Lembram da seção "última faixa"? No fim do mês, uma crônica minha (ou de convidados) sobre o artista do mês.
Foi a decisão mais acertada que eu tive retomar o "Artista Do Mês" com a Clara Nunes, pois ela é um patuá: traz sorte! E quem não se alegra com esse sorriso que tanto nos cativa? A energia boa que o blogue teve nesse Janeiro veio dela, sem dúvidas!
Clara Nunes é a perfeita representação da mulher brasileira: bonita, sorridente, guerreira, sem medo de ser feliz e intensa. Nossa música era mais alegre e profunda nas décadas em que ela ajudou a escrevê-la. O que é mais legal é ver como conseguia ser popular sem ofender o intelecto alheio, coisa rara hoje em dia, nesses tempos em que o P do MPB deixou mesmo de significar "popular".
Se eu fosse a um show de Clara Nunes, tenho certeza que minha reação seria a de extrema anestesia. Eu, que tenho sido mais "samba" apenas ultimamente, teria eleito o estilo como um dos meus preferidos graças esse ser de luz e sua magnética e envolvente aura.
Aprendi muito com Clara esse mês. Sempre encho meu MPB com músicas do artistas que homenageio mensalmente no blogue, pra entrar no clima, pra sentir a voz, a respiração nas pausas, o domínio da interpretação, e saio engrandecido culturalmente depois dessa overdose de Clara. Aprendi demais com as palavras que o amigo Walter escolheu pra ilustrá-la, com os vídeos que vi dos artistas que a homenagearam, com as atrizes que a representaram...foi uma experiência sem igual.
Que saiamos mais irradiados e engrandecidos com todos os bons fluidos obtidos nesse mês. E bem mais saudosos, também!
Sempre foi das mais queridas, de fato. E o EnTHulho, que nunca foi um blogue especializado em telenovelas, recebia inúmeros noveleiros como visitantes sempre que postava um novo dossiê! Já foram "vítimas" dessa seção Alceu Valença, Ney Matogrosso, Marina Lima, Zélia Duncan, Adriana Calcanhotto, Elba Ramalho, Ivan Lins, Milton Nascimento, Tom Jobim e Guilherme Arantes!
Pois a boa notícia é que a seção está de volta, como sempre acompanhando nossos Artistas Do Mês; E, como nesse Janeiro/15 falamos de Clara Nunes, é com ela que retomamos nossos dossiês!
Basta uma rápida consulta no site do meu amigo Nilson Xavier (www.teledramaturgia.com.br) , com o nome de Clara Nunes para constatar que a guerreira nunca foi tão aproveitada nas trilhas de nossas novelas. Não sei o porque, uma vez que seu trabalho sempre foi tão popular e renderia temas inesquecíveis, para personagens tão ricos como os que temos em nosso histórico televisivo.
Cronologicamente, em "O Tchan, a Grande Sacada", novela de Marcos Rey, de 1976, exibida pela Rede Tupi parece ter sido a pioneira. Foi a novela que antecedeu a versão de 1977 de Éramos Seis, e está exatamente no período do auge da nossa Clara, que foi o seguindo quinquênio dos anos 70. Só que essa produção, ao que parece, foi bem problemática, e a música de Clara na trama, "Basta Um Dia", de autoria de Chico Buarque, não foi creditada em nenhum lugar, a nenhum personagem. Ainda sobre a canção, ela também integrou a peça "Gota D' Água" de Chico, e está no disco "Clara", também de 76.
No final do ano seguinte, 1977, foi a vez de Clara emprestar um grande hit de sua carreira para a pontuar a emblemática produção de Janete Clair: a versão setentista de "O Astro". Nesse momento, Clara estava em voga com muito sucesso e repercussão, logo, "As Forças Da Natureza" foi muito bem escolhida pra integrar a trilha dessa novela que parou o país.
Estamos agora em 1979, finalzinho dos Anos 70. A novela é "Os Gigantes", de Lauro César Muniz, produção problemática da Globo, um tanto "pra baixo", pois era uma novela em que se falava de doenças, de eutanásia e demais temas mórbidos. Você, noveleiro musical, consegue imaginar nossa Clara, sempre tão sorridente, num clima assim? Pois é, mas ela esteve na trilha, com a música "O Jardim Da Solidão", tema da personagem Veridiana, interpretada pela não menos alegre Susana Vieira! A música era mais intimista que as demais da carreira de Clara, e casou perfeitamente com personagem de temperamento forte, que se tornou a antagonista da anti-heroína Paloma, papel de Dina Sfat!
No ano seguinte, na mesma faixa das 20h da Globo também tivemos Clara Nunes em trilha de novela. Seguindo a linha "samba-intimista" que começou em "Os Gigantes", com esse mesmo estilo, ela pontuou os sentimentos da sofrida "Maria Faz Favor", interpretada magistralmente por Aracy Balabanian. A novela era "Coração Alado", também de Janete Clair, que, como podemos constatar, trabalhava em escala industrial.
Um dos temas mais lembrados de Clara foi "Ai Quem Me Dera", uma música linda de Vinicius de Moraes, bem defendida pela voz límpida de nossa guerreira. Ganhou destaque pois foi o tema da personagem Ana Do Véu, interpretada por Patrícia Pillar na primeira versão de "Sinhá Moça", novela de Benedito Ruy Barbosa de 1986. Vale lembrar que essa música já esteve também na trilha da novela "Um Sol Maior", de 1977, novela da Rede Tupi de Teixeira Filho. Aliás, esse título é o que mais se adéqua à nossa artista do mês :)
Por fim, tivemos Clara também na minissérie de Maria Adelaide Amaral,"Queridos Amigos", de 2008, com seu hit "Conto de Areia" e fica aqui registrada minha sugestão aos sonoplastas de TV: cadê Clara em música de abertura de novela? Ela merece não é?
Deixei passar alguma? Deixe suas críticas nos comentários. Por ora, ficamos, então, com essa que é a minha preferida EVER! ;)
AI QUEM ME DERA
Vinicius de Moraes. Clara Nunes
Ai quem me dera terminasse a espera Retornasse o canto, simples e sem fim E ouvindo o canto, se chorasse tanto Que do mundo o pranto, se estancasse enfim
Ai quem me dera ver morrer a fera Ver nascer o anjo, ver brotar a flor Ai quem me dera uma manhã feliz Ai quem me dera uma estação de amor...
Ah se as pessoas se tornassem boas E cantassem loas e tivessem paz E pelas ruas se abraçassem nuas E duas a duas fossem ser casais
Ai quem me dera ao som de madrigais Ver todo mundo para sempre afim E a liberdade nunca ser demais E não haver mais solidão ruim
Ai quem me dera ouvir um nunca mais Dizer que a vida vai ser sempre assim E ao fim da espera Ouvir na primavera Alguém chamar por mim
Ai quem me dera ao som de madrigais Ver todo mundo para sempre afim E a liberdade nunca ser demais E não haver mais solidão ruim
Ai quem me dera ouvir um nunca mais Dizer que a vida vai ser sempre assim E ao fim da espera Ouvir na primavera Alguém chamar por mim
O último TopTulho de Janeiro chega sem grandes novidades. Reflexo do marasmo que assola o mundo da MPB nesse 2015 (vide as paradas utilizadas para confeccionar a nossa, das principais rádios especializadas), porém estamos apenas no primeiro mês! Vem muita coisa boa esse ano, não tenham dúvidas!
Arlindo Cruz permanece na primeira posição. Maria Rita, Adriana Calcanhotto e Vanessa da Mata garantem boas subidas, enquanto bandas como Malta, Banda Do Mar e o Thiago Pethit seguem descendo, cada vez mais. Millane Hora e Anelis Assumção foram as gatinhas que nos deixaram dessa vez, dando lugar a Skank, Preta Gil e Lulu Santos, que estreiam em nossa parada!
Vamos conferir como ficou essa semana?
1) ARLINDO CRUZ - Não Penso Mais Em Nada (=) 2) MARTINÁLIA - Peço a Deus (+3) 3) ADRIANA CALCANHOTTO - E Sendo Amor (+5) 4) VANESSA DA MATA - Ninguém E Igual a Ninguém (+2) 5) ZECA BALEIRO - Ai Que Saudade D' Ocê (-3) 6) DIOGO NOGUEIRA E HAMILTON DE HOLANDA - Salamandra (-3) 7) MARIA RITA - Mainha Me Ensinou (+3) 8) ZECA BALEIRO E ZÉLIA DUNCAN - Fox Baiano (-1) 9) MALTA - Diz Pra Mim (-5) 10) SURICATO - Diante De Qualquer Nariz (+2) 11) LUIZA POSSI - Cacos De Amor (=) 12) PATO FU - Cego Para As Cores (-3) 13) GABRIEL MOURA E MILTON NASCIMENTO - O Certo (+2) 14) NANDO REIS E MARISA MONTE - Pra Quem Não Vem (=) 15) JOTAQUEST - Dentro De Um Abraço (+3) 16) THIAGO PETHIT - Quero Ser Seu Cão (-3) 17) PRETA GIL E LULU SANTOS - Condição (ESTREIA) 18) SKANK - Esquecimento (ESTREIA) 19) ANGELA RO RO e JORGE VERCILO - A Capital Do Amor (=) 20) BANDA DO MAR - Mais Ninguém (-4) Saíram: MILLANE HORA - O Braço Do Sofá (5 SEMANAS) ANELIS ASSUMPÇÃO - Not Falling (1 SEMANA)
E hoje vamos falar da Mart'nália que, além de ter conquistado a vice liderança no Toptulho dessa semana com a bela letra de Caetano Veloso, acaba de ser confirmada como a interprete da música de abertura da próxima novela das 21h, "Babilônia", de Gilberto Braga e Ricardo Linhares. A música escolhida foi a composição clássica de Vinicius de Morais, ""Pra Que Chorar"?.
Vale lembrar que a música"Cabide", que integrou outra novela do autor, "Paraíso Tropical", de 2007, catapultou sua carreira, e que ela também cantou o tema de abertura da novela "Três Irmãs", de Antônio Calmon, em 2008 ("Don't Worry, Be Happy").
Duvidam que Mart'nália terá um 2015 abençoado? Pediu tanto a Deus que conseguiu! :D
A filha de Martinho da Vila terá um 2015 abençoado!
PEÇO A DEUS
Caetano Veloso e Marçal
Mart'nália
Peço a Deus Um mundo cheio de paz Peço a Deus Que alcance os teus ideais Peço a Deus Que a inveja jamais Peço a Deus Pra sermos todos iguais
Peço a Deus Pra te livrar da maldade Peço a Deus Que me dê felicidade Peço a Deus Que se propague a bondade Peço a Deus Amor e prosperidade
De mãos dada peito aberto Rumo certo para o bem Pra lutar contra a maldade Que esse nosso mundo tem E viver uma vida mansa Sem ver o tempo passar Ter sorriso de criança Ter bondade em cada olhar
Peço a Deus Um mundo cheio de paz Peço a Deus Que alcance os teus ideais Peço a Deus Que a inveja jamais Peço a Deus Pra sermos todos iguais Peço a Deus Pra te livrar da maldade
Peço a Deus Que me dê felicidade Peço a Deus Que se propague a bondade Peço a Deus Amor e prosperidade Peço a Deus Amor e prosperidade Peço a Deus Amor e prosperidade
4 anos depois de seu primeiro texto no EnTHulho Musical, esse meu querido amigo de Santos (SP) Walter de Azevedo - um talentoso escritor que tanto admiro - retorna ao blogue para falar de outra grande paixão sua: nossa artista do mês Clara Nunes!
Bastante ocupado, em meio a correria, Walter mais uma vez foi bastante atencioso e nos brinda, hoje, com uma crônica apaixonada e iluminada. Sabia de sua paixão por Clara, então fui novamente cara de pau e solicitei o texto. O resultado não poderia me deixar mais satisfeito!
Walter, você é um MONSTRO DO BEM!!! Rs. Muito obrigado, meu amigo!
Não sei quando foi a primeira vez que vi Clara Nunes. Talvez nem mesmo
me lembre de quando foi meu primeiro contato com sua voz, mas guardo de minha
infância uma recordação viva daquela que seria uma de minhas cantoras preferidas.
Em uma noite distante da década de 70 (me deixem ser dramático), a Rede
Globo apresentou em sua linha de shows um programa com Sargentelli, o homem que
ficou nacionalmente conhecido por descobrir “mulatas tipo exportação”.
Envolvido com o mundo do samba, Sargentelli trazia em seu programa uma série de
convidados. Um desses era ninguém menos do que nossa estrela: Clara Nunes.
Apresentada como “a minha afilhada”, Clara entrou em cena e me conquistou.
Apesar de ser conhecida como sambista, acho difícil classificar Clara
Nunes. Poucas cantoras passearam por tantos estilos, ritmos e fases como ela,
desde os primeiros discos, com os famosos sambas-canção até seus últimos álbuns
com músicas de forte apelo político e religioso. Aliás, a religiosidade foi uma
das grandes marcas de Clara. Segundo meu amigo Vitor de Oliveira, Clara Nunes
foi a “primeira orixá brasileira”. Uma definição perfeita! Era assim que Clara
se apresentava. E não estou falando de roupas e adereços, mas sim de uma luz
que parecia emanar da própria cantora. Foi Clara quem me apresentou a Iansã, a Ogum,
a Xangô, a Nanã e a tantas outras entidades da riquíssima cultura
afro-brasileira. A canção “Guerreira”,
em que Clara saúda os orixás, era de um fascínio incrível pra mim. Peguei o
disco de minha tia várias vezes só pra ouvir aquela música. Claro que acabei
amando as outras do álbum, seria impossível que isso não acontecesse. Essa
religiosidade por ser conferida em toda a extensão de sua vasta obra. Tomemos
como exemplo a já citada “Guerreira”.
No entanto, não posso deixar de destacar a belíssima “A Deusa dos Orixás”, gravação histórica e arrepiante da cantora
mineira.
A paixão de Clara Nunes pelo carnaval, seu amor pela Portela,
tradicional escola de samba do Rio de Janeiro, também não deve ser esquecida.
Em seu último sucesso, “Portela na
Avenida”, Clara canta de forma inesquecível seu amor pela escola de
Madureira.
Talvez o que Clara deixe de mais significativo em seu trabalho, seja a
preocupação em mesclar vários ritmos, sintetizando várias influências e assim,
contribuir para o surgimento de uma autêntica música popular brasileira. Uma
música que funciona como espelho da mistura de culturas que formam o nosso
país. O samba, a música romântica, os pontos de macumba, a fé, a esperança,
tudo está dentro da obra de Clara Nunes. Não só da obra, mas como da própria
Clara.
Eu poderia ficar aqui enumerando as diversas canções de Clara que me
tocam por esse ou aquele motivo. Também poderia continuar falando sobre como
percebo sua obra, mas acho que isso seria redundante. Não podemos limitar Clara
Nunes a isso. Clara era uma “força da natureza” (me perdoem o trocadilho e o
lugar comum). Quem quiser saber sobre a mineira guerreira, filha de Ogum com
Iansã, precisa vê-la e ouvi-la. Só assim pode-se ter um vislumbre do que foi
Clara Nunes e do que sua perda representou para a música.
WALTER DE AZEVEDO
Escritor
Santos, SP.
E vamos encerrar esse post com mais uma música dessa Morena brasileiríssima (e não da Angola), que, onde quer que esteja, está emocionada (como nós) com o texto do Walter!
MORENA DE ANGOLA
Chico Buarque.
Clara Nunes
Morena de Angola Que leva o chocalho Amarrado na canela Será que ela mexe o chocalho Ou chocalho é que mexe com ela?
Será que a morena cochila Escutando o cochicho do chocalho? Será que desperta gingando E já sai chocalhando pro trabalho?
Morena de Angola Que leva o chocalho Amarrado na canela Será que ela mexe o chocalho Ou chocalho é que mexe com ela?
Será que ela tá na cozinha Guisando a galinha à cabidela? Será que esqueceu da galinha E ficou batucando na panela? Será que no meio da mata Na moita, morena ainda chocalha? Será que ela não fica afoita Pra dançar na chama da batalha? Morena de Angola que leva O chocalho amarrado na canela Passando pelo regimento ela faz requebrar a sentinela
Morena de Angola Que leva o chocalho Amarrado na canela Será que ela mexe o chocalho Ou chocalho é que mexe com ela?
Será que quando vai pra cama Morena se esquece dos chocalhos? Será que namora fazendo bochincho Com seus penduricalhos?
Morena de Angola Que leva o chocalho Amarrado na canela Será que ela mexe o chocalho Ou chocalho é que mexe com ela?
Será que ela tá caprichando No peixe que eu trouxe de benguela? Será que tá no remelexo E abandonou meu peixe na tigela? Será que quando fica choca Põe de quarentena o seu chocalho? Será que depois ela bota a canela no nicho do pirralho? Morela de Angola que leva o chocalho amarrado na canela Eu acho que deixei um cacho Do meu coração na catumbela
Morena de Angola Que leva o chocalho Amarrado na canela Será que ela mexe o chocalho Ou chocalho é que mexe com ela?
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela Morena, bichinha danada, minha camarada do MPLA
Morena de Angola Que leva o chocalho Amarrado na canela Será que ela mexe o chocalho Ou chocalho é que mexe com ela?
Olha, eu sei que já está calor suficiente, mas eu faço questão de trazer, nesse inicio de semana, mais um raio de sol. Sim, porque essa minha amiga é extremamente solar.
Conheci Clarissa, esta linda professora pederneirense (SP) em 2012, num encontro bem casual na Sé, e desde então a identificação foi direta, imediata. Ela transcendeu (e muito) o estigma de "amiga do amigo" e conseguimos transpor nossa afinidade para uma relação de amizade sincera, bastante frutífera, mesmo nos poucos e espaçados encontros pessoais (mas que já contabilizam muitos episódios divertidos, como sua despedida de solteira, em 2013).
Mas o que sempre vou admirar na Clarissa é o binômio inteligência-bom senso. Ela não apenas tem conteúdo, mas sabe utilizá-lo eficazmente. Digo isso de tudo: postura política, conhecimento cinematográfico, literário, musical, artístico...ela é exatamente aquela pessoa que tem opinião sobre tudo, com vivência prática mesmo, nada de mera teoria!
Sempre que chamo alguém que se expressa tão bem como ela, fico com receio que meu relato tão parco seja covardemente ofuscado (risos), portanto, vou parando por aqui, e deixarei vocês ao som de Lenine e com esse texto sensível e lindo.
P.s.: Não à toa que meus melhores amigos são extremamente musicais. E a Cla é uma das maiores, sei que ela, como eu, também A-MA confabular sobre músicas que ficariam boas em determinados seriados, dentre outras idiossincrasias musicais. Amo isso!!
Cla, MUITO OBRIGADO pela participação, TE ADORO!!
Minha vida é musical.
Para todo e qualquer momento, tenho uma música. Das melhores às piores. E ouvir as ditas escolhidas sempre me remete aos lugares, pessoas e situações a que as associei. Inevitável. Não consigo imaginar uma vida sem tal preceito. E é maravilhoso.
Um exemplo disso é minha trilha sonora Lenine. Ah, tenho muitas músicas desse fantástico compositor e cantor no meu repertório de memórias! Mas destaco uma, a primeira, a que despertou minha paixão incondicional pela obra - e a partir dela, várias memórias musicais se formaram.
A canção a que me refiro é "Hoje eu quero sair só". O ano era 1999. Eu, uma menininha de 17 anos, unespiana-bixete, deslumbrada com a vida de universitária, morando pela primeira vez longe do conforto da casinha da família interiorana, vivendo em uma república e entrando em contato com muitas novas influências musicais - porque o ambiente de festas "republicanas", com voz e violão, nos ensina tanta coisa nova...
Em uma dessas ocasiões, um cantor de quinta (porque os encontros geralmente aconteciam às quintas-feiras) inseriu em seu repertório recheado de Chico, Toquinho e afins, muito despretensiosamente, um pedacinho de Lenine. Um ébrio presente puxou o coro da letra - porque o carinha que tocava violão só sabia o arranjo. E, sabe-se lá como, eu me toquei que sabia a letra também. Será que já tinha ouvido na rádio? Provável. Mas confesso que não tenho a lembrança exata de ter ouvido pela primeira vez.
Então guardei na memória isso: de fato ouvi pela primeira vez, com direito a tentar cantar e tudo, numa festinha de quinta. E a letra me fez tanto sentido: a confissão de que se precisa de espaço, de que não se quer nada que aprisione, de que se busca leveza. Uma boemia leve, uma solidão leve, uma liberdade leve. Até certo humor. Combinava com o momento de desprendimento. Então, decidi que queria conhecer um pouco mais disso: comprei CDs, devorei todos, encantei-me com várias canções.
Pesquisei sobre Lenine e, quanto mais sabia, mais admirava. (Cheguei até a fazer um trabalho de literatura sobre Lenine e sua obra, e foi a minha única nota 10 em toda a faculdade.) Lenine consegue, especialmente nessa música, criar melodia suave e dançante com letra divertida e repleta e assonâncias e aliterações.
Sou fã desde então, apaixonada.
CLARISSA RAMOS
Professora, formada em Letras
Pederneiras, São Paulo
A Clarissa é a terceira amiga musical que escolhe Lenine, todos com músicas diferentes. Legenda pra foto do cantor: "fazer o quê? sou eu, né?" HOJE EU QUERO SAIR SÓ Lenine Se você quer me seguir, não é seguro Você não quer me trancar num quarto escuro Às vezes parece até que a gente deu um nó Hoje eu quero sair só
Você não vai me acertar à queima-roupa, não Vem cá, me deixa fugir, me beija a boca Às vezes parece até que a gente deu um nó Hoje eu quero sair só Não demora, eu tô de volta
Vai ver se eu tô lá na esquina, devo estar Já deu minha hora e eu não posso ficar A lua me chama, eu tenho que ir pra rua A lua me chama, eu tenho que ir pra rua
Hoje eu quero sair só Hoje eu quero sair
Você não vai me acertar à queima-roupa, não Vem cá, me deixa fugir, me beija a boca Às vezes parece até que a gente deu um nó Hoje eu quero sair só Não demora eu tô de volta
Vai ver se eu tô lá na esquina, devo estar Já deu minha hora e eu não posso ficar A lua me chama, eu tenho que ir pra rua A lua me chama, eu tenho que ir pra rua
Vai ver se eu tô lá na esquina, devo estar Já deu minha hora e eu não posso ficar A lua me chama Eu tenho que ir pra rua A lua me chama Eu tenho que ir pra rua
TH - Grande amiga, grande texto, grande músico e grande música!
Esse calorão está desbaratinando todo mundo, mas pior que ele são seus reclamadores oficiais! risos.
Vamos falar de parada. Para montar a dessa semana, vi os últimos acontecimentos nas rádios oficiais de MPB, e constatei que o ano ainda está estagnado em termos de novidades da música brasileira.
Tirando, é claro, o excesso de sertanejo e swingueira que assolam o país...
Nesse sétimo Toptulho, há novidade no primeiro lugar: Arlindo Cruz assume a liderança, desbancando Zeca Baleiro. Vanessa da Mata e Adriana Calcanhotto reagem e dão arrancadas históricas, além das estreias do (argh) Jota Quest e da fofíssima Anelis Assumpção. Thiago Pethit tem uma lamentável queda de seis posições e Marcelo Jeneci e Pato Fu deixam a parada.
Sem delongas, vamos à ela!
1) ARLINDO CRUZ - Não Penso Mais Em Nada (+4)
2) ZECA BALEIRO - Ai Que Saudade D' Ocê (-1)
3) DIOGO NOGUEIRA & HAMILTON DE HOLANDA - Salamandra (+1)
4) MALTA - Diz Pra Mim (-2)
5) MARTINALIA - Peço a Deus (+3)
6) VANESSA DA MATA - Ninguém É Igual a Ninguém (+5)
7) ZECA BALEIRO E ZÉLIA DUNCAN - Fox Baiano (+3)
8) ADRIANA CALCANHOTTO - E Sendo Amor (+6)
9) PATO FU - Cego Para As Cores (-6)
10) MARIA RITA - Mainha Me Ensinou (-1)
11) LUIZA POSSI - Cacos De Amor (-5)
12) SURICATO - Diante De Qualquer Nariz (+4)
13) THIAGO PETHIT - Quero Ser Seu Cão (-6)
14) NANDO REIS E MARISA MONTE - Pra Quem Não Vem (-2)
15) GABRIEL MOURA E MILTON NASCIMENTO - O Certo (-2)
16) BANDA DO MAR - Mais Ninguém (-1)
17) MILLANE HORA - O Braço Do Sofá (+1)
18) JOTAQUEST - Dentro De Um Abraço (ESTREIA)
19) ANGELA RO RO e JORGE VERCILO - A Capital Do Amor (-2)
20) ANELIS ASSUMPÇÃO - Not Falling (ESTREIA)
Saíram:
MARCELO JENECI - O Melhor Da Vida (2 SEMANAS)
PATO FU - You Have To Outrgrown Rock N' Roll (4 SEMANAS)
E, como é costume de todo Toptulho, eu sempre escolho alguém que está na parada pra comentar. Hoje a eleita foi Vanessa da Mata, essa garota talentosa que fez a cabeça da MPB na década de 2000, alternando momentos subjetivos com outros extremamente comerciais ( o disco "Essa Boneca Tem Manual", de 2004, é o maior deles).
Vanessa está na parada com "Ninguém É Igual a Ninguém", essa deliciosa música que tem sido bastante requisitada nas principais rádios especializadas. Ela subiu 5 posições (trágica subida...rs). A canção pertence ao aclamado disco "Segue O Som", lançado em 2014. E é com ela que fechamos essa edição!
Ninguém é igual à Vanessa!
NINGUÉM É IGUAL A NINGUÉM
Vanessa Da Mata
Por que houve o amor Por alguém que nunca o priorizou Por que houve profundidade Se ele era raso e não sentia o coração
Porque esse amor se disse forte Se quem o teve nunca o quis Nunca se deu de verdade E o evitou quando o mais sentiu
O mundo capital O marketing da aparência superficial A contramão do amor puro O fast-fode, o jato do alívio
Porque esse amor se disse forte Se quem o teve nunca o quis Nunca se deu de verdade E o evitou quando o mais sentiu
Trágica subida Montanha russa Fino corte sem sangue, a desilusão A morte em vida Minha força seja talvez me lembrar Que me levantei Que guiei pelo que sou E ninguém é igual a ninguém
Será que é feliz Não vejo um sorriso verdadeiro por aí Acostumado a mentir Quem mente para todos mente para si
Porque esse amor se disse forte Se quem o teve nunca o quis Nunca se deu de verdade E o evitou quando o mais sentiu
Estamos de volta com sua parada favorita. As músicas da parada do Mpb Brasil foram levadas em conta para concentrar as 20 dessa semana, aqui.
Depois de semanas de hegemonia, finalmente o Malta sai da primeira posição, dando espaço para que a versão de "Ai Que Saudade D' Ocê", do Zeca Baleiro, assumisse o posto. Temos também a luxuosa estreia da parceria entre Angela Rô Rô e Jorge Vercilo (Capital do Amor) e da banda Suricato (Diante de Qualquer Nariz). Houve também o retorno de Vanessa da Mata, com "Ninguém é Igual a Ninguém", uma das músicas que foram mais pedidas em 2014.
Saíram Paula Toller, Capital Inicial e Rafael Castro.
Vamos à lista dessa semana!
1) ZECA BALEIRO - Ai Que Saudade D' Ocê (+1) 2) MALTA - Diz Pra Mim (-1) 3) PATO FU - Cego Para As Cores (=) 4) DIOGO NOGUEIRA & HAMILTON DE HOLANDA - Salamandra (+3) 5) ARLINDO CRUZ - Não Penso Mais Em Nada (=) 6) LUIZA POSSI - Cacos De Amor (-2) 7) THIAGO PETHIT - Quero Ser Seu Cão (-1) 8) MARTINÁLIA - Peço a Deus (+1) 9) MARIA RITA - Mainha Me Ensinou (+6) 10) ZECA BALEIRO E ZÉLIA DUNCAN - Fox Baiano (+3) 11) VANESSA DA MATA - Ninguém É Igual a Ninguém (RETORNA) 12) NANDO REIS E MARISA MONTE - Pra Quem Não Vem (-4) 13) GABRIEL MOURA E MILTON NASCIMENTO - O Certo (+5) 14) ADRIANA CALCANHOTTO - E Sendo Amor (-3) 15) BANDA DO MAR - Mais Ninguém (-5) 16) SURICATO - Diante De Qualquer Nariz (ESTREIA) 17) ANGELA RO RO & JORGE VERCILO - Capital Do Amor (ESTREIA) 18) MILLANE HORA - O Braço Do Sofá (+1) 19) MARCELO JENECI - O Melhor Da Vida (-3) 20) PATO FU - You Have To Outrgrown Rock N' Roll (-3) Saíram: PAULA TOLLER - Calmaí CAPITAL INICIAL - Melhor Que Ontem RAFAEL CASTRO - Pra Vender Mais, Se Falar Mais
E o samba anda em alta em nossa parada. Além de Diogo Nogueira estar subindo cada vez mais, Arlindo Cruz vem se mantendo nas primeiras posições. O Ex-Fundo de Quintal tem sido considerado um dos mais importantes nomes do estilo, e seu desempenho nas rádios e paradas vem ratificando. Merecidíssimo.
Quem disse que o popular não pode ser bom? ;)
Arlindo: o gente boa do samba!
NÃO PENSO EM MAIS NADA
Arlindo Cruz
Não, eu não penso em mais nada Só quero te querer, sem ter hora marcada Eu só penso em você Que ascendeu a minha vida, refloriu meu jardim Vejo o mundo sorrindo de novo pra mim É...se já tive tristeza, nem consigo lembrar Porque a sua beleza só me faz suspirar Lá vou delirando, to no mundo da lua Eu me pego cantando no meio da rua
É... Que na verdade eu ando tão apaixonado Sim, você desmanda e manda no meu coração Então vem, que o meu desejo é ficar só do seu lado Pra sempre, pra sempre É... Que na verdade eu ando tão apaixonado Sim, você desmanda e manda no meu coração Então vem, que o meu desejo é ficar só do seu lado Pra sempre
É...se já tive tristeza, nem consigo lembrar Porque a sua beleza só me faz suspirar Lá vou delirando to no mundo da lua Eu me pego cantando no meio da rua É... Que na verdade eu ando tão apaixonado Sim, você desmanda e manda no meu coração Então vem, que o meu desejo é só ficar do seu lado Pra sempre, pra sempre (sempre sempre sempre)
Um mito - no sentido místico da palavra, merece permanecer vivo na memória das pessoas.
Vivemos num momento de explosão da fórmula dramaturgia + homenagens a ídolos falecidos, vide os recentes trabalhos nesse sentido (Tim Maia, Raul Seixas, Cássia Eller no fim desse mês).
Em 2014, reestreou no Rio de Janeiro a peça musical magistral que tratou de manter acesa a luz que tanto nos clareou nos anos 60, 70 e 80. "Deixa Clarear" foi milimetricamente pensada para emocionar, para trazer de volta a alegria estampada no sorrisão da música brasileira!
Ironicamente, outra Clara está à frente do projeto, como idealizadora e atriz: Clara Santhana. Fã ardorosa da nossa artista do mês, ela se entregou de corpo e alma, num espetáculo intenso e vigoroso, tal qual era a homenageada!
Com direção de Isaac Bernat e texto de Márcia Zanelatto, o musical já passou pelo Teatro Café Pequeno e pelo Teatro das Artes. No repertório, composições de João Nogueira, Chico Buarque, Candeia, Paulinho da Viola, Paulo Cesar Pinheiro, entre outros.
Através do universo musical, "Deixa Clarear" apresentou temas como o amor, a esperança e a luta pela liberdade. As músicas e as letras pontuaram com precisão as cenas dramatúrgicas da obra!
Eu sempre achei que a vida de Clara merecia uma minissérie bem marcante. Já apontaram (bem verdade, os sites de fofoca sem credibilidade nenhuma) "Vanessa da Mata" como possível intérprete (será que convenceria atuando?).
Rumores ainda dizem que, nesse primeiro semestre de 2015, haverá outro musical em homenagem de Clara, dessa vez com direção e roteiro de Francisco Nery e interpretação de Vanessa Gerbelli (amei a escolha!). Será que vai mesmo rolar? Cruzemos os dedos! :)
A atriz Clara Santhana (à esquerda) já interpretou nossa artista do mês. Boatos dizem que as Vanessas (Gerbelli e Da Mata) seriam as próximas a transmitir dramaturgicamente a atmosfera de luz de Clara Nunes. Será?
Vamos encerrar essa matéria de homenagem com uma brincadeira feita por Fernando Torquatto e a atriz Letícia Sabatella, que também fez as vezes de Clara nesse vídeo :D
O ano começa e já de cara temos o primeiro TopTulho de 2015. Para quem não sabe, é nossa parada semanal, com os sucessos do mundo da MPB que estão nas primeiras posições de diversas paradas brasileiras. O compêndio de todas elas você vê aqui, além das grandes novidades.
E, para começar 2015 com novidade boa, desde já anuncio: em vez de 10, a parada agora comporta 20 músicas, se tornando, assim, o nosso Top 20!
O Malta teve um desempenho muito bom em 2014 e segue na liderança nessa primeira parada de 2015. Houve muitas alterações nas posições das músicas, o que deu um bom dinamismo à seção. Muitas novidades: Marcelo Jeneci, Rafael Castro, Gabriel Moura e Milton Nascimento, Diogo Nogueira e Hamilton de Holanda, Martinália, Arlindo Cruz...é, 2015 promete ser bem diversificado!
Sem delongas, vamos à parada!
1) MALTA - Diz Pra Mim (=) 2) ZECA BALEIRO - Ai Que Saudade D' Ocê (+1) 3) PATO FU - Cego Para As Cores (-1) 4) LUIZA POSSI - Cacos De Amor (+2) 5) ARLINDO CRUZ - Não Penso Em Mais Nada (ESTREIA) 6) THIAGO PETHIT - Quero Ser Seu Cão (-1) 7) DIOGO NOGUEIRA E HAMILTON DE HOLANDA - Salamandra (ESTREIA) 8) NANDO REIS E MARISA MONTE - Pra Quem Não Vem (ESTREIA) 9) MARTINÁLIA - Peço a Deus (ESTREIA) 10) BANDA DO MAR - Mais Ninguém (-3) 11) ADRIANA CALCANHOTTO - ...E Sendo Amor (RETORNA) 12) PAULA TOLLER - Calmaí (RETORNA) 13) ZECA BALEIRO E ZÉLIA DUNCAN - Fox Baiano (-5) 14) CAPITAL INICIAL - Melhor Que Ontem (RETORNA) 15) MARIA RITA - Mainha Me Ensinou (RETORNA) 16) MARCELO JENECI - O Melhor Da Vida (ESTREIA) 17) PATO FU - You Have To Outrgrown Rock N' Roll (-8) 18) GABRIEL MOURA E MILTON NASCIMENTO - O Certo (ESTREIA) 19) MILLANE HORA - O Braço Do Sofá (-9) 20) RAFAEL CASTRO - Pra Vender Mais, Se Falar Mais (ESTREIA)
Diogo Nogueira, príncipe do samba ganha mais respeitabilidade esse ano graças a parceria luxuosa com o mestre bandoleiro Hamilton de Holanda, gerando, assim, mais uma exímia representante desse ritmo tão brasileiro! A música é maravilhosa e merecia mesmo estar dentre as mais pedidas do Brasil!
Como estão? Prontos para mais um ano musical, com o melhor da música brasileira?
Eu estou bem, e entrei em 2015 com a corda toda, louco pra postar em nossa revista musical on line!
Muitas surpresas programadas para vocês aqui no EnTHulho Musical, e a primeira delas já aparece aqui: o retorno da seção ARTISTA DO MÊS!
Para quem não lembra, desde 2010 eu elegia um artista nacional para ter uma série de matérias ao longo de determinado mês. Já foram tantos...Chico Buarque, Adriana Calcanhotto, Alceu Valença, Raul Seixas, Ivan Lins, Marina Lima, Milton Nascimento...só para citar alguns.
A última foi a Elis Regina, justamente naquele janeiro de 2012, quando fazia 30 anos de sua morte. A matéria está dentre as mais lidas do blogue, como vocês podem constatar na barra lateral. De lá pra cá, houve o hiato do EnTHulho e, quando efetivamente voltou, em Outubro de 2014, recomeçou sem a seção dos artistas do mês, que volta com força total a partir de agora!
E, como estamos numa vibe de bons fluidos, bons pensamentos e positividade, que tal embarcarmos com os orixás do bem e esse sorrisão inconfundível da MPB? Evidente que falo agora de Clara Nunes!!
Uma verdadeira entidade da música brasileira, minha relação com Clara sempre foi de admiração. Desde pequeno a via nos discos da coleção de meu avô, com aquele rosto familiar, aquela simpatia genuína que faz com que pensemos que é uma pessoa conhecida, de nossas relações. E com o samba de qualidade como principal artifício,
Clara Nunes sempre estava bela. Fazia questão de sempre estar arrumada, vibrante, florida (amava as flores e os penduricalhos que a enfeitavam) e sorridente (mesmo quando cantava músicas mais tristes). Retrato fidelíssimo da mulher brasileira. A mineira sempre esteve intimamente conectada ao Rio de Janeiro, e essa relação era mútua: o RJ sempre a acolheu de braços bem abertos!
Vivenciei, porém, um lado negativo em relação à cantora, e se deu por causa do (sempre) preconceito de pessoas mais religiosas, até porque Clara era declaradamente adepta da cultura africana, o que, na mente rasa de pessoas limitadas pela religião, era algo mal visto e sombrio. Muita má vontade com uma cantora que irradiou sua energia por tantos lugares, em interpretações fantásticas e eternizadas.
Para mim, várias alcunhas (dadas por suas músicas e pelos títulos de seus álbuns) lhe fazem jus perfeitamente: SER DE LUZ, CLARIDADE, BELEZA QUE CANTA, GUERREIRA, MORENA DE ANGOLA, FORÇA DA NATUREZA, SABIÁ, ESPERANÇA, BRASILEIRA MESTIÇA e TANTAS MAIS!
Lamento DEMAIS que este SER DE LUZ tenha nos deixado tão cedo, e ainda mais pelo motivo que isso se deu...
Mas, nada de negatividade. Hoje tem "CLARIDADE" aqui no blogue e, como sempre, espero que vocês SE DIVIRTAM!
Reunião de momentos Clareanos.
BIOGRAFIA RESUMIDA (Pelo Dicionário Cravo Albin da MPB)
Cantora. Compositora. Nasceu em Cedro (Distrito de Paraopeba), hoje Caetanópolis, onde viveu até aos 16 anos. Era a caçula dos sete filhos do casal Manuel Ferreira de Araújo e Amélia Gonçalves Nunes. O pai tinha o ofício de serrador (marceneiro) na fábrica de tecidos Cedro & Cachoeira, e era conhecido como Mané Serrador, violeiro e participante das festas de Folia de Reis.
Em 1944, ficou órfã de pai e pouco depois, órfã de mãe, sendo criada por sua irmã Dindinha (Maria Gonçalves) e o irmão José, conhecido como Zé Chilau. Participou de aulas de catecismo na matriz da Cruzada Eucarística, onde cantava ladainhas em latim no coro da igreja. Aos 14 anos ingressou como tecelã na fábrica Cedro & Cachoeira.
Dois anos depois, mudou-se para Belo Horizonte, indo morar com a irmã Vicentina e o irmão Joaquim. Trabalhou como tecelã, fez o curso normal à noite e, no final de semana, participava dos ensaios do Coral Renascença, na igreja do bairro onde morava. Cresceu ouvindo Carmem Costa, Ângela Maria e, principalmente, segundo as suas próprias palavras, Elizeth Cardoso e Dalva de Oliveira, das quais sempre teve muita influência, mantendo, no entanto, estilo próprio. Em 1966 interpretava "Amor quando é amor" (Niquinho e Othon Russo) no filme "Na onda do iê-iê-iê", do diretor Aurélio Teixeira, o que marcaria o início de seu relacionamento com à Jovem Guarda, pois o filme era recheado de números musicais com o pessoal do movimento, destacando-se o cantor Paulo Sérgio, Ed Lincoln, Wanderley Cardoso, Os Vips, Sílvio César, Rosemary, The Fevers, Renato e Seus Blue Caps.
No ano seguinte a cantora voltou às telas do cinema, desta vez interpretando a marcha "Carnaval na onda", de José Messias, no filme "Carnaval Barra Limpa", de J.B Tanko. No filme participaram João Roberto Kelly, Emilinha Borba, Ângela Maria, Altemar Dutra, Marlene e Dircinha Batista. No ano de 1968 fez a sua última atuação em cinema, quando interpretou "Não consigo te esquecer", de Elizabeth, no filme "Jovens Pra Frente", de Alcino Diniz, estrelado por Rosemary, Jair Rodrigues e Oscarito. Após essa gravação parou de flertar com o movimento da Jovem Guarda e passou a cantar samba por influência de Ataulpho Alves e Adelzon Alves. Ao que se sabe compôs uma única música em parceria com Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro "A flor da pele", que integrou o LP "As forças da natureza". Pesquisou a música popular brasileira, seus ritmos e seu folclore.
Viajou várias vezes para a África, representando o Brasil. Conhecedora das danças e das tradições afro-brasileiras, converteu-se ao candomblé. Foi uma das cantoras que mais gravou os compositores da Portela, escola para a qual torcia. Fundou com o marido, o poeta e letrista Paulo César Pinheiro, o Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro. Faleceu vítima de complicações operatórias decorrentes de uma operação de varizes. Em 1988, Maria Gonçalves, irmã de Clara Nunes, reuniu em Caetanópolis várias peças do vestuário da cantora, assim como adereços e objetos pessoais e criou uma sala que abriga o acervo de sua obra em um espaço físico com cerca de 120 metros, anexado à creche que leva o seu nome.
Em 2004 a Prefeitura de Caetanópolis inaugurou o Instituto Clara Nunes (anexo à Creche Clara Nunes), ambos coordenados por Maria Gonçalves, irmã velha da que passou a criar a cantora quando esta tinha apenas quatro anos. Empresas como Vallourec & Mannesmann, entre outras, pretende dar apoio à criação de um futuro "Museu Clara Nunes", em memória de sua filha mais ilustre. O museu será no antigo cinema Clube Cedrense, que pertencia à fábrica têxtil Cedro-Cachoeira, no qual a cantora se apresentou pela primeira vez. Ao acervo, coordenado pelo sobrinho da cantora, o músico Márcio Guima, foram incorporadas novas peças. No ano de 2012, em comemoração ao aniversário de 70 anos, a cantora ganhou um memorial em sua cidade Caetanópolis, em Minas Gerais.
Com curadoria de sua irmã mais velha Maria Gonçalves (a Mariquita), o acervo do Memorial Clara Nunes conta com 6.100 peças pessoais e artísticas da artista, cedidas por vários amigos, inclusive, o ex-marido Paulo César Pinheiro. No Rio de Janeiro, neste mesmo ano, foi inaugurado o Mergulhão Clara Nunes, passagem subterrânea que liga os bairros de Madureira e Campinho, na Zona Norte da cidade. Ainda como parte das comemorações dos 70 anos, seu biógrafo, Vagner Fernandes, relançou a segunda edição, revista e aumentada, do livro "Clara Nunes - A Guerreira da Utopia".
FALECIMENTO
Em 5 de março de 1983, Clara Nunes se submeteu a uma aparentemente simples cirurgia de varizes, mas a cantora acabou tendo uma reação alérgica a um componente do anestésico. Clara sofreu uma parada cardíaca e permaneceu durante 28 dias internada na UTI da Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro.
Neste ínterim, a cantora foi vítima de uma série de especulações que circulavam nos meios de comunicação sobre sua internação, entre elas inseminação artificial, aborto, tentativa de suicídio ou espancamento por seu marido Paulo César Pinheiro.
DISCOGRAFIA
1966 - A Voz Adorável de Clara Nunes 1968 - Você Passa, Eu Acho Graça 1969 - A Beleza Que Canta 1971 - Clara Nunes (Odeon) 158.710 cópias vendidas 1972 - Clara Clarice Clara (Odeon) 164.542 cópias vendidas 1973 - Clara Nunes (Odeon) 250.120 cópias vendidas 1974 - Brasileiro Profissão Esperança (Odeon) 219.010 cópias vendidas 1974 - Alvorecer (Odeon) 784.028 cópias vendidas 1975 - Claridade (Odeon) 1.125.410 cópias vendidas 1976 - Canto das Três Raças (EMI-Odeon) 1.285.058 cópias vendidas 1977 - As Forças da Natureza (EMI-Odeon) 809.047 cópias vendidas 1978 - Guerreira (EMI-Odeon) 1.011.005 cópias vendidas 1979 - Esperança (EMI-Odeon) 900.485 cópias vendidas 1980 - Brasil Mestiço (EMI-Odeon) 2.002.450 cópias vendidas 1981 - Clara (EMI-Odeon) 811.587 cópias vendidas 1982 - Nação (EMI-Odeon) 1.254.998 cópias vendidas
ABAIXO,O DEPOIMENTO EMOCIONADO DE JOÃO NOGUEIRA, SOBRE NOSSA MUSA
NÃO PERCA!!
Ao longo do mês de Janeiro, o EnTHulho continuará prestigiando essa grande artista, com matérias especiais, e, como sempre, MUITA MÚSICA!!
Clara Nunes em uma das fotos que estão no livro 'Guerreira da Utopia'
SER DE LUZ
João Nogueira, Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte
Interpretação: Clara Nunes
Um dia Um ser de luz nasceu Numa cidade do interior E o menino Deus lhe abençoou De manto branco ao se batizar Se transformou num sabiá Dona dos versos de um trovador E a rainha do seu lugar Sua voz então Ao se espalhar Corria chão Cruzava o mar Levada pelo ar Onde chegava Espantava a dor Com a força do seu cantar
Mas aconteceu um dia Foi que o menino Deus chamou E ela se foi pra cantar Para além do luar Onde moram as estrelas A gente fica a lembrar Vendo o céu clarear Na esperança de Vê-la, sabiá
Sabiá Que falta faz tua alegria Sem você, meu canto agora é só Melancolia Canta, meu sabiá, voa, meu sabiá Adeus, meu sabiá, até um dia