e pela então esposa Marieta Severo, para o disco auto-intitulado, lançado em 1978, e também no álbum duplo da peça, lançado no ano seguinte. A canção foi um grande sucesso, e por isso mesmo, mereceu também um dueto das cantoras Alcione e Maria Bethânia no antológico álbum Álibi, da última, lançado naquele mesmo ano de 1978. Elba investiu na carreira de cantora e gravou o primeiro álbum, lançado pela extinta CBS (atualmente Sony Music) - numa época em que a gravadora investiu muito em artistas nordestinos -, em 1979, intitulado Ave de Prata, com destaque para a faixa-título e as canções Canta coração e Não sonho mais, esta última composta por Chico Buarque para a trilha sonora do filme A República dos Assassinos. O trabalho contou com diversas participações especiais de músicos e compositores consagrados, casos de Dominguinhos, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Novelli, Vinícius Cantuária, Sivuca, Robertinho de Recife, Nivaldo Ornelas e Jackson do Pandeiro - parcerias que perduram até os dias atuais. A partir de então, o sucesso apareceu de forma gradual, embora ela própria considere que o teatro esteja presente em todos os espetáculos, sendo o grande responsável pela força cênica peculiar. As apresentações também obtiveram relevante sucesso em teatros internacionais, como o Olympia de Paris, o Blue Note de Nova Iorque, o Brixton Academy, de Londres e o Festival de Montreux, na Suíça. O repertório se manteve eclético durante todo esse tempo, trazendo canções típicas do nordeste brasileiro, baladas românticas, rocks, sambas e até o blues norte-americano.
Em 1980 gravou o segundo LP, Capim do vale, que trouxe canções de compositores nordestinos antigos e contemporâneos, apresentando um repertório regional, com destaque para a faixa-título e as canções Banquete dos signos, Porto da saudade, Caldeirão dos mitos e Veja (Margarida), e fez a primeira turnê internacional, na África. No ano seguinte, lançou o disco Elba, o último para a gravadora CBS, com arranjos de Miguel Cidras e José Américo Bastos, que não obteve maior repercussão; destaque para as canções Temporal e Cajuína, e duas faixas somente de voz e violão - O pedido e Eu queria.
Em 1982 transferiu-se para a extinta gravadora Ariola/Barclay (atualmente Universal Music), marcando o início da fase de maior popularidade na carreira, disputando a parada de sucessos daquele ano com outras cantoras como Gal Costa, Simone, Rita Lee, Beth Carvalho, Baby Consuelo, Amelinha e Clara Nunes. O trabalho que marca a estreia nessa gravadora - Alegria, produzido por Aramis Barros com direção artística de Mazzola -, vendeu mais de 300 mil cópias, lhe rendendo o primeiro disco de ouro, emplacando nas paradas de sucesso os forrós Bate coração, Amor com café (ambos de Cecéu) e No som da sanfona, de autoria de Jackson do Pandeiro, que também tocou pandeiro na faixa e viria a falecer em 10 de julho daquele ano; também se apresentou na Suíça, Portugal, Israel e ainda participou da série Grandes Nomes (TV Globo), ao lado de Alceu Valença.


Sobre a escolha de Bate coração, lançada por Marinês no ano anterior, Elba comenta: "Um primo meu, médico, o Ari Viana, pesquisava muito as músicas da Marinês, que era meu ídolo, e me mandava para eu ouvir. Numa dessas, esbarrei com o Bate coração e resolvi cantar.
" O álbum também trouxe arranjos do maestro José Américo Bastos e canções de Lula Queiroga (Essa alegria - Caboclinhos), Alceu Valença (Chego já), Vital Farias (Sete cantigas para voar, com arranjo e violão do próprio) e Geraldo Azevedo (Menina do lido, gravada em dueto com o autor). A partir deste álbum, que lhe garantiu seus primeiros discos de ouro e platina, o sotaque estava menos carregado, ao contrário dos três primeiros discos. Em seguida, houve o espetáculo homônimo, o primeiro que foi muito elogiado pela imprensa, pois rompeu com a estética do rústico e do sombrio que norteava as apresentações de muitos de seus conterrâneos na música brasileira; neste, já havia um cenário de figurinos exuberantes, combinações de luzes e cores e o clima festivo das ruas nordestinas. Sobre o espetáculo, Elba declarou: "mostro meu lado teatral desde o meu primeiro show, Ave de prata, mas o Alegria foi a afirmação disso. Foi meu primeiro espetáculo muito elogiado pela imprensa." Trata-se também de um show com efeitos teatrais, com Elba interpretando personagens que havia feito anos antes em peças de teatro, como Mateus e Catarina. No repertório deste, destaque para a canção Deixa escorrer, de Caetano Veloso sobre poema de Mayawowski, que a censura vetara a inclusão no LP. Em 1983 lança o elogiadíssimo álbum Coração Brasileiro, que contou com a produção de Mazzola e arranjos de Lincoln Olivetti (Banho de cheiro e Vida e carnaval), Luiz Avellar (Toque de fole e Batida de trem), César Camargo Mariano (Ave cigana, Canção da despedida e A volta dos trovões), Francis Hime (Se eu fosse o teu patrão), o grupo A Cor do Som (Chororô), Severo (Roendo unha) e Zé Américo (Ai que saudade d'ocê). Os maiores êxitos do repertório foram as canções: Banho de cheiro (frevo de Carlos Fernando e faixa de abertura do álbum), o xaxado Toque de fole (Bastinho Calixto e Ana Paula) - primeira faixa a estourar nas rádios -, a toada Canção da despedida (parceria bissexta de Geraldo Azevedo e Geraldo Vandré, censurada durante a ditadura militar) e o xote Ai que saudade d'ocê (Vital Farias). O disco contou com as participações especiais de Chico Buarque, os grupos Céu da Boca e Roupa Nova, e o guitarrista Robertinho de Recife nas faixas Se eu fosse o teu patrão - composta por Chico para a peça A Ópera do Malandro -, A volta dos trovões (Bráulio Tavares e Fuba) e Vida e carnaval (Moraes Moreira e Aroldo), respectivamente. Na faixa Toque de fole inclusive, contou com a participação especial dos sanfoneiros Sivuca, Severo e Zé Américo.

A faixa-título, de autoria do mineiro Celso Adolfo, aparecia apenas como uma vinheta de 15 segundos; apesar de constar no encarte com a letra completa, somente os primeiros versos eram cantados, à capela: No meu coração brasileiro / Plantei um terreiro / Colhi um caminho / Armei arapuca / Fui pra tocaia / Fui guerrear.
O trabalho consagrou definitivamente a cantora e conquistou discos de ouro e platina, e originou o espetáculo homônimo aclamado pela crítica especializada, realizado na casa carioca de espetáculos Canecão, bateu pela primeira vez os recordes de público ali registrados nos shows de Roberto Carlos; foram 97 mil pessoas em dez semanas, traduzidas em 44 apresentações, com ingressos esgotados duas semanas antes do término da temporada. Elba foi capa da Veja na edição de 30 de novembro, sendo considerada pela revista a maior estrela da música brasileira em 1983, cuja manchete de capa era O brilho da estrela, que dizia: Depois do sucesso no Canecão e da semana de seu especial na TV Globo, Elba Ramalho se reafirma como figura única no mundo do espetáculo. A cantora foi também tema do especial de fim de ano da Rede Globo, exibido na sexta-feira, 2 de dezembro de 1983. Em relação às fotos teatrais da contracapa, foi uma ideia do diretor Naum Alves de Souza, de rebobinar personagens que Elba havia interpretado em espetáculos ao longo da carreira; o anjinho e o leque da capa, presentes da amiga Marieta Severo, que por sinal lhe apresentou ao diretor. No ano seguinte, a Polygram alemã decidiu que seria o primeiro trabalho solo de um artista brasileiro a ser lançado internacionalmente em CD - três anos antes de o formato começar a ser comercializado no Brasil com artistas nacionais, por meio da série Personalidade. Prosseguiu com o álbum Do jeito que a gente gosta (1984), produzido por Mazzola e lançado num momento em que a cantora estava no auge do sucesso. O repertório deste, escolhido a quatro mãos com o produtor, apresentou grande versatilidade de ritmos, com destaque para dois forrós nordestinos, puxados a sanfona e zabumba: a faixa-título (Severo e Jaguar) e Forró do poeirão (Cecéu); da cultura pernambucana, dois frevos - Moreno de ouro (Carlos Fernando e Geraldo Amaral) e Energia (Lula Queiroga) - e um maracatu (Toque de amor de João Lira e José Rocha); baladas românticas, como Calmaria (do maestro Zé Américo, com Salgado Maranhão) e Amor eterno (de Tadeu Mathias e Ana Amélia, inspirada em um soneto de Shakespeare) - que integrou a trilha sonora da novela global Livre para Voar, de Walther Negrão -, uma toada mineira, a faixa de abertura Azedo e mascavo (Celso Adolfo) e, encerrando o disco em tom de protesto, a provocativa Nordeste Independente (Imagine o Brasil) (Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova), gravada ao vivo no espetáculo inspirado no trabalho anterior, e um dos momentos de maior sucesso do espetáculo, mas que não havia entrado no disco Coração brasileiro.

Esta canção teve a execução pública proibida à época de lançamento do disco, e o LP foi vendido com um lacre vermelho, escrito que era proibida a radiodifusão dessa música. Elba comenta: "Foi um fato que chamou a atenção, pois eu estava no auge e aquilo causou muita notícia e curiosidade do público". Os arranjos ficaram a cargo de José Américo Bastos, César Camargo Mariano (Azedo e mascavo e Amor eterno) e Lincoln Olivetti (nos frevos).
O trabalho seguinte, Fogo na mistura (1985) - produzido por Mazzola e o último da fase de maior popularidade da carreira - nasceu num período de efervescência política no Brasil, graças à campanha pelas Diretas Já, processo iniciado no ano anterior, e que atingiu o clímax quando Tancredo Neves foi eleito para presidente no Colégio Eleitoral. Elba se engajou nessa campanha e participou de diversos atos em prol da liberdade política e artística. Isto se reflete em letras politizadas como a da faixa-título e o frevo Pátria amada, a faixa de encerramento, que integrou a trilha sonora do filme homônimo de Tizuka Yamazaki. Sobre essa época, Elba revelou em entrevista a Rodrigo Faour: Tive uma vivência política quando era universitária. Fui presidente do diretório de estudantes, depois vivi bem de perto o final da ditadura, vi 'amigos sumindo assim', como dizem os versos de Gilberto Gil. Em meu trabalho, independente de ideologia - nunca gostei nem de comunistas -, sempre tive uma preocupação em tocar na questão social. Acho importante. Por isso, também participei da campanha das eleições diretas e cheguei a ser amiga de Tancredo Neves. Depois de uma turnê a Cuba, e influenciada por cantores como Silvio Rodrigues e Pablo Milanés - chegou a fazer a apresentação de um disco que este último lançou naquele mesmo ano em solo brasileiro -, três faixas deste álbum foram gravadas em Miami com arranjos e execução de músicos cubanos residentes ali: a faixa-título, de Tunai e Sérgio Natureza - que aparece na abertura do LP -, mas a temática caribenha apareceu com maior intensidade nas faixas Como se fosse a primavera (Canción) (versão de Chico Buarque para tema de Pablo Milanés com Batista Nicolas Guillen, gravada por Chico no ano anterior) e No caminho de Cuba (Jaime Alem, atualmente maestro da cantora Maria Bethânia, mas que à época pertencia à banda de Elba), se revelando também nas temáticas e mesmo no gênero rítmico, com uma acentuada latinidade; ao longo da carreira, Elba voltaria várias vezes à estética musical caribenha - em números dos discos seguintes, como Remexer, Elba e Popular brasileira, e principalmente em 1993 quando gravou o álbum Devora-me totalmente voltado para esta sonoridade. Além disso, o álbum trouxe um forró (Mexe mexe funga funga, de Severo e Jaguar) - primeira faixa de trabalho -, samba de pegada pop (Anjo do prazer, de Tadeu Mathias e Jaguar) e fusões rítmicas (Sambaiãozar, de Pinto do Acordeon). Mas também trouxe o maior sucesso da carreira até hoje, a toada romântica De volta pro aconchego (de Dominguinhos e Nando Cordel). A música foi popularizada devido à sua inclusão na trilha da novela global Roque Santeiro de Dias Gomes - censurada há dez anos e somente liberada em 1985, trazendo no elenco atores veteranos e novatos, contando com uma audiência maciça, e poucas vezes vista na televisão brasileira. A música chegou às mãos da cantora no ritmo do baião; foi dela a ideia de romantizar o tema, ganhando arranjo de Dori Caymmi. Curiosidade: o cantor e compositor Caetano Veloso homenageou essa interpretação da cantora na música Pra ninguém, gravada por ele em 1997 no álbum Livro, em que homenageia e cita suas interpretações preferidas; quando chega na vez de Elba, é dito: Elba cantando De volta pro aconchego. Em 1991 lançou o álbum Felicidade urgente, que contou com a produção de Nelson Motta, arranjos do maestro e pianista Eduardo Souto Neto e as participações especiais de Lulu Santos na faixa Vida, Cláudio Zoli na faixa-título, Djavan em Ventos do norte, Sandra de Sá na música Maré dendê e Oswaldinho do Acordeon na faixa de encerramento - a célebre La vie en rose, gravada originalmente pela cantora francesa Edith Piaf; o trabalho misturou canções inéditas e regravações (Vida, Morena de Angola, Pisa na fulô, É d'Oxum e La vie en rose); no ano seguinte foi a vez de Encanto, produzido pela própria cantora, cujo repertório mostrou um bom equilíbrio entre forrós e canções românticas e contou com a participação especial de Margareth Menezes na faixa Cidadão. Em 1993 o disco Devora-me simulou uma incursão pela sonoridade latina, tendo sido gravado em Porto Rico e produzido por Glenn Monroig; em entrevistas da época, Elba declarou que apesar de ter nascido em solo brasileiro, tinha a intenção de ampliar sua música para outros públicos na América do Sul. O maior sucesso do álbum foi a faixa de encerramento Coração da gente, tema de abertura da novela da Rede Globo Tropicaliente, de Walther Negrão. A versão internacional deste trabalho trouxe uma faixa-bônus - no caso, a referida faixa Coração da gente vertida para o espanhol, mas trouxe também versões de canções caribenhas (Cora coração, Devora-me outra vez, Força interior e Desesperada).

Anteriormente a esse trabalho, no mesmo ano foi lançada a coletânea O Grande Forró de Elba Ramalho, uma seleção de canções pertencentes a discos anteriores da cantora, com duas faixas inéditas: Chegadinho e Eu quero meu amor - esta última também fez parte do repertório de Devora-me e da trilha sonora da novela global Renascer, de Benedito Ruy Barbosa.
O trabalho que marca a saída da gravadora Polygram é Paisagem (1995), cujo maior destaque foi a regravação de Paisagem na janela, que integrou a trilha sonora do remake da novela Irmãos Coragem. Desde então é tida como uma das principais intérpretes da música brasileira, com expressivas vendagens, graças à presença de palco e voz inconfundível. Em 1996, lança o elogiado e bem-sucedido CD Leão do Norte, que marcou a estreia na gravadora BMG e vendeu mais de 300 mil cópias, exaltando a cultura nordestina e pernambucana (com a faixa-título de Lenine e Paulo César Pinheiro). O espetáculo homônimo foi dirigido por Jorge Fernando e obteve relevante sucesso no Brasil inteiro, arrematando o prêmio de Melhor show do ano, pela Associação de Críticos de Arte de São Paulo e também originou um VHS contendo os melhores momentos do espetáculo. Naquele mesmo ano, excursiona com o espetáculo O grande encontro, juntamente com Alceu Valença, Zé Ramalho e Geraldo Azevedo. O primeiro disco da trilogia vende mais de um milhão de cópias, trazendo clássicos da MPB e da música nordestina. Em 1997 chegou às lojas o disco Baioque, composto basicamente de regravações de músicas urbanas de autores nordestinos, como Raul Seixas (S. O. S.), Belchior (Paralelas), Ednardo (Pavão misterioso), Zé Ramalho (Vila do sossego), Caetano Veloso (Os argonautas), Gilberto Gil (Vamos fugir), Lenine (Relampiano), Alceu Valença (Ciranda da rosa vermelha), dentre outros; assim como o trabalho anterior, este também foi produzido pelo músicos Robertinho do Recife que também foi responsável por alguns arranjos e regência. O espetáculo bisou a parceria com Jorge Fernando e o sucesso do espetáculo baseado no disco anterior e a reedição deste CD trouxe a faixa-bônus Paris, que não constava da versão original. Graças ao sucesso do projeto O grande encontro, foi lançado um segundo volume do álbum, mas desta vez só não contou com a participação de Alceu Valença, além de excursionar pelo Brasil inteiro; o repertório deste trouxe sucessos dos três artistas.

Em 1998 lança o CD Flor da Paraíba, o último da trilogia produzida por Robertinho de Recife, trazendo algumas regravações e canções inéditas de compositores nordestinos, priorizando canções no estilo do forró. O título do álbum é inspirado em uma dedicatória feita, há muitos anos, pelo cantor e compositor Caetano Veloso, quando a cantora acabara de chegar ao Rio de Janeiro para despontar no meio musical.
Em 2001, a inclusão da balada "Entre o Céu e o Mar" na trilha da novela Porto dos Milagres ajudou a promover o disco Cirandeira, ao qual se seguiu um tributo a Luiz Gonzaga no disco Elba Canta Luiz (2002) – cujo show de lançamento renderia o CD Elba ao Vivo (2003). Em 2004, uma turnê nacional com Dominguinhos seria o ponto de partida do disco que saiu no início de 2005, gravado em estúdio com inéditas ("Rio de Sonho", "Forrozinho Bom", "Chama") e clássicos de autoria de Domiguinhos, casos de "Eu Só Quero Um Xodó" e "De Volta pro Aconchego", este um sucesso eternizado em 1985 pela própria Elba, a voz agreste que traduz a riqueza musical nordestina para o Brasil.


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Biografia inspirada na do site Vagalume.com. Agradecimentos!
Ps1.: O disco que constará o cabeçalho do EnTHulho Musical será o ótimo "Leão do Norte", de 1996.
P.s2.: Não é pra me gabar não mas meu pai já improvisou uma canjinha com Elba, na década de 90, em Mossoró, RN. ;)

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ABAIXO, DOIS CURIOSÍSSIMOS VÍDEOS: NO PRIMEIRO, A PARTICIPAÇÃO DE ELBA RAMALHO, JUNTO A JOSÉ DUMONT, NO ESPECIAL DA GLOBO "MORTE E VIDA SEVERINA". NO SEGUNDO, ELBA RAMALHO E A ATRIZ CLÁUDIA OHANA "SE ENFRENTAM", CANTANDO "O MEU AMOR", EM MEMORÁVEL CENA DO FILME "A ÓPERA DO MALANDRO".







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TREM DAS ILUSÕES
Elba Ramalho e Alceu Valença

Ah, se meu desejo voasse
Como ave, como pássaro
Lhe caçasse em toda parte
Provocasse sua compaixão

É tão pouco, muito louco
Ficar ouvindo sua voz pelo telefone
A canção que nós cantamos como trilha
Nessa noite de interrogação

Ah, se meu desejo voasse
Como ave, como pássaro
Lhe caçasse em toda parte
Provocasse sua compaixão

É tão pouco, é muito louco
Ser flor e pedra em seu caminho
Sofrer, gemer, quase em silêncio
Morder seu nome no lenço
Ver nossa história por um fio

É tão vazio

Vai ver que esse trem que você viaja
Não tem janela não
Não tem casa na colina

Não tem pôr-do-sol lá em cima
É você que está cego e não me vê viajando
Na mais cruel ilusão

Ah, ah, ah, ah, ah, ah
Ah, ah,ah, ah, ah,

Ah, se meu desejo voasse
Como ave, como pássaro
Lhe caçasse em toda parte
Provocasse sua compaixão

É tão pouco, muito louco
Ser flor e pedra em seu caminho
Sofrer, gemer, quase em silêncio
Morder seu nome no lenço
Ver nossa história por um fio
É tão vazio

Vai ver que esse trem que você viaja
Não tem janela não
Não tem casa na colina

Não tem pôr-do-sol lá em cima
É você que está cego e não me vê viajando
Na mais cruel ilusão



TH - Memorável música e videoclip!


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