sexta-feira, 15 de abril de 2011

ENTHULHO MUSICAL APRESENTA: MOTO PERPÉTUO!



Pra quem não conhece, foi uma banda de rock progressivo nosso artista do mês, Guilherme Arantes, participava.
Quem apresenta é a ilustre convidada Grazi Ella Feliz Ares, mais uma vez enriquecendo nossa revista musical on-line.
Boa leitura!



"Guilherme Arantes já pilotou um "Moto Perpétuo". Por Grazi Ella Feliz Ares, SP.



Guilherme Arantes foi um adolescente privilegiado. Por influência do tio que trabalhava na TV Record, presenciou, no teatro da emissora, as disputas musicais entre os cantores que se tornariam os grandes nomes da MPB. Nessa época, Guilherme já fazia parte de conjuntos musicais cujo repertório incluía canções dos Beatles e da Jovem Guarda. O primeiro deles chamava-se “Os Polissonantes”, cujo baixista era o ator Kadu Moliterno:
“Conheci o Chicão, o Pudim, o Michelin, o Kadú (Moliterno) e o Capê. O Polissonante na verdade não passou muito dos ensaios e de algumas apresentações no Tênis Clube e no Círculo Militar, onde era o máximo tocar. A gente vivia zoando no ônibus elétrico pela Aclimação, soltando sacos de bolinhas de gude no chão, e nos ensaios do conjunto eu brilhava porque tirava tudo de ouvido na hora, era o mais novinho da turma, as garotas curtiam com a minha cara de bebezão (cheia de espinhas, por uns 6 anos de inesquecível angústia).”

Apesar do talento, a família de Guilherme ainda não estava convencida de que o meio musical era o melhor caminho. Guilherme prestou vestibular para Arquitetura, influenciado pela mãe, mas não passou. Fez cursinho e, como ele mesmo diz:

“Após ralar brilhantemente naquela fábrica de salsicha - todos os ‘cursinhos’ são uma espécie de igreja de lavagem cerebral - acabei passando no Mackenzie e na tão sonhada FAU, da USP. Optei pela FAU, e gostei de cara da escola, fiz muitos amigos, e gostava muito das tertúlias musicais na casa do Bicalho, que morava perto da USP. Acho que o curso era bom demais pra mim... Já no segundo ano eu estava de novo distante, com a cabeça em outro chamado, não passei do primeiro semestre em várias matérias básicas. Conheci o Claudio Lucci, brilhante violonista, e com ele fui procurar um velho amigo, o Diógenes, o melhor baterista que vi tocar em toda minha vida.”



Quando Diógenes se uniu ao grupo, trouxe consigo o guitarrista Egydio Conde e o baixista Gerson Tatini. E assim o Moto Perpétuo (cujo nome foi inspirado numa das mais famosas obras do compositor e violinista italiano Niccolò Paganini) dava seus primeiros passos na São Paulo de 1974. O grupo recebeu grande influência do Clube da Esquina e do Rock Progressivo (estilo bastante difundido entre os estudantes da época).
Era numa casa, no bairro do Brás, que a banda marcava suas reuniões, nem sempre amistosas. Os integrantes chegaram a discutir com Guilherme por ter agendado uma sessão de gravações num estúdio muito simples: “O Moto logo gravou o primeiro disco, meio precário, com produção do Pena Smith, legendário talento, fazendo milagres no estúdio da Sonima (em São Paulo), de apenas oito canais. Na banda entraram o Gerson Tatini, baixo, o Egydio Conde, guitarrista, e a gente se enfurnou numa casa no Brás, para ensaiar. Os meus colegas, sempre brigando comigo por causa da minha ‘precipitação’ de ter aceito fazer o precioso disco num estúdio de poucos canais e em condições bem diferentes daquelas que eles tinham ouvido falar sobre o Yes, etc. Um dia o Gerson falou pra mim: ‘Você não ouve disco, saca?’ Ele era o mais radical nessa formatação para estar de acordo com uma época, e eu respondi, malcriado e injusto ‘Não ouço disco porque nasci pra fazer disco, saca?’”.

Aliás, os demais integrantes da banda eram bastante fiéis ao estilo rock progressivo, enquanto Guilherme preferia as baladas. O gosto musical de Guilherme influenciou muito a banda, já que as canções, em sua maioria, eram compostas por ele, que também era o vocalista principal. Das onze canções, apenas duas foram compostas por Cláudio Lucci. Apesar das diferenças e desavenças, o disco saiu em 1974, com arranjos bastante inusitados para a época. Como a banda não recebia espaço para divulgação na mídia, para alavancar a venda dos LPs, o grupo passou a vender as cópias durante os shows em universidades, no Teatro 13 de Maio ou em festivais hippies. Entretanto, Guilherme detestava o ambiente dos festivais hippies, se irritava com os banheiros sempre sujos e a falta de educação da plateia que não entendia a mensagem da banda: “Em Iacanga, festival de Águas Claras, fomos ser chacota da galera boçal que gritava: "Toca Rock!!". Ali se apresentaram "O Terço", "Som Nosso de Cada Dia", etc. Eu nunca gostei do lado escatológico do movimento Hippie - o fedor, a sujeira dos ‘banheiros’, a comida comunitária, os bichos grilos em profusão, num movimento já esvaziado e nostálgico. Cedo percebi a estupidez das multidões, a falsidade do tributo que cada época nos obriga a pagar... Aquele grito "Toca Rock!!" ficou sendo emblemático para mim. Cada período cobraria seu tributo, seja nos cabelos e nas roupas, nas bandas pretensiosas, no discurso político, mais tarde o bate estaca da discoteca, do "desbunde" do pó, até o pragmatismo eficiente dos Axés, dos rodeios, do Dance Music com seus DJs, MCs e Promoters, tudo me soa como se o mundo houvesse "curralizado" a cultura de massa. Também, de que vale essa cultura?”

Sobre o Moto Perpétuo, é interessante notar a ingenuidade das composições do grupo, a maioria das canções era composta por poemas musicados. Recentemente, comprei um dos últimos exemplares do relançamento em CD, pela Warner. É, sem dúvida, um disco para ser saboreado... A cada audição é possível destacar uma canção. “Duas” é uma balada bem ao estilo Elton John. “Verde Vertente” é, de longe, a música preferida de Guilherme (e até hoje faz parte do playlist de seus shows). “Matinal” é uma faixa deliciosa, com uma pegada hippie. “Conto Contigo” é bem animada apesar da letra quase enigmática. “Mal o Sol” tem o refrão recorrente como um mantra. “Não reclamo da chuva” outra composição enigmática, com vocal bastante inusitado, gostosa de cantar. Em todas as canções, a voz do Guilherme é aconchegante, chama a atenção para as letras e linhas melódicas de sua composição. “Três e eu”, composta e interpretada por Cláudio Lucci é uma faixa que também merece destaque, pela introdução com um violão meio flamenco, se desmanchando na melodia bastante poética: “Eram três e eu, noite apontou... eram três e eu, num subúrbio que passou... Vagão vago azul, carvão vapor... eram três e eu... vento escuro nos cabelos”.
Após este disco, cada integrante da banda tomou um rumo próprio, em busca do sucesso. Guilherme Arantes trabalhou com a composição e gravação de alguns jingles e partiu em busca de apoio para gravar um disco solo, que em 1976, estourou nas paradas musicais com Meu Mundo e Nada Mais: “No final de 75 resolvi seguir o meu destino de cantor popular e fui procurar a Som Livre, na Rua Augusta, em frente ao atual Columbia. Na época, as baladas pianísticas de Elton John estavam na moda, eu estava com sorte. O Otávio Augusto, o Guto Graça Mello e o João Araújo resolveram me lançar como tema da novela das 7 ("Anjo Mau"), e aí sim começaria de verdade a minha história”.

Uma história, diga-se de passagem, de muito sucesso e grandes conquistas...



Texto exclusivo do EnTHulho Musical. Todos os direitos reservados.


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Agora, vamos à música do Moto que o próprio Guilherme considera como a sua favorita!


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VERDE VERTENTE
Moto Perpétuo.
Composição: Guilherme Arantes

Granulou-se verde vertente
onde o brilho solar atinge
muitos anos já se passaram e quase não vi
que espalhou-se o verde em vertente
onde o brilho solar refringe
muitos anos já se passaram que desconhecia
o seguinte passo
nada que não faço mal e mal me faça passar
qual a nova sêde
que é de tanta sêde que não sente
não é nova, novamente
nesse assônico escuto o simples
pois há meios de boa fala
muitos anos já me bastaram sem voltar aqui
nesse assônico escuto o simples
pois semeio-me sem forçá-lo
muitos anos já me bastaram até este dia...



TH - Mais uma luxuosa colaboração de Dona Grazi! Obrigado!



4 comentários:

  1. A Grazi é uma fã empolgada, né???
    Muito legal saber dessas particularidades por ela.
    Parabéns pelo textinho!!!

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  2. Testando isso aqui. Blogspot vez por outra dá um "tilt" e os comentários ficam indisponíveis

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  3. AHHHHHHHHHHHH AGORA SIM...COMO NÃO COMENTAR ESSE TEXTO DA GRAZI CHEIO DE EMOÇÃO E DETALHES IMPORTANTES DE UMA CARREIRA BRILHANTE QUE SERVE DE EXEMPLO PRA TODOS NÓS NO QUE SE DIZ RESPEITO A LUTAR PELO SEU ESPAÇO E NÃO ABRIR MÃO DAS SUAS ESCOLHAS...SALVE GUILHERME ARANTES...OBRIGADA POR EXISTIR E FAZER PARTE DA HISTÓRIA DA MINHA VIDA!!!!!! PARABÉNS À GRAZI E AO THIAGO PELO ESPAÇO...ENCANTADOR!!!!!!

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  4. EnTHulho sempre com novidades. Honra os elogios com mérito. Nesse mar de bobagem que é a internet, a sofisticação do teu blog, TH, salta como um oásis. Parabéns!
    A autora do texto, a Grazi: gostei muito do teu entusiasmo e adorei conhecer o Moto Perpétuo. :)

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